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Rogério Lucas

Flávio Peixoto, último risco do PMDB moderno

Os jurássicos devem estar satisfeitos | 08.02.12 - 18:16
 
A saída de Flávio Peixoto do PMDB extingue no partido em Goiás seu último sopro de modernidade ou a possibilidade de falar em planejamento administrativo. Sem retorno possível, o velho MDB que inaugurou a era dos governos planejados com Mauro Borges Teixeira - Goiás ainda hoje tem suas marcas -, e Henrique Santillo, que implantou o primeiro sistema estadual de planejamento, este PMDB sem Flávio mergulha de vez no mundo da improvisação que tanto agrada Iris Rezende Machado.
 
Os jurássicos do PMDB devem estar satisfeitos. Fazer política requer muito mais que propor ações planejadas, executá-las prevendo o melhor aproveitamento dos recursos públicos, usar tecnologia e meios para fazer as melhores obras. Pensam eles, os arautos do passado - hoje sem mais ninguém para chateá-los com teorias e conceitos inúteis -, que chutar a canela ou o pescoço do adversário, e depois construir asfalto, contenta o cidadão-eleitor e lhes dá longevidade no poder. Não admitem, nem de longe, que há novas demandas na sociedade, e que isto pode explicar o dissenso cada vez mais profundo entre Iris e as urnas. A exceção, de duas vitórias em Goiânia, pode não passar disto, exceção. Quem pregou o carimbo de ultrapassado na testa do ex-governador por duas ou três vezes foi o eleitor goiano.
 
Para que não me acusem de lunático ou outra coisa, conto histórias objetivas de que participei, envolvendo Flávio Peixoto e Iris Rezende. Planejo fazê-lo em ordem cronológica.
 
Começo em 1983, primeiro ano do endeusado retorno de Iris Rezende à administração pública, como primeiro governador eleito na redemocratização. Eu era repórter na hoje falecida Folha de Goyaz, à época agonizante, e fui pautado para escrever uma matéria inaugural. Sabia-se que havia recursos federais para construção de rodovias em Goiás, obtidos a fundo perdido pelo governo de Ary Valadão, com seu poderoso amigo ministro da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva. Usando de seu prestígio popular, ligações pouco explicadas até hoje no meio militar e influência entre os parlamentares goianos, o então candidato ao governo pelo PMDB conseguiu segurar as verbas federais para que fossem liberadas depois, em seu muito provável governo, como de fato ocorreu.
 
A missão do intrépido repórter, então, era, na beira do encerramento do primeiro semestre de 1983, descobrir quais estradas seriam construídas em Goiás. Todos os caminhos levavam a Flávio Peixoto, secretário de Planejamento, e ninguém mais sabia sobre o assunto. Um dia o repórter descobriu por que: simplesmente o traçado das novas rodovias a serem pavimentadas só existia na cabeça do Governador, e em menor escala, de seu planejador, que, à custa de muita pressão, decidiu pôr no papel o planejamento para executar o grande volume de obras. Ou seja, o dinheiro estava em caixa, mas o projeto executivo das obras ainda vagava no limbo político.
 
Outro episódio eloquente que vivenciei com as duplas Flávio/Iris, planejamento/improviso, deu-se já no segundo governo de Iris Rezende, iniciado em 1991. Participava de uma entrevista com o governador, no Jornal Opção, quando Iris foi instado a falar sobre planejamento administrativo. Pensou um pouco e decidiu abrir seu coração contando uma história. Tinha ido numa cidade para inaugurar certa obra e sentiu desde o palanque que a reação popular foi pequena, pouco entusiasmada. Já descido do palco, consultou seus aliados sobre as palmas pouco efusivas. “É que este povo quer é mais água tratada, e não outras obras”, disse um áulico mais ousado. Mandou botar água, fez novo palanque, foi aplaudido. E saiu convencido de que planejar obras é uma bobagem. Que isto não substitui nunca o contato com as lideranças intermediárias e a sensibilidade única que emana da experiência política, nunca de estudos e avaliações técnicas. Há quem veja nisto, até hoje, o vanguardismo de Iris. Há quem explique a partir daí suas derrotas. É avaliar os fatos.

