Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

Sobre o Colunista

Bruna Castanheira
Bruna Castanheira

Bruna Castanheira de Freitas é advogada e pesquisadora atuante em Direito Digital e Propriedade Intelectual. / bruna@direitotech.com

Direito e Tecnologia

Termos de uso: muito longo, não li

Ello não é o que diz ser | 03.10.14 - 23:36 Termos de uso: muito longo, não li (Foto: reprodução/flickr.com/ursulaantares)
 
Goiânia - Você já deve ter ouvido falar de uma nova rede social chamada Ello, que teve um boom recente, se espalhando de forma quase viral (com 40 mil inscrições por hora). O que você talvez não saiba é que a Ello já existe há três meses, e sua explosão se iniciou por causa da comunidade drag queen.
 
O Facebook começou a exigir que essas pessoas utilizassem seus nomes reais em seus perfis, sob pena de terem suas contas banidas, o que fez com que se iniciasse uma migração – mas sem abandonar o Facebook - para a Ello. Esta tenta inovar ao prometer ser um “anti-facebook”: garante que jamais colocará anúncios publicitários na sua página ou venderá seus dados para terceiros. 
 
Em um manifesto, o site alerta os usuários a respeito dos usos que os serviços online fazem das informações que as pessoas fornecem. Engana-se quem pensa que o Facebook, por exemplo, é um serviço gratuito. A partir do momento que fazemos nosso cadastro na página, estamos pagando a Mark Zuckerberg (dono do Facebook) com a moeda mais valiosa do século: nossas informações. 
 
Bruce Schneier – um especialista em segurança da informação – certa vez disse que se você acha que o serviço que está usando é de graça, é porque na verdade você é quem é o produto. É exatamente desta forma que várias empresas têm lucrado, vendendo dados de seus usuários para outras empresas que os usam para, por exemplo, fazer propaganda direcionada. 
 
Você já fez uma pesquisa sobre um iPhone em um motor de busca e, logo depois, viu na sua página do Facebook vários anúncios sobre o aparelho, sendo vendido a preços irresistíveis? Pois é, a sua atividade na internet estava sendo rastreada e usada para te vender produtos. 
 
Por um lado, a propaganda direcionada não parece ser tão ruim. Melhor ver anúncios sobre coisas que realmente te interessam do que sobre coisas que você nem sabe o que é, certo? Mas não soa um pouco invasivo que não tenha sido você quem liberou suas informações a esses terceiros e, ainda por cima, ter alguém as vendendo para outras empresas sem o seu consentimento?
 
Se você acha isso no mínimo incomodo, certamente tentará encontrar alguma maneira de controlar o que compartilha por aí. Mas o estrago já pode ter sido feito. As informações (tanto íntimas quanto aparentemente insignificantes) que você já divulgou ao longo dos anos, se cadastrando em sites aleatórios, podem voltar pra te assombrar. 
 
Algumas iniciativas surgiram para tentar remediar esse pensamento desesperador. O Privacy Fix é uma delas. Ele te ajuda a descobrir o quanto os seus dados valem para o Google, Twitter e Facebook, além de mostrar quantos sites monitoram suas atividades na internet através de cookies. Ainda oferece a opção de você dizer que não quer mais ser rastreado e dá dicas para você se tornar mais “blindado“ na rede.
 
Porém, não basta usar uma ferramenta como a Privacy Fix e depois sair por aí entregando suas informações pra qualquer um. É necessário se atentar não apenas ao que e onde você compartilha, mas também ao que é feito com os seus dados. 
 
Mas como descobrir isso? Será possível que alguma empresa online vai correr o risco de dizer que vende as minhas informações descaradamente, sem minha autorização, e ainda esperar que eu me cadastre nisso? Sim, é exatamente isso. Os sites que fornecem serviços geralmente possuem aquelas coisas que nós não lemos, os Termos de Uso e Políticas de Privacidade, onde essas informações são esclarecidas. E as empresas sabem que ninguém lê aquilo, mas só pra garantir, escrevem os textos de forma chata e extensa, com fonte tamanho 9, caps lock e 1.0 de espaçamento. 
 
Se você lesse, saberia, por exemplo, que a Ello não necessariamente é o que diz ser. 
 
Eles se anunciam (e fazem o marketing em cima disso) como uma plataforma que jamais venderá seus dados para terceiros ou fará propaganda em sua página. Mas na própria Política de Privacidade do site fica claro que isso não é verdade.

Encaremos os fatos: a forma mais 
fácil de se ganhar dinheiro com uma rede social é através da manipulação das informações que os usuários fornecem. A Ello recebeu um investimento enorme que, de alguma maneira, precisa gerar lucro. Como farão isso se prometem jamais utilizar o que efetivamente gera dinheiro em uma plataforma social?
 
Lendo a Política de Privacidade da Ello, fica bem claro que eles se reservam o direito de, futuramente, compartilharem seus dados com terceiros. Ou seja, exatamente o contrário daquilo que eles vendem como diferencial do produto. 
 
Mas mesmo se empresas como o Facebook e o Twitter anunciassem de maneira bem clara e fácil o que fariam com os seus dados, você deixaria de usar esses serviços? 
 
Dificilmente, afinal são nessas plataformas que todos os seus amigos, contatos profissionais, fofocas e notícias se encontram. É complicado ficar de fora.
 
Imagine então que o Facebook começasse a cobrar uma mensalidade de cinco dólares para ser usado, com a garantia de que não mais irá vender seus dados para terceiros: você pagaria? É importante pensar sobre isso hoje em dia, e com essa resposta você saberá exatamente o quanto valoriza ou não o que compartilha. Mas não se preocupe: o Facebook é de graça e sempre será. Você gera mais lucro para ele assim.
 
 

Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:

Sobre o Colunista

Bruna Castanheira
Bruna Castanheira

Bruna Castanheira de Freitas é advogada e pesquisadora atuante em Direito Digital e Propriedade Intelectual. / bruna@direitotech.com

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351