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Gismair Martins Teixeira

Os 106 anos do nascimento de Chico Xavier

| 04.04.16 - 15:31
Goiânia Antes dos memes e virais que fazem a festa na internet, o cinema já produzia as suas frases de efeito que se tornaram bordões icônicos. No filme “O Sexto Sentido”, de 1999, dirigido pelo indiano M. Night Shyamalan, o ator Haley Joel Osment interpreta um garoto que contracena com o personagem vivido pelo ator Bruce Willis, o psicólogo infantil Malcolm Crowe. O drama vivido pelo garoto é sintetizado por ele na frase que se tornaria célebre e apareceria intertextualizada em outros momentos e espaços cinematográficos: “Eu vejo gente morta, o tempo todo!” Era a sua dolorosa confissão ao terapeuta que também era uma “pessoa morta”, o que só é revelado no final do filme mediante as sutilezas narrativas adotadas por Shyamalan para manter o suspense ao longo da trama.
 
Guardadas todas as proporções possíveis entre a arte e a vida, o enredo de “O Sexto Sentido” encontra uma interessante correspondência com emblemática personagem da vida brasileira no século 20, que nesse dia 02 de abril completaria 106 anos. Nascido em 1910, na cidade mineira de Pedro Lepoldo, Francisco de Paula Cândido mais tarde se tornaria célebre sob o nome de Francisco Cândido Xavier. Ou, simplesmente, Chico Xavier. À semelhança do personagem de Joel Osment, o médium mineiro afirmava ver gente morta, os espíritos, o tempo todo. Isto, desde a mais tenra infância, conforme consta de suas diversas biografias. Chico Xavier encontrou o seu terapeuta na doutrina sistematizada pelo francês Allan Kardec, direcionando os seus dons segundo as orientações contidas na bibliografia kardequiana, composta de cinco volumes, além de outros onze livros em que se encontram enfeixados os números mensais da Revista Espírita, publicada por ele de 1858 a 1869, ano de sua morte.
 
Chico Xavier não somente via os espíritos, mas também escrevia ao influxo deles, no fenômeno mediúnico denominado por Allan Kardec de psicografia. Desse peculiar esforço intelectual resultaram, segundo algumas fontes, mais de 400 livros e milhares de mensagens. Como resultado desse vasto conjunto escrito, cujos direitos autorais foram cedidos pelo médium para um número significativo de instituições Brasil afora, criou-se toda uma rede de assistência social em várias frentes ao longo das décadas em que o médium viveu e atuou no Espiritismo brasileiro. Segundo Marcel Souto Maior, o seu biógrafo mais respeitado pelos não espíritas, só com os recursos financeiros de uma obra cedida por ele a uma instituição beneficente de um Estado nordestino foi possível a realização de mais de mil partos anuais para gestantes carentes.
 
“Várias frentes”
A polimorfa produção psicográfica chavieriana, independente das controvérsias em torno de sua origem, ou mesmo em função dela, tem despertado diversos estudos em nível acadêmico. Sua produção de estreia, intitulada “Parnaso de Além-Túmulo”, causou espécie à época. Hoje, em internetês, diria-se apenas que “causou”. Publicada em 1932, a obra trazia como conteúdo dezenas de poemas atribuídos às “pessoas mortas” de cerca de 20 poetas luso-brasileiros. Posteriormente, o médium lançaria também obras atribuídas ao espírito do escitor maranhense Humberto de Campos. Nesse último caso, o setor jurídico da vida brasileira se viu com um imbróglio sem precedentes, tendo de julgar ação da esposa do falecido escritor, que reclamou na justiça os direitos autorais dos escritos do marido morto.
 
Sobre os dois eventos diretamente ligados à intrincada relação vida literária e mediunidade, Alexandre Caroli Rocha defendeu dissertação de mestrado intitulada “A poesia transcendente de Parnaso de Além-Túmulo” no ano de 2001, que pode ser acessada no link . No ano de 2008, Rocha defenderia sua tese de doutoramento, intitulada “O caso Humberto de Campos: autoria literária e mediunidade”, que pode ser acessada no link. Ambos os trabalhos foram produzidos na pós-graduação da Unicamp de São Paulo.
 
A produção mediúnico-literária de Chico Xavier alcançou outras instâncias, como a cinematografia, na adaptação de obras por ele psicografadas. Desse número é o filme “Nosso Lar”, homônimo da obra atribuída a um espírito que adotou o pseudônimo de André Luiz. Nesse trabalho, o autor espiritual descreve aspectos de como seria a vida na outra dimensão, bem como a sua relação com o plano dos vivos no corpo físico. De forma simultânea à extraordinária produção bibliográfica, Xavier participou de um sem número de atividades assistenciais com as comunidades carentes da periferia das cidades de Pedro Leopoldo e, posteriormente, Uberaba, onde viveu até à morte, que ocorreu no dia 30 de junho de 2002, data em que o Brasil se sagrou campeão na Copa do Mundo de futebol daquele ano. A propósito disso, consta que Chico Xavier teria dito que gostaria de partir para a outra vida num dia em que o Brasil estivesse em festa. Mais profético, ou mediúnico, impossível.
 
Num momento grave da vida política brasileira, insta lembrar que o médium mineiro sempre teve profunda confiança no destino do Brasil, muito em função da grande bondade do povo brasileiro, segundo suas declarações em diversos momentos. Assim, independente de qualquer matiz ideológico, a vida de Chico Xavier se configura como um exemplo marcante dessa mesma bondade que ele via em seus concidadãos.
 
*Gismair Martins Teixeira é doutor em Letras e Linguística; professor da Seduce-GO.
 

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