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Djalma Araújo

#VetaDilma! O Código Não-Florestal

Esperança reside no veto presidencial | 07.05.12 - 19:16
“Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta mata verde, céu azul, a mais imensa floresta no fundo d’água as Iaras, caboclo lendas e mágoas e os rios puxando as águas.”
 
Procurei hoje meu agente de viagens. Quero avistar pela última vez as ribanceiras do rio Amazonas, antes que ele seja tomado de vez por monoculturas e pelo gado. A aprovação do novo Código Não-Florestal pela Câmara, foi um tiro à queima roupa na biodiversidade do país. É difícil acreditar que os deputados federais caminham na contramão da história tão preocupados com os interesses escusos dos ruralistas.
 
O Código Florestal existe para dar as diretrizes da proteção do meio ambiente brasileiro. Acontece que as florestas são bens comuns a todos nós, elas não pertencem apenas ao “Sr. João de Sobrenome Importante Grande Fazendeiro”, nem ao “Sr. José Sou Dono de Um Imenso Frigorífico”. As florestas, nascentes, mangues, áreas de reserva legal são patrimônios da nação brasileira e não redutos de falcatruas e interesses. A lógica do sistema no Brasil está bastante equivocada: vivemos num país que os prejuízos da elite estão em constante divisão, enquanto seus lucros são cada vez mais privados.
 
Este é o Código dos Ruralistas, dos corta árvores, dos heróis da motosserra. E a bancada de Deputados Goianos foi quase unânime em aprová-lo, apenas dois deputados (Marina Santana e Rubens Otoni) foram contra a lei que escolhe o desmatamento como vedete da década. Vivemos num país de absurdos: hoje, 80% das terras brasileiras estão nas mãos de menos de 20% de proprietários. E foi essa pequena parcela de fazendeiros quem escolheu as regras que modificaram a paisagem de toda uma nação.
 
O retrocesso do Código apresentado desmoraliza o país diante do resto do mundo. Com que direito de fala iremos sediar a Rio +20? Como poderemos propor diretrizes para a sustentabilidade do mundo se nós estamos cada vez mais insustentáveis? A solução é nos calar e observar, enquanto todos os outros nos enxovalham por, mesmo 512 anos após o descobrimento, ainda estarmos tão vendidos a elites e a monocultura e tão desligados do nosso patrimônio natural.
 
“Toda mata tem caipora para a mata vigiar  veio caipora de fora para a mata definhar e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira”
 
Haverá a anistia para os fãs do desmatamento. Desmate aqui e ganhe um brinde. Estarão anistiados os desmataram ilegalmente na última década. O que em sua essência revela numa bonificação para quem desmatou e numa punição para quem respeitou os códigos anteriores. Como pode ser lógico um país que presenteia quem não respeita a lei? Jogaremos o estado democrático de direito no lixo. Afinal, para que leis, se elas não precisam ser seguidas?

E como tudo que é bom pode ficar melhor (se você for um ruralista, é claro), a nova lei incentivará novos desmatamentos. Caberá aos Estados definir qual porcentagem das áreas desmatadas deverão ter sua cobertura vegetal recomposta e quais atividades agropecuárias estarão liberadas para exploração nas APPs (Área de Preservação Permanente).   Algo bastante lucrativo para as lideranças políticas locais. Pense rápido: o Maranhão esta sob o comando da família Sarney, parte do Maranhão é coberto pela floresta Amazônica, a família Sarney é proprietária de grandes fazendas na região. Fácil como roubar doce de criança. E o Maranhão é apenas 1, dos 26 estados brasileiros. Os estados ficarão, como sempre, nas mãos de grandes proprietários.
 
“Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar: se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar eu garanto, meu amigo, como o perigo não tinha ficado lá”
 
Começa agora uma corrida desenfreada: quem desmatar primeiro ganha. Um estudo divulgado pela Universidade de Brasília estimou que a nova legislação poderá aumentar em 47% o desmatamento no país até 2020. Para os que sentam na bancada ruralista, o argumento é que os códigos antigos engessavam a produção do agronegócio brasileiro. No país para a criação de cada cabeça de boi é usado um hectare de terra, em países europeus essa média é de 9 bois por hectare. Porque será que os bois brasileiros são tão espaçosos? O ponto crucial aqui não é a luta por mais espaço e sim por um maior desenvolvimento científico que possibilite o aumento na produção sem que aconteça um aumento no desmatamento.

 Como os representantes do povo puderam virar as costas para a opinião do povo e ouvir apenas o lobby ruralista? Uma pesquisa da Datafolha revelou que 79 % da população era contrária ao perdão das multas para quem desmatou. Escancarou-se mais ainda a aliança entre alguns políticos e os ruralistas. Reforçou-se a idéia de que no Brasil governa-se para poucos.

A esperança agora reside no veto presidencial. Todos os que tentam proteger o que resta das nossas matas e rios aguardam confiantes o veto de Dilma. Acredito que pela trajetória da presidenta ela vetará, mandando as favas os defensores do Código Não-Florestal.
 
“Aqui termina essa história para gente de valor prá gente que tem memória, muita crença, muito amor prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta era uma vez uma floresta na Linha do Equador...”
 
* Os versos distribuídos pelo texto são da canção Saga da Amazônia, de autoria de Vital Farias

Vereador Djalma Araújo é 1º Secretário da Câmara Municipal de Goiânia                                 
@djalmaaraujopt                                                                                          
vereadordjalmaaraujo/facebook

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