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Maria Luísa Ribeiro

Pela causa e harmonia

Cultura não pode sair dos trilhos | 24.01.14 - 09:40
Goiânia - Depois do café com jornal costumo mergulhar no oceano  da cultura, seja escrevendo o  texto que merece ser escrito ou  lançando-me na rede  virtual com meus iguais. Falamos  de peixes grandes e pequenos, de remos, canoas, barcos e navios. Trocamos olhares, ficamos mais intensos com a bonança, alargamos rumos e rios, e vigiamos tempestades. Sei que não é fácil domar o vento, mas que  é possível retroceder à praia quando ameaças  quebram a harmonia das ondas e geram alvoroço no mar. 
 
Ancorada em minha alma de artista, porto de onde a arte literária escorre pelos vãos da pele e promove a completude de tudo aquilo que não é possível dizer de outra forma, fiquei triste nesta quinta da semana. Meu olhar alcança o território da Secretaria da Cultura de Goiânia onde, uma mulher após identificar a nota dissonante, afinou o instrumento e corajosamente carrega o piano para que a harmonia continue a se estabelecer depois do vendaval. E não posso deixar de escrever o texto que merece ser escrito.

Imagens vão surgindo, o filme em preto e branco vai sendo repassado na tela da memória: vejo-me lá atrás, quando assumi a presidência da União Brasileira de Escritores com a responsabilidade, não de fazer uma administração melhor do que a dos que me antecederam, mas de colocar a  ousadia, a teimosia e a sensibilidade da mulher a serviço de uma causa maior que mera vaidade. Encontrei pedras, facas, punhais, escorpiões nas fendas, mas, aos poucos, pintou-se um cenário de cor, e o desenho da UBE de Goiás se cristalizou em uma casa branca onde em coro as vozes cantaram a música da frutificação na Rua 21.
 
Com o olhar da lucidez e senso de justiça e gratidão, adentro o sobrado da Avenida 84. Cruzo os corredores por onde tantas vezes estive por tardes inteiras, quer como integrante da Comissão Julgadora de Projetos Culturais, quer como Membro do Conselho Municipal de Cultura, onde, além de outros, tive como par a musicista professora Glacy Antunes. E quando o sr. prefeito, sem paixões políticas e entre cacos e caos nomeou-a para o cargo de Secretária Municipal de Cultura, minhas esperanças se renovaram: no comando uma mulher que se prestava a somar a competência administrativa e acadêmica à sensibilidade da idealista que ouviu a classe, viabilizou  antigas demandas, promoveu a renovação  da representatividade cultural e se colocou ao lado  de interesses coletivos de todos os segmentos. Ou seja, o artista representado pelo artista e com a casa em ordem.
 
Sr. prefeito, pressente-se no horizonte que ventos contrários desestabilizam nossa embarcação. Teme-se que movimentos aconteçam em favor de demandas políticas e que nós, os artistas de todos os gêneros, gestores culturais e demais fazedores de cultura de Goiânia, nos encontremos, uma vez mais reféns de comandos que não conhecem nossas águas, para conduzir nossos interesses ao Porto Seguro. E a Cultura,  base da história  de um povo, arauto da educação, arma contra a prostituição e violência, saia dos trilhos de uma grande causa. 
 
 
Maria Luísa Ribeiro é escritora e presidente da Academia Goianiense de Letras

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