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Guilherme Menezes

Déficit de Atenção - será ?

Enxurrada no uso equivocado de remédios | 29.08.11 - 17:09


Quando iniciei na especialidade de Neurologia Infantil, em meados dos anos 90, só se falava em dislexia, principalmente após depoimento do ator americano Tom Cruise. Os consultórios fervilhavam de supostos portadores deste distúrbio. As escolas, revistas, programas matinais de TV debatiam à exaustão o tema.

Bem, o tempo passou, o assunto esfriou e passados alguns anos convivemos novamente com outro diagnóstico que virou lugar comum: o Transtorno do Déficit da Atenção, combinado ou não com outro tema também não menos na moda, a hiperatividade. É uma doença nova? Tem cura? Existem exames comprobatórios? Dúvidas não faltam e tentarei discorrer a seguir sobre os erros comuns e sobre o que de fato é verdade.

Não se trata de diagnóstico novo, nem tampouco houve aumento na sua incidência; mas da mesma forma do boom da dislexia, a superexposição ao tema entre a comunidade educacional ou os profissionais vinculados à população infantil, tem corroborado no grande aumento de demanda de crianças e adolescentes com encaminhamentos sugerindo tratamento. A atual nomenclatura já sofreu inúmeras variações, desde a incômoda denominação "Disfunção cerebral mínima", passando pelo termo "distúrbio", até o atual "transtorno", na tentativa de melhor qualificar os sintomas e explicar suas causas.

A grande confusão está em imaginar o diagnóstico tão-somente porque a pessoa é distraída ou porque tem baixo rendimento escolar. Não é tão simples assim, da mesma forma que não podemos confundir criança agitada com hiperativa. Importante lembrar que os dois termos podem significar a mesma coisa, mas como sinônimos genéricos, mas não como termos técnicos.

O diagnóstico é essencialmente clínico e exames somente são necessários para descartar alguma outra hipótese. Os sintomas demonstram prejuízo pessoal, tanto em casa, no trabalho ou na escola, mas é interessante saber que não se trata de desinteresse, preguiça, e o nível intelectual destes portadores é normal, não raramente acima da média.

Portanto, o diagnóstico preciso, feito por profissional qualificado e habilitado, vai identificar as verdadeiras causas de distúrbios de memória, concentração ou de aprendizado e separar quem de fato pode beneficiar-se de medicamento, pois o que vimos hoje é uma enxurrada de pessoas fazendo uso equivocado de remédios .

Guilherme Menezes é especialista em Neuropediatria pela Universidade Federal de São Paulo e médico do Hospital da Criança em Goiânia


Comentários

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  • 06.09.2011 07:32 Francisco Arruda

    Doença também tem moda, Guilherme! TDA/H, "refluxo", síndrome do pânico, transtorno bipolar... Qual será a próxima?

  • 31.08.2011 12:15 Juliana Gomes

    Muito bom seu artigo. Como psicóloga percebo uma desconsideração pelos pais e profissionais do contexto social a que todos estamos submetidos. Pais com menos tempo, casas cada vez menores o que contribui para que a criança não tenha espaço para brincar e fazer suas atividades, enfim são inúmeras as situações que devem ser levadas em conta antes de se dar um diagnóstico tão sério como esse.

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