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Natália Araújo

O sonho do emprego e o pesadelo das portas fechadas

| 10.03.17 - 14:30
 
João acorda cedo e corre para a fila do processo seletivo de uma empresa. Pensou em não tentar, mas os boletos em cima da mesa da cozinha pareciam gritar: “E aí, não vai me pagar?”. Por formação é administrador. A vaga ofertada, recepcionista. Ao chegar para entregar o currículo, assume o último lugar da fila que já contorna o segundo quarteirão. Os primeiros passaram a noite na porta do local de seleção. Nem a chuva foi capaz de espantar quem tanto sonha com um emprego. Todos fazem parte da estatística que aponta mais de 12 milhões de desempregados, em todo o país.
 
Ali divide com tantos outros, a esperança de poder chegar em casa e dizer: “arranjei um emprego”. Deitar a cabeça no travesseiro e dormir, na medida do possível, sossegado. A sua frente, um homem conversa com outro. Pedro relata que perdeu o emprego quando a empresa decidiu reduzir custos. Foi um dos primeiros a entrar na lista do corte. João se identifica. “Cheguei para um dia de serviço e me chamaram no departamento de recursos humanos. Foi horrível. Trabalhar uma década naquele lugar e depois ter que ir embora”, desabafa. Com a mão direita, segura o envelope com o currículo. A esquerda, enxuga uma pequena lágrima no canto do olho. Atrás de João, pelo menos mais 15 pessoas engradecem a fila. Todavia, outras sempre vem se juntando ao grupo. Dentre elas está Marina, que não tinha com quem deixar a filha Marcela, levou a menina de 10 anos para acompanha-la na espera.
 
Horas e horas esperando. Andando a passos lentos. Vencendo um quarteirão, depois o outro. Finalmente, é possível ver a porta por onde todos entram para se candidatar à vaga. Algumas pessoas foram embora, desistiram. O corpo se rendeu ao cansaço. A mídia mostra quão grande é a disputa. Realmente chega a ser desesperador. “Veja, telespectador do nosso Jornal do Almoço, quantas pessoas estão aqui”. O representante da empresa contratante chega a dizer que não esperava tamanha procura.
 
Praticamente nove horas depois da espera, João chega ao balcão. Entrega os documentos e a atendente com um sorriso diz: “Boa sorte”. A moça do lado, fala a mesma coisa ao outro homem que também entrega a documentação. A chamada do escolhido deve acontecer dali a três dias. João volta para a casa, dividido entre o misto de angústia, medo e um fio de esperança. Afinal, é o que todos dizem a ele: “Pense positivo! Tem que pensar que vai dar certo”.
 
Enquanto aguarda nos dias seguintes, vasculha os classificados, busca na internet as oportunidades em que pode se encaixar. Circula uma, duas. Liga em outra, encaminha e-mail para mais um processo seletivo. Vai a uma empresa, corre para outra. Vira uma rotina. E o telefone, nada de tocar. O prazo expira. Nada de contratação. As lágrimas rolam pelo rosto e a profunda tristeza o abraça. 
 
A noite é longa, lembrando de como era no último emprego, dos planos que fazia, das ideias que tinha. Adormece, mas dali a pouco o relógio desperta. É hora de colocar os sapatos e continuar a caminhada em busca de uma nova oportunidade.
 


*Natália Araújo é jornalista.
 

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