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Leonardo Santos

Era das redes sociais

O crítico musical na sua sala | 05.02.13 - 16:06

Goiânia - Na era pré-facebook, se você quisesse ler críticas do tipo “esse vocalista não é nem sombra do que ele era no passado”, “banda decepciona em seu segundo disco”, “o rock não é mais o mesmo” tinha que comprar uma revista.

O crítico ou resenhista era aquele ser “nojentinho” que pautado em seu preconceito e arrogância musical sequer analisava a obra, e muitas vezes fazia a pauta parecer um engano: o editor deve ter mandado alguém de outro estilo cobrir. Só pode! Esse cara odeia a banda da qual está falando.
 
Hoje, graças ao twitter e ao facebook, esse cara (a figura, não o profissional) foi parar dentro do seu ciclo social; pode ser um conhecido, um colega de trabalho, um amigo.

É como se você saísse do banheiro enrolado numa toalha e o sujeito tivesse sentado na sua poltrona, chamando o som que você deixou tocando de “lixo”, “inferior”, bom mesmo é “isso” e “aquilo”. Muitas pessoas andam tendo a convicção de que seu estilo musical é “superior” ao dos outros. 
 
Traçam uma hierarquia nos estilos e colocam o seu no topo. Como se fossem “jesuítas musicais”, juram que vão catequizar os ouvintes de outros estilos transformando-os em seres inteligentes, assim que convertidos. Esquecem-se que gosto é gosto. Gosto por que gosto, nada mais. A preferência musical virou uma espécie de rixa de gangue onde as redes sociais são o campo de batalha.
 
No mês de janeiro, vi três acontecimentos polemizarem muito nesse sentido: 
 
1) A nova música do The Strokes que foi malhada nas redes sociais como technobrega.
   
2) A declaração polêmica do Jack Endino, produtor do Nirvana sobre bandas brasileiras que cantam em inglês:
 
"Por que vocês cantam em inglês? Eu nunca consigo entender nada! Qual o propósito disso?"
 
3) E os posts ofensivos de Ed Motta para Ganjaman via facebook:
 
“DJ Daniel Ganjaman, a eminência parda por trás de boa parte da submúsica modernex de hoje..."
 
“Ganjaboy, quando alguém dessa turma de que você faz parte realizar algo parecido com isso, pode deixar que eu vou reconhecer e vou sinalizar: 'Agora, sim, agora o Tio Ed gostou' (risos)"
 
A foto de todo da página de Ed Motta no seu facebook, estampa sua enorme coleção de vinis. Algo que poderia ser analisado como “Tenho discos raros de jazz que me validam a agredir todo mundo musicalmente pelas redes. 
 
Afinal, meu senso musical é superior ao seu.” Um raciocínio elitista, que se confirmado, lembra muito o de vários tiranos da história. Eram sempre vaidosos, colecionadores e ostentadores. Hitler, por exemplo, tinha várias coleções.

Quando vejo amigos colecionando discos de vinil em plena era digital, começo a me preocupar se ele está fazendo por um fetiche pessoal mesmo, ou num exercício de colocar-se frente à modernidade musical, à tecnologia e caindo nessa armadilha de se sentir superior a quem não ouve suas músicas em vinil, por exemplo.
 
Especialmente, por que a maioria das pessoas que fazem isso, executam seus vinis em equipamentos e alto-falantes tão ruins, que um mp3 de 320kbps num sound system de qualidade acaba logo com a justificativa de que o som do vinil é melhor.
 
Estamos na era das “playlists”. Cada pessoa escolhe o que quer ouvir conforme o momento, estado emocional, hora do dia, prática de esportes, etc...
 
Quando você escolher uma música e esse crítico musical aparecer querendo bancar uma de superior, por favor, dê-lhe uma boa lapada de toalha molhada. Por mim.
 
Leonardo Santos é Dj, Produtor Musical, Redator, Diretor e Professor Universitário. 

Comentários

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  • 14.02.2013 16:32 Kesley Rodrigues dos Santos

    Falou tudo.

  • 13.02.2013 16:02 SALOMÃO SALAZAR

    BOA MESTRE. QUEM ROTULA DEMAIS NÃO SABE O QUANTO PERDE COM ISSO. ATROFIA A MASSA CINZENTA E CRIA MUROS POR VOLTA DAS IDEIAS QUE TORNAM CONSERVADORAS AO EXTREMO, COM O PASSAR DO TEMPO.ISSO SERVE PRO PÚBLICO CABEÇUDO E PARA O PURISMO SEM CAUSA DE PESSOAS QUE SE PRIVAM DE CONHECER ALGO NOVO QUE É BOM, MAS ELE NÃO QUER QUE SEJA MELHOR DO QUE O DELE. MAS ACHO QUE VEM DO PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO, DAQUELES QUE NÃO PRESTAM ATENÇÃO QUANDO O PROFESSOR TA ENSINANDO, ENTENDE? UM LEMA QUE GOSTO DE USAR PRA FALAR PRA QUEM OUVE MINHAS MIXTAPES OU VAI PRA CONHECER O SOM ONDE EU TOCO:"O SOM MUDOU E QUEM FICA PARADO É POSTE."

  • 08.02.2013 00:26 Emerson Reinert Pereira Tokarski

    Bom artigo, é isso aí, as pessoas julgam demais e pra quê? Seja você e respeite o outro pronto! Resolveria tanta coisa isso

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