Não conheci Polyanna Arruda. Sei dela apenas por matérias nos jornais e relatos de pessoas que conviveram com a publicitária, morta de forma brutal em 23 de setembro de 2009. Obviamente, a notícia do assassinato me chamou a atenção na época. Quem não se indignou? Mas foi editando a matéria sobre a luta de sua mãe, Tânia Borges, que eu me emocionei de verdade. É que às vezes a gente se esquece do quanto é raro alcançar a Justiça nesse país, onde crimes contra a vida são tão comuns.
Te admiro muito, Tânia! Pela sua força, persistência e, principalmente, pela capacidade de não se acomodar. Vendo tudo que já fez em busca de respostas e pela punição dos culpados da morte de sua filha, senti até um pouco de inveja (não temos apenas sentimentos bons, né?). Considero você, sua família e seus amigos bravos guerreiros.
Digo que sinto inveja pois nunca fiz nada do que você fez. Perdi meu pai assassinado quando tinha 13 anos. O crime aconteceu próximo a nossa chácara, na zona rural de Aragoiânia, no dia 7 de novenbro de 1994. O tiro da espingarda calibre 12 abriu um buraco no lado esquerdo do peito dele. Meu irmão, que na época tinha apenas 11 anos, viu tudo de longe e gritou por socorro. Quando minha mãe, meu outro irmão e uma vizinha o alcançaram, ele já estava sem vida. Cheguei horas depois com meus tios, mas o corpo ainda estava lá no chão.
Meu pai e o suspeito, um criador de gado de uma propriedade próxima a nossa, se desentenderam dias antes. Ele chegou a prestar a depoimento à polícia, negou o crime, mas, uma semana depois, vendeu sua chácara em Aragoiânia e desapareu do mapa.
No começo, também procuramos por Justiça. Mas lá pelo segundo ano desistimos. Investigação criminal no interior de Goiás é uma lástima. Ter de enfrentar aquele delegado desinteressado só aumentava a nossa dor. Minha avó, que sempre foi uma referência para toda a família, nunca mais foi a mesma. Não superou a perda do filho e se tornou uma pessoa amargurada. Algum tempo depois, ficou doente, até que um dia, seu coração parou de bater.
Ao ver sua luta, Tânia, percebo que é uma pessoa com uma força acima da média. Sua coragem me fez lembrar de algo que há muito tempo eu havia esquecido. Às vezes até me pego em crises vocacionais, questionando o motivo de ter mudado minha opção para o vestibular. Afinal, sempre gostei de ciências e biologia. Sonhava em ser botânica ou engenheira agrônoma. Mas acabei escolhendo jornalismo para denunciar a violência, ter voz diante da covardia.
Apoio o seu protesto, Tânia. Neste dia em que o crime completa dois anos, faço eco à pergunta do outdoor estampado com a foto de Polyanna. Quem são os culpados? E tenho fé que ainda vamos escrever a reportagem anunciando a condenação de todos eles, seja por conta do tão esperado inquérito da Polícia Civil ou pela intervenção da Polícia Federal, como deseja. O importante é dar um basta à impunidade.
Gabriela Lima é editora executiva do jornal A Redação