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Chyntia Barcellos

Homofobia não é piada

Foram 338 assassinatos em 2012 | 22.01.13 - 10:20

Goiânia - O saldo deixado em 2012 relativo aos homicídios homofóbicos foi negativo. Houve um aumento de quase 27% de crimes de ódio contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) em comparação com o ano anterior. Foram 338 assassinatos, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB) que mapeia as informações advindas da imprensa. 
 
A Secretaria de Direitos Humanos (SDH), da Presidência da República, também vem desde 2011, por meio do Disque 100, contabilizando a homofobia no país. Segundo o relatório de 2011, quase cinco pessoas sofrem um tipo de agressão dessa natureza por dia. Mesmo sendo dados estarrecedores, nem o GGB, nem a SDH conseguem quantificar na totalidade as violências ocorridas contra LGBTs no país.
 
Diante desses fatos, me ocorre que nada mudou e o triste cenário brasileiro vem se agravando. Portanto, falar sobre homofobia seria cair na mesmice e dizer mais do mesmo? Recentemente li no artigo Meu filho é gay e estou bem!, da jornalista Nereida Vergara, que “a verdade quando dita em voz alta, nos liberta”.
 
É justamente nesse caminho que reconheço durante os últimos dois anos algumas palavras e expressões que vêm cutucando os nossos ouvidos. Algumas delas: liberdade de expressão versus religião, criminalização da homofobia, cura gay, politicamente (in) correto e ditadura gay.
 
Hoje no Brasil a homofobia se reveste de uma nova tendência e concepção. O preconceito é dirigido não somente aos homossexuais, mas a qualquer orientação que não seja a heterossexual. Desta forma, conclui-se que é um fenômeno social de grande estranhamento na população como um todo, tendo maior visibilidade a parte que faz questão de replicar o preconceito.
 
Para demonstrar o que realmente está acontecendo me recuso a escrever, mas apresento as imagens públicas e notórias que justificam esse fenômeno. Frise-se, os comentários foram veiculados tanto nas redes sociais dos personagens abaixo nominados (http://www.facebook.com/plataoeribeiro e https://twitter.com/DaniloGentili, respectivamente) acessíveis a todos, quanto em vários sites de notícias.
 
A primeira é de um juiz aposentado da cidade de Anápolis-GO que não conteve seus comentários diante de notícias sobre a possibilidade do casamento civil entre pessoas homossexuais:




A outra é do humorista Danilo Gentili, diante dos dados do GGB sobre homicídios homofóbicos ora citados:
 

Reprodução/Twiter @DaniloGentile publicado em http://blogay.blogfolha.uol.com.br/2013/01/11/o-comediante-a-cartunista-e-os-assassinatos/
 
Dois fatos isolados que violam direitos e transparecem uma tremenda falta de moralidade, respeito e dignidade, não só para com as pessoas homossexuais, mas também para a sociedade em geral. Infelizmente, todos nós perdemos quando nos deparamos com essa lamentável situação.
 
Em nosso país, no que diz respeito à sexualidade, há um hiato entre o conservadorismo de fachada e a liberalidade aparente, o que causa dor e preconceito. João W. Nery, transexual masculino, autor do livro Viagem Solitária, diz como é ser homo, bi, travesti ou trans, por meio de um diálogo que faz com um amigo cego: “Embora fôssemos representantes de minorias, a sua deficiência inspirava compreensão, a minha não”. Isso tudo porque paira pelo senso comum a inverdade de que a pessoa “escolheu” essa opção de vida.
 
Por falar nas minorias, não podemos esquecer e camuflar a verdade. A maioria falante e exuberante não pode e não deve decidir pelos direitos das minorias. Se pudesse, os negros nos Estados Unidos jamais teriam alcançado a cidadania plena. A exceção a essa premissa vem de lá, da reeleição de Obama, onde em dois Estados americanos, pela primeira vez no mundo, o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo foi aceito. Ao contrário do que acontece na França, pois como dita a regra, a massa não quer “dar o direito” ao matrimonio gay, mas o governo sim.
 
Quando me perguntam sobre a defesa dos direitos de pessoas LGBTs, respondo: sou simpatizante sim, do respeito, da igualdade e do direito de cada um ser cidadão em toda exatidão desse termo. Ouço muita gente boa por aí dizer que é militante de direitos humanos há cinco, 10, 15 anos, que luta pela defesa de minorias, quaisquer que sejam e daqui a pouco leio no jornal que o mesmo faz parte do coro a favor do Projeto de Decreto Legislativo 234/2011, que pretende autorizar psicólogos a curar a homossexualidade.
 
Sinto muito, mas neste caso tenho que concordar com grande advogado das minorias Mahatma Gandhi: “você tem que ser o espelho da mudança que está propondo. Se eu quero mudar o mundo, tenho que começar por mim.” 
 
 
Chyntia Barcellos é presidente da Comissão de Direito Homoafetivo da OAB-GO
Email: chyntia@chyntiabarcellos.com.br

Comentários

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  • 23.01.2013 08:22 Rita de Cássia de Araújo

    ÓTIMA REDAÇÃO DOUTORA CHYNTIA INFELISMENTE A CADA DIA OS CRIMES HOMOFÓBICOS VEM AUMENTANDO SIM ,COMO SABEM SOU A ATUAL PRESIDENTE DO GRUPO LÉSBICO DE GOIÁS E ESTOU SEMPRE ATENTA AO CRIME DE HOMOFOBIA,MAS INFORMO TAMBÉM QUE O NUMERO E PELO MENOS 2 VEZES MAIOR DO QUE O DIVULGADO É QUE NA MAIORIA DAS VEZES,AS PRÓPRIAS AUTORIDADES DÃO OUTRAS JUSTIFICATIVAS AOS CRIMES NÃO OS RELACIONANDO A HOMOFOBIA,E INFELISMENTE EM NOSSO PAIS EXISTEM MUITOS SIMPTIZANTES DE TAIS CRIMINOSOS EXEMPLO ESSE SENHOR PLATÃO UMA REDE DE RELIGIOSOS QUE PREGAM NÃO SÓ A HOMOFOBIA COMO TAMBEM VARIOS OUTROS TIPOS DE DESCRIMINÇÃO E CONTINUAM IMPUNES ,MAS É SEMPRE BOM SABER QUE CONTAMOS COM PESSOAS EXCLARECIDAS E DE BOM SENSO COMO A DOUTORA E SEUSAMIGOS DA O.A.B SEM MAIS PAR O MOMENTO ABRAÇOS A TODOS

  • 22.01.2013 16:44 HELENA CARRAMASCHI

    Excelente matéria Doutora aliás, como sempre brilhante. Tô contigo e nao abro.

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