Flávio Peixoto avaliava os fatos, a favor de Iris. Outro episódio para mim marcante foi na campanha de 1998, numa entrevista de Flávio Peixoto também ao Jornal Opção. Impossibilitado de mudar a forma de pensar do administrador Iris Rezende, adaptar seu pensamento aos novos tempos, Flávio usou todo seu instrumental acadêmico e experiência política para tentar adequar o velho discurso do asfalto à modernidade. Dourou o quanto pode a pílula para construir a ideia que às vésperas do século XXI, governar ainda era construir estradas, como queria Washington Luís nos albores do século XX. 

Transformou em escopo de governo tirar as pessoas da poeira, permitir o trânsito de veículos de transporte entre uma cidade e outra, como se à época os mutirões na roça pudessem ser organizados com caravanas de carros, ao invés das procissões originais. Uma limitação tacanha, admitamos, a um Goiás que aspirava crescer rumo à industrialização e se abrir a novas culturas, novas formas de ver e de pensar o mundo.

Flávio Peixoto fora do PMDB representa o fim desta ideia de tentar enxergar o mundo com os olhos do presente, ao invés de ficar vivendo das glórias do passado. Para não falar destas glórias, esqueçamos um tempo em que o PMDB tinha Mauro Borges, Henrique Santillo e Nion Albernaz em seus quadros.

A mim, o simbolismo da saída do último formulador do PMDB de Goiás lembra mais um título de artigo escrito pelo amigo Nilson Gomes, ainda no início da campanha eleitoral para o governo de Goiás, em 1998: “A era Iris já era”, vaticinava Nilson. Num momento em que o ex-governador ainda se alimentava na imagem de imbatível no campo eleitoral, e infalível na ação administrativa e política.
 
Com a saída/expulsão de Flávio Peixoto, vai-se a última pomba, diria o poeta Raimundo Correia, suspirando o tempo que passou.
 
*Rogério Lucas é jornalista.

Comentários

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  • 09.03.2012 10:34 heUtFyJXAYDNQOqa

    Lendo sobre a morte do Pedro Manoel Cardoso,lembrei-me de outra morte estfapida ocorrida em Maringe1,meu tio,Agenor Maia,estava linpamdo a calha de seu depf3sito de materiais de construe7e3o o extinto BR369,escorregou e cai le1 de cima batendo a cabee7a na cale7ada,morte besta e injusta mas fazer o que acidentes acontecem...Forte abrae7o Rigon...

  • 15.02.2012 02:21 João Carlos

    Grande escriba. Os goianos precisam ler os seus textos, gostem ou não. Um estado que quer ser grande precisa de análises lúcidas de seus jornalistas. É muito bom abrir o AR e deparar com um texto desse quilate. Os que reclamam poderiam contribuir escrevendo textos igualmente esclarecedores, sem paixões e impropérios.

  • 13.02.2012 05:55 Rogério Lucas

    As opiniões aqui manifestas pela militância peemedebista reafirmam a incapacidade de lidar e contraditar os fatos, apelando para a desvalorização de quem se lhes opõe. Nada a estranhar, apenas subproduto do que lhe ensinam seus líderes. O que vem a se somar a outras explicações, algumas contidas no texto, do por que o PMDB ser um partido que se esvazia a cada eleição em Goiás. Agradeço os comentários assim mesmo, em especial dos amigos Sandro e Carlos Henrique, e das muito queridas Ester e sua mãe, Dona Míriam. Os comentários são um estímulo a continuar dizendo o que penso e a me esforçar por fazê-lo de forma cada vez mais clara.

  • 10.02.2012 08:48 Miriam Guadalupe Galvão

    Brilhante a leitura que você faz sobre o "modus operandi" peemedebista que ao longo da história política em Goiás nunca se mostrou o mais atento à importância do planejamento nas ações de governo. Acho que o foco do PMDB sempre foi o de se limitar a fazer aquilo que a vista alcança, o que convence o eleitor e o cidadão, menos preparado, que vai elevá-lo a melhores condições e qualidade de vida. Gostei do artigo!!

