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Virginia Paranhos Jardim

Os invisíveis

Tratar bem quem nos serve virou exceção | 23.04.12 - 15:33

Há um tempo atrás, um colega de trabalho elogiou o tratamento educado que eu havia dispensado ao garçom que servia nosso grupo. Conversamos um pouco sobre isso e eu segui pensando no assunto. Enquanto isso deveria ser a regra, parece ter se tornado exceção.
 
Na ocasião, disse-lhe, ainda, que, em alguns momentos, sinto-me até meio desconfortável sendo servida por alguém enquanto me divirto. Olho para o lado e vejo um ser humano correndo, suado e esbaforido, muitas vezes ouvindo reclamações, transitando a noite toda no meio de gente que, em sua maioria, ignora completamente sua existência (desde que o copo dessa gente esteja sempre cheio, é claro).
 
Costumo agradecer a quem me serve, embora, faço aqui mea-culpa, muitas vezes, distraída, deixo de dizer um simples “por favor” ou um “muito obrigada”. O fato de ele ter sido pago para me servir não significa que não mereça tal delicadeza como qualquer outro ser humano que tenha me prestado um favor.
 
Acho, inclusive, que muito se pode conhecer de alguém a partir de sua maneira de tratar quem o serve.
 
No caso de um garçom em um restaurante, por exemplo, não basta ser bonzinho, bater no ombro e fingir intimidade, se se almeja apenas ser bem servido. Tal deferência certamente desaparecer-se-á assim que a conta for paga. Falo de respeito. Um respeito espontâneo que surge quando se possui a exata noção de que ninguém, na verdade, é melhor do que ninguém.
 
Isso me fez lembrar de uma reportagem que li há alguns anos, cujo escritor, à época estudante de psicologia da faculdade de São Paulo, relatava uma experiência acadêmica por que tinha passado: devidamente uniformizado, ele teria que se misturar aos responsáveis pela limpeza do campus.
 
E lá foi ele. Colocava aos mãos todos os dias no lixo dos outros. Quando não tinha que enfrentar ratos e baratas (experiência muito comum, ele dizia).
 
Recordo-me de seu relato de ter sido, por diversas vezes, completamente ignorado pelos que ali circulavam, dentre eles, acredite, seu orientador de monografia, com quem mantinha contato diário! São, como ele intitulou, as chamadas "profissões invisíveis". Ninguém dispensava-lhes um bom dia, ou mesmo um simples sorriso.
 
Não sei você, mas eu acho isso muito triste. Não bastasse a condição sócio-econômica, o desprezo da sociedade.
 
Talvez se nos lembrarmos de que, ao final, a sete palmos da terra, tornaremo-nos todos, sem exceção, invisíveis, passaremos a enxergar, enquanto há tempo, o que muitas vezes não nos preocupamos, quiçá nem queremos, ver.

 
Virginia Paranhos Jardim é formada em Direito e servidora do Ministério Público Federal em Goiás

Comentários

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  • 02.05.2012 12:55 Valtan Furtado

    Respeito e consideração ao próximo é uma das maiores lições que os pais podem dar aos filhos.

  • 27.04.2012 07:55 Cynthia Paranhos

    Excelente texto! E muito bom o tema também. Eu, também, sempre procuro pedir por favor e agradecer a qualquer pessoa que me presta um serviço ou que me faz um favor (garçons, vendedores, atendentes, ...). Inclusive, antes de falar qualquer coisa, primeiro cumprimento a pessoa, com um bom dia, boa tarde ou boa noite. Bizi, adorei, aliás como tudo o que você escreve!

  • 26.04.2012 09:37 Rafael Corrêa

    Parabéns pelo brilhante artigo. Texto que nos remete a uma profunda reflexão de que tipo de ser humano (ou não) eu sou.

  • 26.04.2012 01:09 Guilherme

    Muito legal o artigo, querida. Parabéns pelo tema e como abordou o conteúdo! Bjo do mano

  • 23.04.2012 08:17 ELIZABETE SILVA

    que lindo Virginia,,,,adorei.....

  • 23.04.2012 06:26 RICARDO MACHADO PARANHOS

    Realmente, prima a maioria das pessoas não tem a educação e respeito pelas pessoas que trabalham servindo as outras em estabelecimentos comerciais, seja bares, boates e restaurantes, etc. Isto é uma questão cultural e de berço. Concordo com seu artigo. Um abraço.....

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