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PX Silveira

Cultura bunda mole

Precisamos é de novidade, ousadia e coragem | 15.11.14 - 17:26
Gatas e gatos pingados que atuam no segmento cultural em Goiás convocam manifestação para esta 2a feira, em frente ao Palácio Pedro Ludovico Teixeira. São contrários à criação da Secretaria de Educação, Cultura e Esportes, anunciada na reforma do governo estadual que teremos a partir de 1º de janeiro de 2015. Vão promover um “bundaço”.

O amadorismo sempre vai existir na cultura. Afinal, ela está permanentemente em processo e é nova a cada momento. Mas não é o amadorismo que incomoda, mas sim sua ostentação. Agindo assim, amadoristicamente, muita gente boa da cultura prefere reagir com a bunda do que com a mente. São os que ao menor vento de mudança já querem promover atos reativos frugais utilizando as ancas ao invés dos neurônios.

Diria que partir para manifestações em nome de um segmento social (cultura) sem saber realmente o que está acontecendo (a manifestação foi marcada às pressas, via FaceBook) só pode ser coisa de personagens sem falas em busca de spots no teatro da vida, que para desespero geral não tem e nem nunca terá ensaio. Por isso mesmo, é evidente que o melhor é agir com a mente e com o espírito, do que com a bravata ingênua e branquicela querendo chamar a atenção com suas partes dadas a tantas outras coisas que não à reflexão.

Aliás, nada contra mostrar o que é da vida e o que é bonito, muito pelo contrário, mas fazer do derrière um ato de afronta política é babaquice, pois não resolve nada a não ser causar um frisson momentâneo de prazer narcisista e emitir aos participantes o atestado enganoso de que pensar é tirar as calças.

Felizmente não fomos nós a inaugurar esta prática. A história está cheia de casos. Mas cá entre nós (os que queiram pensar) eu diria que o primeiro a mostrar a bunda em um ato de protesto, foi um gênio. O segundo, um idiota. E daí por diante e de forma crescente a idiotia fica cada vez maior.

Por quê? Mil razões. Todas para a mente processar. Quem de nós da cultura pensa que vivemos em um governo só de cultura, é um caolho de marca maior. E quem torce de verdade pelo aprimoramento da sociedade deve ansiar por mudanças, pois sabemos que as coisas para o lado dos gestores públicos não andam bem e podem ficar pior.

Embora envolvido pela cultura até o pescoço, eu não torço para que o governo seja bom só na cultura. Ele tem que ser bom de forma geral. E em assim sendo o governo, bom geral, já em muito ajuda a cultura, que é uma espécie de dimensão presente em tudo que fazemos e não apenas um segmento de bundudos.

Eu acho ótimo que o governador recém eleito Marconi Perillo agora anuncia cortes de secretarias. É um enxugamento da máquina que tanto vemos desperdiçar recursos humanos e recursos financeiros, principalmente em nível federal, pois nunca antes na história deste país tivemos 40 ministérios (o exato número dos comparsas de Ali Babá, o maior ladrão da história. Coincidência ou ato falho?).

A mudança um tanto radical que Marconi propõe é um exemplo corajoso, em se tratando de um governador que decididamente acredita no que faz. Se deve ou não ser seguido, o tempo dirá. Ao governador os riscos.

Por nosso lado, temos que ver quais as verdadeiras intenções desta mudança. Não é favor nenhum afirmar que Marconi tem sido até o presente momento o melhor governador para cultura de Goiás e um dos melhores do Brasil. Portanto, é de se pensar que ele não queira rasgar sua história em praça pública e simplesmente implodir a estatura que ele tem no setor cultural e junto à sociedade em geral.

O que precisamos mesmo é de novidade de conteúdo, de ousadia e de coragem na ação. Se é com a formalidade conhecida e com a velha maneira institucional ou não, isso não importa. O que importa são os resultados. E que sejam resultados contabilizados para a sociedade como um todo.

Ademais, dizer que com a extinção da secretaria estadual Goiás sai da rota dos repasses federais via Sistema Nacional de Cultura (SNC) e Fundo Nacional de Cultura (FNC), é balela. Que repasses foram estes? Por estas vias até agora só vieram discursos e vagas promessas. E se nunca houveram repasses, continuar esperando por eles no imobilismo é se entregar ao que os outros pensam da gestão cultural e não fazer o que nós pensamos.

A gestão nacional da cultura não é nenhum exemplo. Ela tem sido uma mistura esdrúxula de vaidades e antagonismos em que o Sistema Nacional de Cultura deixou de ser prioridade. A situação pede reposicionamentos e, neste quadro, recuos meramente institucionais podem se reverter em estratégias que permitirão avanços significativos no futuro. Por que não ter coragem de oferecer exemplos e aceitar mudanças?

Faço um convite à reflexão. É cedo para reagir com malabarismos histriônicos e fazer espetáculos minguados em que a inteligência não tem lugar. É preciso saber realmente o que estamos vivendo. É preciso agir de forma estratégica, ouvir o que pretende de fato o governador.

O setor cultural é muito mais importante do que a estridência de alguns parece querer que ele seja. Reduzir o artista e o produtor cultural à sua bunda, é fazer da bunda muito pouco caso, que ela os perdoe. Mas sobretudo é abrir mão de usar outros atributos mais compatíveis com a seriedade do momento e com as possibilidades que se nos abrem diante das mudanças verdadeiras e consequentes.

Px Silveira, Instituto ArteCidadania

Comentários

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  • 20.11.2014 10:43 esperança siqueira

    bom artigo, parabéns ao jornal

  • 18.11.2014 15:40 Juliano

    Quero mostrar a bunda na sede da petrobras do pt

  • 17.11.2014 16:53 Kim

    Eu quero mostrar a bunda em Goiás.

  • 16.11.2014 08:00 carlos marques

    lúcido comentário. Acho que para a questão da bunda, o Marconi deveria chamar a #KimKardashian #breaktheinternet

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