Goiânia - Visitei a Espanha, no início do mês, para conhecer a estrutura física do Real Madrid. Queria saber como eles tocam o futebol, mas fui além. Tive a grata surpresa de descobrir que este clube, considerado um dos maiores do mundo, é administrado por homens que devem mesmo estar à frente os melhores.
Acompanhei dois atletas da categoria de base do Vila Nova - Gabriel e Orlando - que foram convidados para fazer uma semana de testes no clube merengue. Fui recebido por diretores que me guiaram pelas amplas instalações do centro de treinamento. Fiquei impressionado com o patrimônio físico do Real Madrid, mas o que ganhou minha atenção mesmo foi o comportamento da cúpula diretiva.
São homens visivelmente compromissados com a importância social do clube na comunidade. E foi justamente este compromisso que me levou à pequena cidade espanhola Villanueva de la Cañada, nome semelhante ao do meu querido Vila Nova. Chegando lá, observei ao redor e, pela presença do presidente e quantidade de pessoas, até poderia imaginar que se tratava de algum jogo oficial.
Acontece que quem entrou em campo foi a equipe madrilenha sub-13. Era um jogo amistoso contra o time da cidade. Os garotos do Real Madrid venceram o Villanueva, reforçados pelo quarto zagueiro brasileiro Orlando. Por causa do bom desempenho, o atleta vilanovense foi convidado a passar uma temporada de 12 meses no clube.
Soube que a decisão de levar a equipe à pequena Villanueva foi do próprio presidente, Florentino Perez. Ele quis realizar o sonho de um jovem torcedor do Real Madrid, de 13 anos, que havia morrido em um desastre automobilístico.
"Viemos a Villanueva porque este era o desejo do nosso torcedor, que nunca viu o Real Madrid jogar nesta cidade", explicou-me Perez que, diga-se de passagem, deu um show à parte no estádio. Ele é uma personalidade respeitada e admiradíssima.
Fiquei encantado com o fato de o presidente do maior clube de futebol do mundo se deslocar àquela pequena comunidade apenas porque era o sonho de um torcedor. Ele conversou com pessoas, tirou fotos e deu autógrafos por mais de uma hora.
O mais importante é que Perez fez questão de compartilhar com a família a dor da perda precoce do filho. Partiu dele a iniciativa de conduzir a homenagem em memória ao jovem torcedor.
Já dizia o filósofo Teilhard de Chardin: "Não somos humanos vivendo uma experiência espiritual. Somos espíritos vivendo uma experiência humana".
O presidente Perez me deu uma lição de humanidade e espírito elevado ao explicar o papel do clube na sociedade em que está inserido. A visão dele não se resume às quatro linhas, ela não se limita ao apito final de uma partida de futebol.
Este deve ser o papel do dirigente esportivo. Ele tem o dever de humanizar o esporte. É um trabalho pouco visto, mas vital para restaurar o orgulho do torcedor. A comunidade precisa ter e perceber a atuação do clube na formação do caráter desta nova geração.
É por isso que voltei ao futebol. Quero motivar a direção do Vila Nova a construir esse princípio mais humano e menos comercial. Precisamos valorizar a comunidade que gosta do clube, ela merece receber algo em troca. Parabéns, presidente Florentino Perez, o senhor é um exemplo para nós. Vamos ao trabalho para que possamos, em um futuro não muito distante, jogar em alguma Villanueva de la Cañada por motivos nobres como aquele que presenciei.
*Leonardo Rizzo é vice-presidente de Patrimônio do Vila Nova Futebol Clube.