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Othaniel Alcântara
Othaniel Alcântara

Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

Música clássica

André Rieu: anjo ou demônio?

Polêmico maestro holandês vem ao Brasil | 26.09.14 - 23:16
 
Goiânia - O polêmico maestro holandês retornará ao Brasil no próximo mês de outubro (2014). Subirá ao palco com seu violino Stradivarius 1732, para o primeiro de sua nova temporada de shows em São Paulo, um dia após comemorar seu 65º aniversário. Há muito tempo divide o topo das paradas de sucesso com os grandes nomes do show business.
 
Em 2012, em uma de suas passagens por aqui, escreveu-se muito sobre seus grandiosos espetáculos de forte apelo visual. À época, calorosos debates se seguiram pelo mundo virtual após a publicação do texto “O Falsificador” escrito pelo compositor e colunista da Revista Concerto Leonardo Martinelli. Na opinião desse crítico, André Rieu é mais um produto da chamada “indústria cultural”. Opina ainda que, ao violar o repertório clássico, com arranjos digamos, simples e até grosseiros, a fim de deixa-lo mais atraente, acaba difundindo uma ideia falsificada da música de concerto.
 
Mas devo esclarecer que a opinião de Martinelli não é unanimidade no mundo erudito. Conceituados músicos como os maestros Leandro Oliveira e Roberto Tibiriçá, citados por João Luiz Sampaio (Blog/Estadão), também se manifestaram sobre o tema. O primeiro identifica um tom academicista nas críticas ao holandês enquanto o segundo afirma que “se é popularização ou não, não importa. O que importa é que as pessoas se sentem felizes e curtem ouvi-lo”.
 
Analisando por esse prisma, concordo com os renomados maestros. Na verdade, trata-se de um aspecto importante a se considerar. O artista é livre para explorar os diferentes nichos de mercado e o público, igualmente, livre para escolher suas preferências. E mais, a questão aqui não é dar mais ou menos importância para um determinado gênero musical. Particularmente, lembrando o compositor erudito Gilberto Mendes, gosto de desfrutar a alta cultura, que inclui também a cultura pop de qualidade.
 
Na verdade, gostaria de explorar o tema pelo seguinte viés: André Rieu é ou não é formador de público para a música clássica, gênero quem vem perdendo espaço no mercado cultural? Seu produtor Manoel Poladian, em entrevista realizada em 2012, diz que sim. Pra falar a verdade, eu discordo. Acredito que reduzir o repertório erudito a uma espécie de “pano de fundo” para seus grandiosos e popularescos espetáculos, não seja a solução. Obviamente estou excluindo desse contexto a música incidental, aquela criada exclusivamente para essa finalidade, como trilhas de filmes, música para balés, etc.
 
Em outra direção, lembra Carol Nogueira (Blog/Veja), esta mistura é uma prática adotada, principalmente nas últimas décadas, por algumas orquestras brasileiras, como ferramenta de aproximação do grande público. Eu mesmo, quando era violinista da Orquestra Filarmônica de Goiás, toquei muitas obras com elementos populares colocados no idioma sinfônico. Inclusive dividi o palco com vários artistas como os nordestinos Moraes Moreira e o já falecido Sivuca. Porém, acredito que exista uma sensível diferença nesse caso. Aqui, o resultado desta mistura, normalmente realizada de maneira bem elaborada, é colocado como o elemento principal do espetáculo (concerto).
 
Voltando ao nosso personagem principal, não podemos negar o fato de que André Rieu seja um crossover (mistura do erudito com o popular) de sucesso como o grego Yanni ou a violinista singapurense Vanessa-Mae. Considerando então seus mais de 30 milhões de discos vendidos, podemos apontá-lo como um fenômeno do entretenimento de massa. Agora, você pode imaginar em que estado de espírito fiquei após assistir ao vídeo abaixo.
 
 
André Rieu no programa de TV Domingão do Faustão tocando Ai se eu te pego de Michel Teló.
 
Tudo bem! Confesso que depois disso, fiz algumas piadas pelas redes sociais e até mesmo em sala de aula, provocando uma justificada reação de seus fãs. Certa vez, um amigo violinista residente em Anápolis/GO, que estará em São Paulo prestigiando seu ídolo no próximo mês, comentando uma de minhas postagens em tom de brincadeira, insinuou que eu teria inveja da “grana” do Rieu. Pensando bem, não seria sacrifício dividir o palco e principalmente a bilheteria com ele.
 
Terminando, deixo o pensamento do escritor, apresentador da BBC e comentarista cultural, o inglês Norman Lebrecht: “artistas como André Rieu, deveriam ser retirados do ranking dos mais vendidos do universo erudito”. E justifica: “artistas como ele não estariam criando um novo público para a música erudita e sim para um novo gênero”.
 
E você leitor, qual a sua opinião sobre a arte de André Rieu?
 

