Goiânia - Na última manifestação que estive, em favor da continuidade da Dilma na Presidência da República, foram aguçadas em mim algumas teses que tenho sobre a esquerda no Brasil. Sou de esquerda. Infelizmente ou não, por diversos motivos, não tenho minha ideologia pautada pela teoria entre esquerda e direita.
Mas sim porque compartilho da maioria das idéias dos grupos de esquerda de forma intuitiva e, ainda, por posicionamentos práticos. Apoio a redistribuição de renda; a possibilidade real de pessoas estudarem e terem condições de se estabelecer na sociedade, competindo de forma igual; Defesa para que as minorias tenham seus direitos respeitados; E mais uma série de pautas.
Porém, há alguns anos percebo que os movimentos de esquerda não conseguem conversar com a população de forma geral, mesmo ganhando as últimas quatro eleições presidenciais. Ganha mais não leva. Em 2002, as pessoas votaram no Lula porque entenderam o recado de esperança que ele emitia. Estavam cansadas do descaso, da miséria, corrupção e situação econômica em que vivíamos. Talvez estivesse aí a melhor chance de conseguir fazer uma ruptura maior com o “sistema”.
Pra conseguir estabilidade no Governo foi necessário aderir às mesmas práticas que já eram conhecidas. De forma diferente, mas foi o que ocorreu. Porém, a população sentiu dentro de casa o que era um governo popular. O escândalo do mensalão se tornou mero coadjuvante no processo de decisão da renovação do governo. O ator principal foi: minha vida melhorou.
Em 2006, portanto, Lula se reelegeu. Dilma veio em 2010, as pessoas preferiram a continuidade a possibilidade de voltar aos tempos, especialmente, do FHC. Em 2014, como a maioria sabe e acompanhou, a briga foi mais dura. O escândalo da Petrobrás já existia, não com toda a exposição mídiatica que teve neste ano, e também não influenciou no resultado eleitoral. Mas, mais uma vez, optou-se pela manutenção do projeto encabeçado pelo Partido dos Trabalhadores.
Porém, quando se esta no governo há desgastes. Claro. Esses desgastes foram contribuindo para o aumento da quantidade de pessoas oposicionistas. Penso, de forma muito respeitosa, que a maioria não entendem efetivamente de política e fazem oposição a qualquer projeto que esteja no poder. E, nestes treze anos, ganharam “massa muscular”.
Mas, para mim, o que aprofunda essa cisão é o fato de que a esquerda não disputa projetos na sociedade. O PT, por exemplo, fez isso muito bem quando disputava eleições apenas para marcar posição e dar visibilidade às suas idéias e concepção de Brasil. Hoje esse dialogo é fraco. As pessoas, em meio a tanta coisa errada no Brasil, se juntam a idéias que vão contra si mesmas.
Negros e pobres defendendo a redução da maior penal, não entendendo que seus filhos poderão ser atingidos com essa medida. Não só porque cometeram crimes, mas essencialmente pelo preconceito, falta de oportunidade e demais injustiças que ocorrem hoje ainda, em 2015. Apóiam um discurso de que se há muitos impostos no Brasil e que qualquer imposto a mais é um “roubo”. Mas não vão ao cerne da questão que é a aplicação correta, planejada e sem desvios do dinheiro. Mais ainda, não se envolvem numa questão que para mim é central também: a taxação das grandes fortunas. É justo e correto acumular, mas quem tem mais deve retribuir ao ambiente onde vive.
Neste mesma manifestação que citei acima, na Praça do Bandeirante em Goiânia, ouvia no discursos gente falando do escândalo do Metrô de SP do Governo Alckmin, chamando de ladrão o atual governador de Goiás Marconi Perillo, dentre outras coisas. Esse não é o tipo de discurso que as pessoas querem ouvir. Isso não encanta e nem aproxima. E, enquanto o tom e argumentação de militantes de esquerda forem estes, continuaram as dificuldades de um dialogo eficaz entre estes movimentos políticos e a população, o povo.
*Edy Medrado é
Consultor de Negócios da Carvajal Informação. Presidente da APP Goiás. Profissional de Propaganda, Jornalista, Gestor Executivo de Negócios e Practitioner em PNL com experiência em e-commerce, jornalismo, marketing e publicidade nas principais mídias.