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Carolina Pereira

Mademoiselle?

Por que então não sermos iguais nas palavras? | 03.11.11 - 18:03


Paris - Sempre que vou preencher um formulário em francês, me deparo com o campo “civilité”, que quer dizer civilidade ou saudação. São três as opções para se marcar, Monsieur, Madame ou Mademoiselle. Sempre marco mademoiselle. Lógico, não sou casada. Achava o pronome de tratamento um tanto quanto charmoso até há algumas semanas, quando vi um vídeo da Associação “Osez Le Feminisme” e a minha opinião sobre o charme do “mademoiselle” mudou completamente.

Primeiramente, não me considero uma feminista. Me considero humanista. Acredito na igualdade, não plena, haja vista que não podemos negar a existência de diferenças biológicas entre os sexos feminino e masculino, mas parcial. Concordo um pouco com Simone de Beauvoir e com as suas idéias do “Deuxième Sexe”, porém sem tanto extremismo quando ela considera não existir uma essência feminina e que essa criação foi cultural para manter o “sexo frágil” afastado de algumas esferas da vida social.

Voltemos ao termo “mademoiselle”. Ele é utilizado para tratar as mulheres solteiras, não tendo o seu correspondente masculino, já que para os senhores, tanto casados como solteiros, utiliza-se o “monsieur”. A campanha é para que se suprima o termo e utilize-se o “madame” tanto para as casadas como para as solteiras.

A língua francesa é bem rígida em relação às variações feministas. Em 1997 houve uma controvérsia em relação a utilizar a expressão “directrice” (diretora) e “la ministre” nos documentos oficiais. A Academia Francesa de Letras foi contra, disseram que as palavras eram masculinas, porém, se utilizam informalmente tais termos.

A questão pode parecer pequena, inútil, mas ao avaliar mais profundamente, acabei lembrando da fábula do beija-flor, que tentava incessantemente apagar o fogo na floresta com a água trazida em seu pequeno bico. São as pequenas atitudes que juntas fazem grandes modificações. Talvez a extinção do mademoiselle seja um grande passo no fim da discriminação das chamadas “minorias”.

Para o movimento feminista francês, essa vitória será a mesma do movimento brasileiro ao conseguir ver aprovado na minirreforma eleitoral a reserva de 30% de vagas para o sexo feminino (ou masculino, dependendo do contexto). Ainda não é totalmente aceito, não se conseguiu aplicar plenamente, mas é uma grande conquista.

Casadas, solteiros, senhoras, presidente, se perante a lei somos todos iguais, por que não então sermos iguais também nas palavras? Parece até sem importância, mas será mesmo? Uma palavra, uma simples palavra, contextualiza o seguinte: uma mulher casada tem um determinado valor, e tratamento; uma mulher solteira tem outro e um homem, solteiro ou casado, têm o mesmo valor? Aliás, a expressão avalia a mulher por meio de uma ótica masculina. A mulher tem seu valor transformado pela presença de um homem em sua vida. Somos todos iguais, independente de gênero, credo, raça, cor ou orientação sexual. Então, por que não fazer essa igualdade valer também nas palavras?

Carolina Pereira é advogada goianiense e estuda francês jurídico em Paris (@pereiranina)


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