Comentários

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  • 11.12.2014 23:46 Suellen Thays Nascimento Machado

    Me lembro do Natal do Ano passado, uma tia minha ganhou um DVD do André Rieu e começou a se gabar, como se o fato de ouvir "música clássica" a tornasse mais nobre ou culta. O problema disso é achar que qualquer um que toca violino com uma pequena orquestra, produz música música erudita, talvez até produza, mas para um público não muito exigente...

  • 11.12.2014 23:27 Manuela Marques Ribeiro

    Ótimo texto!

  • 11.12.2014 02:18 Euler N Cardoso

    Seria também interessante a gente refletir sobre Taylor Davis e a música erudita para filmes e videogames. Será que poderia vir um artigo sobre este assunto?

  • 17.11.2014 14:58 Paula Ungarelli

    Bem, antes da leitura desse artigo ao ver Rieu se apresentando poderia considera-lo um anjo para música erudita. Mas, após os esclarecimentos aqui presentes e o vídeo, ele não se enquadra mais nesse papel divino. Entretanto, também não o crucificaria... acabo concordando com o pensamento do Norman Lebrecht, de que ele esta criando e atraindo público para um novo gênero. Mais uma vez, parabéns por seus artigos. Muito bem elaborados e redigidos!

  • 27.10.2014 20:31 Nathália S. Secco

    Gostei do artigo. Acho interessante o projeto de marketing dele, onde alcança as grandes massas com uma música erudita "popularizada", porém, não precisava ser grosseiro , poderia ter mais qualidade em seus arranjos. E com certeza tem que ser considerado como um novo gênero.

  • 15.10.2014 23:29 Karla Carolina Vicente de Sousa

    Eu gostei demais desse texto. Muito divertido e me deixou muito confusa. Eu comecei o texto achando que André era anjo, mas depois do vídeo logo mudei de opinião(rsrs). Essa última citação foi maravilhosa.

  • 12.10.2014 16:14 Marcelo Souza

    Gosto do estilo! Instigante... parabens, Mestre!

  • 08.10.2014 12:31 rogerio rosembergue garcia

    Parabéns Othaniel um belo artigo!

  • 02.10.2014 09:26 Larissa Gonçalves

    Parabéns Othaniel pelo exlente artigo! Acredito que cada um ouve o que gosta, se dessa forma ele agrada uma parte do público é simplesmente mais uma forma de fazer música pra quem gosta de ouvir algo desse tipo. Abraço!

  • 02.10.2014 08:19 Luís Carlos V. Furtado

    David Copperfield?

  • 02.10.2014 01:19 Mônica Araújo

    Ótimo texto, parabéns ! Cada artista aproveita um nicho do mercado , o que é normal em todas as profissões . Ele achou seu mercado e tem explorado muito bem.

  • 29.09.2014 12:12 Laiana Lopes de Oliveira

    Bom... Se serve como ponto de partida para que as pessoas tenham um contato mais aprofundado com a música de concerto, é válido. Mas que ele é um "falsificador", isso é... hahahahaha... Minha opinião é a mesma desde quando ele surgiu. Rieu não tem o mínimo compromisso com a arte, não acho que ele seja artista, porém, as pessoas se aproximam da arte por ele. Não sei se vc assistiu um documentário sobre o Rieu, feito pela Globonews eu acho, que mostra desde a casa dele até o espaço para ensaios. É tudo muito luxuoso...altos cachês que compram músicos de excelente nível técnico...afinal, é muito sedutora a proposta de viajar o mundo ganhando muito... porém sem o compromisso com a formação intelectual de quem aprecia isso... e olha que é muita gente, pois dependendo do setor vc pode desembolsar até 12.000 reais para assistir o show e jantar com o ídolo aqui em SP. hahahhahahaha

  • 28.09.2014 22:33 ANDERSON ROCHA

    Taí uma receita de bolo cujo confeiteiro Rieu não foi o primeiro e nem será o último a usar... Texto divertido e esclarecedor, parabéns!

  • 28.09.2014 16:36 Sylvia Regina Costa Dutra da Silva.

    Interessante questão. Simplificar e popularizar a música erudita ou tentar "eruditar" o popular, tentando chamar de música o que se sabe pobre de melodias, harmonias, não seria uma maneira de diminuir o abismo que separa o erudito do popular e quem sabe assim aos poucos introduzir elementos sonoros mais complexo nesse mar raso e ralo de sons que somos cada vez mais obrigados a ouvir?Não sei.

  • 28.09.2014 10:55 Luiz E Carvalho Jr

    Parabéns pelo texto! A música tradicional de concerto passa por transformações e espero que não sejamos os últimos a nos certificarmos disso rs.

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Othaniel Alcântara é professor de Música da Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador integrado ao CESEM (Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), vinculado à Universidade Nova de Lisboa. othaniel.alcantara@gmail.com / othaniel.alcantara@gmail.com

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