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Jales R. Naves Júnior

Anotações de uma viagem a Paris/Graz

Parte 3 | 04.11.13 - 12:09
 
Paris - Quinta-feira à noite, Raísa Leão, que gentilmente me hospedou em sua casa durante a semana em Paris, me levou a um pub de música ao vivo. Ele era dentro de uma "caverna". Tínhamos que descer uma longa escada para chegar onde fica o palco, em um "buraco" meio claustrofóbico e bem abafado. O formato era bem curioso. Todos aqueles que sabiam tocar levavam seus instrumentos e bandas eram formadas de forma meio aleatória. Aliás, imagino ser esse o propósito do lugar, mas ao que me pareceu os grupos já vão fechados. Uma pena o Renatinho Naves não estar aqui, pois do jeito que adoramos um holofote teríamos dado um jeito de subir e tocar também. Os músicos eram muito bons, foi uma experiência bem interessante.
 
No outro dia cedo precisava viajar, então logo aprontei minhas malas e fui. A convite da Carine, uma amiga de Goiânia que conhecemos através do Lucas ainda no ensino médio, planejei ir pra Viena. Carine morou a maior parte da sua vida na Áustria e me convidou para ir visitá-la. Ela, contudo, me avisou que teria que ir para Graz (segunda maior cidade da Áustria), para o aniversário de uma amiga. E então começou a extensa jornada.
 
Foram 13 horas de viagem. Saí às 9h da manhã rumo à praça da Bastilha, onde peguei um metrô até Porte Maillot (aproximadamente 40 minutos de viagem). Ao chegar lá, esperei o ônibus até o aeroporto de Beauvais (mais uma hora e meia de viagem). Peguei um vôo para Bratislava (duas horas e meia), depois um ônibus para Viena (duas horas) e finalmente um trem para Graz (duas horas e meia).
 
Ainda no ônibus para Beauvais conheci Jan, um simpaticíssimo tcheco que havia morado no Brasil por três meses para acompanhar sua ex-namorada brasileira. Ele estava lendo um livro sobre Oscar Niemeyer e falava português bem. Contou-me que era arquiteto e estava organizando um coletivo de arte/arquitetura em Paris. Ele vive de participar de concursos pela Europa inteira, apresentando projetos para museus, óperas etc.
 
Ao chegarmos em Beauvais precisava imprimir um negócio lá e ele, muito prestativo, acompanhou-me, uma vez que conhecia bem o lugar. Beauvais é um aeroporto bem pequeno e razoavelmente afastado de Paris. Apenas algumas companhias operam lá. Por sugestão da Carine, comprei uma passagem pela Ryanair, por isso tive que me deslocar tanto.
 
Ao entrarmos no avião conhecemos Santiago. É um colombiano de 31 anos que havia enjoado de seu país e, assim que se formou, aproveitou uma oportunidade para fazer Mestrado na França. Quando concluiu, já emendou o Doutorado e agora está terminando seu Pós-Doutorado em Engenharia da Computação. Ele estava um pouco aflito, pois teria que voltar à Colômbia após terminar a última etapa e não sabia como poderia fazer para arrumar emprego na França ou Colômbia (problema de hiperqualificação).
 
Assim que o avião pousou em Bratislava e descemos, Jan se despediu, pois seu pai tinha vindo de carro de Praga para buscá-lo. Santiago e eu entramos no ônibus para Viena e tocamos viagem. O motorista era um eslovaco doidão e incrivelmente mal educado. Balbuciava e grunhia qualquer coisa em qualquer língua sempre que alguém lhe perguntava algo. Quase que uma confusão se armou quando um norteamericano, sentindo-se desrespeitado pelo desleixo do condutor, foi lá tirar satisfação. O motorista não titubeou em mostrar a arma que carregava na cintura e os ânimos foram mais do que rapidamente acalmados.
 
O ônibus era daqueles pinga-pinga. O eslovaco não podia ver um arbusto se mexendo na beira da estrada ou uma galinha caminhando que logo parava para ver se alguém queria entrar. Fiquei curioso, pois não sabia qual era seu plano para sobrelotar o ônibus, já que todos assentos haviam sido ocupados. Ele dirigia freneticamente, de forma alucinada, mas como a estrada estava bem vazia não havia tanto problema. Santiago passou a viagem inteira se desculpando comigo, já que a escolha por aquele ônibus havia sido dele, enquanto havia um outro lá mais caro (três euros só, eu acho).

Ao chegarmos em Viena, Santiago desceu já na primeira parada e eu comecei a sentir as barreiras linguísticas. Tirando o americano babaca, que já havia descido, praticamente ninguém dentro do ônibus falava inglês, francês ou espanhol. Acabei encontrando uma eslovaca muito simpática que estava indo visitar seu namorado austríaco. Ela falava um inglês carregadíssimo de sotaque e, apesar de não conhecer Viena bem, propôs-se a me ajudar. Assim que descemos na nossa estação (era a última) começou um toró forte em Viena. Eu, ela e seu namorado nos abrigamos dentro de uma estação de metrô, que seria de onde eu supostamente chegaria até a estação de trem. O namorado dela se confundiu de como eu faria para chegar até lá e, já que meu trem para Graz sairia em 15 minutos, se ofereceu para me levar até lá de carro. O próximo trem só sairia depois de mais de duas horas! Fiquei extremamente agradecido, aceitei a carona e lá fomos. Cheguei, comprei minha passagem e entrei no trem (apenas 30 segundos antes dele partir).
 
Nunca vi tanto conforto na minha vida. Apesar da passagem ser bem salgada (37 euros), o trem era incrível. Poltronas amplas, confortáveis, com mesas individuais, tomada e acesso livre à internet. Queria dormir um pouco, já que Graz era a última parada. Meus planos foram frustrados quando o vendedor de comida do trem, ao ler "Brazilian Soul" na minha camiseta, disparou-se a tentar falar comigo em português. Nada do que ele falava fazia sentido, mas ele ficou lá proseando por quase hora e meia, que foi quando chegamos à nossa estação.
 
Ao descer do trem encontrei Sophie, uma amiga da Carine que foi a Goiânia no início de 2011. Ela me levou até o metrô e, assim que cheguei ao destino, Carine me encontrou e fomos direto ao bar onde estava sendo comemorado o aniversário de sua amiga (já eram 22h30). Chegando lá conheci aquele monte de gente, entre austríacos e imigrantes. Carine me disse que eu ficaria hospedado na casa de Thamires, uma amiga dela. Tomei algumas cervejas e, quando Thamires resolveu ir embora, fui também, pois estava muito cansado.
 
Thamires me acolheu muito bem, é uma grande anfitriã. Deixou-me super à vontade (apesar dessa minha goianidade/mineirice sempre me fazer achar que estou incomodando) e até lavou minhas roupas!
 
Nosso final de semana em Graz se resumiu a conhecer os principais pontos da cidade e passear à noite com os amigos dela. Diferentemente dos franceses, que sempre que eu os abordava com um "excusez-moi" sorridente, eles quebravam o gelo e sorriam de volta, nada atravessa a sisudez do austríaco.
 
Em geral eles são polidos, educados, mas incrivelmente frios. Carine disse-me que seria bem difícil eu conversar com alguém aqui, exatamente por esse problema.
 
Jales Rodrigues Naves Júnior é advogado, sócio-proprietário do escritório Naves & Oliveira Advogados.

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