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Melina Louza

Buenos Aires – una pasión

Os argentinos me encantam | 24.12.13 - 14:56
 
Eu gosto mais de Buenos Aires. É que eu fui pra Santiago, no Chile, com esta disputa interna pensando em quantas vezes eu teria escolhido ir, levianamente, a Buenos ao invés de passar dias de frenesi na banda chilena da América. Pois bem, o que eu suspeitava sobreveio. Eu gosto mais de Buenos Aires; quiçá da Argentina. Como eu não me interesso em absolutamente nada pelo futebol, não vou me enveredar por estes campos de acusações mais que desgastados que não me informam demérito algum para a localidade hermana. O fato é que Santiago se pareceu, pra mim, como uma metrópole qualquer, que assim como Madri é uma parte da Espanha que não tem quase nada de espanhola nem mesmo sua arquitetura, Santiago surgiu pra mim nada mais como qualquer outra boa cidade. 
 
Então vamos ao que interessa: sabe o que eu gosto de Buenos Aires? A mistura, a identidade, aquela quase insistência em ser diferente, em ter um estilo, ainda que este estilo possa ser um mullet dos mais ridículos que você pode imaginar. E daí você pensa: tudo bem, é um mullet ridículo, numa terra que todos usam mullets. Mas meu amigo, devo lhe dizer, eu vi e fotografei cada um que qualquer ser senciente que o portasse deveria pelo menos suspeitar, que ali, no fundo, alguém estava rindo de você. E qual é a importância disso? Nenhuma! E isso me encanta nos argentinos. 
 
Eu tenho a impressão que estão todos, voluntariamente, presos no anos 80/90. Vários carros de então, queimando na rua o seu óleo diesel, buzinando e ouvindo alguma rádio que toca rock também desta época ou algum sertanejo deles, que eu não curto, mas também acho identidade. Cabelos, como já dito, despropositadamente cortados à lá anos 80 e junto com eles, aquele orgulho pulsante da sua juba. Em Santiago, vi que todos usavam aqueles óculos, também oitentões, que se fossem tirados do armário da mãe há 3 anos, seriam motivo de algum tipo de fuzilamento sumário, e em Buenos Aires não, não vi ninguém nesta “febre da moda”, e isso me agrada. Sempre achei que a moda tem a função de ajudar os que não tem muito estilo a parecer que seguem algum. 
 
Comer em Buenos Aires é uma experiência inefável! Parece que há paixão em cada empanada feita naquele lugar. A carne deles tem uma textura que me faz esquecer de toda e qualquer vontade de encabeçar um movimento pró-ruminantes. O vinho é o malbec, deliciosamente cultivado e inacreditavelmente barato. E o sorvete? O que dizer das pessoas que pegam o melhor doce de leite do mundo e mimetizam a textura, o sabor e acrescentando um pouquinho de gelo àquilo o batizam de helado de dulche de letche? É uma sobremesa que, junto com o pavê que minha mãe faz nas festas de família, tem a capacidade de romper a tramela da existência e me dissolver em uma profusão de cheiros, sabores e texturas inesquecíveis. Fecho os olhos e acabo de tomar uma colher do dulche, sentada a frente do Cemitério da Recoleta – que é uma galeria de arte à céu aberto – e mordi um pedaço de brownie, que foi outra invenção de alguém que deveria ser bravamente congratulado por: colocar um bolo no melhor sorvete do mundo. 
 
Você aí que me conhece pode argumentar que uma pedra no meio do caminho entre o rim e a bexiga me levou embora mais cedo de Santiago e que eu não vi muita coisa além da dancinha do Josh, vocalista do Queens of the Stone Age, mas é que eu andei concluindo que cidades são como pessoas: você gosta de cara ou não gosta e pronto. Você pisa naquele lugar, dá uma olhada em volta, e se apaixona (ou não). O vento bate, um passante te olha com ternura, um cachorro que você ama atravessa a rua, vem o cheirinho de uma acalentadora comida típica, e pronto: você está pra sempre apaixonado por aquele lugar. Predestinado a voltar vezes e vezes e se sentir em casa. 
 
Se eu não fosse gêmeos duplo, teria que cansar o leitor e começar inconteste um novo texto sobre: como é que um indivíduo que gosta de sempre conhecer lugares novos possui a idiossincrasia renitente de repatriar-se para tanto pragmatismo? Mas como não se explicam as paixões e as dubiedades de um geminiano, passo somente a imaginar qual feriado me levará ao Volumen 3 para que Jose faça aquele gracioso mullet na minha cabeleira! 
 

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