  • 09.02.2012 07:32 Karla

    Ninguém é insubstituível, muito menos Flávio Peixoto! Tenho certeza que o PMDB preencherá cada buraco deixado pelos desertores e com maior magnificência.

  • 09.02.2012 07:10 Joel Naoum

    Ao contrário do que foi aludido pelo jornalista marconista, o PMDB realmente está oxigenando muito bem. Tem males que são para o bem, e a saída de Flávio Peixoto é uma delas. Como já comentaram aqui, é como uma troca de técnico que time nenhum poderia sustentar um mesmo a vida toda. Iris venceu, e bem, Marconi em Goiânia. Fato é, que a eleição foi comprada e essa dívida de Marconi para com os ocultos investidores está saindo muito caro ao povo goiano. Esvaiu-se a modernidade do governo Marconi e o governo Dilma vem socorrendo o estado em várias áreas. Ao terceirizar muitos setores da administração do estado, Marconi confessa a incompetência de administrar e, ainda, sai a galope a procura de ajuda financeira. Será que, governar bem, é só investir em propagandas enganosas, shows e em jornalistas a fora? Não. Governar bem tem que ter ter planejamento sim, mas, o principal é ter "coração" e sede de progresso, e isso, Iris tem de sobra!

  • 09.02.2012 04:10 Carlos Henrique Lucas

    Muito bem colocado! Uma análise cronológica bem lúcida e coerente! O PMDB está da forma que Iris Rezende gosta. Ditadora, antiquada e bastante antepassada. Abraço!!

  • 09.02.2012 05:48 alfredo jr

    belo artigo, em análise lúcida!

  • 08.02.2012 11:35 Augusto Vilela Pereira

    O senhor jornalista é hilário! Compare o que Íris e Marconi gastaram naquela eleição de 2010, até vc teria chances com o dinheiroque Marconi Gastou! Marconi comprou aquela eleição, mas a que preço? Sobre o dissenso cada dia maior, me parece que o senhor não tem muita facilidicade com matemática! Irís teve 47% dos votos! isso é pouco?? Enquanto Íris venceu, Flavio estava com ele, e agora vai embora. Isso chama oportunismo! E como outro disse aqui, Flavio foi e Vanderlan veio. Vanderlan que diferente de Marconi fez patrimônio antes de entrar na política. O senhor Lucas que me parece estar ultrapassado e parece também que é um desses jornalistas do Marconi. Passar bem. Twitter @AugustoVilelaP

  • 08.02.2012 10:33 Sandro Ragonezi

    Melhor nem comentar! Apesar de acreditar no amigo Lucas eu não consigo me acostumar com a ingratidão de ninguém . mas sou leigo no assunto...

  • 08.02.2012 09:01 Ester Carvalho

    Querido Rogério Lucas, Esperei muito um novo artigo seu, mas não o imaginei assim, tão "picante", lúcido e corajoso. Um primor. Tome banho de sal grosso na sexta feira porque a fúria do PMDB virá a galope. Mega abraço da fiel leitora, Ester

  • 08.02.2012 07:45 Bruna e Diogo

    O jornalista fala de estradas e asfalto como se fossem obras inadequadas e antiquadas. Mas vemos nessas obras, a visão de um futuro melhor. Como escoar os produtos industrializados sem estradas e sem asfaltos? Como atrair mais industrias sem uma malha rodoviária adequada? Vejam São Paulo e outros centros, como investiram nas malhas para industrializar. Andei por todos os bairros de Goiânia antes e depois dos asfaltos e o que vi: Antes: Poeira, lamas, buracos, pobreza, desanimo, doenças respiratórias, descaso. Depois: Ânimo e progresso. Em muitos bairros, logo começaram a chegar Farmácias; Supermercados; comércio de toda sorte; valorização dos imóveis; valorização dos moradores;... e assim por diante! Isso é saúde, é cidadania, é modernidade, é inclusão social. Asfalto... o progresso passa por aqui! Evidentemente que asfalto somente não é tudo, e nem poderia ser. Todavia, ele tem o seu lugar e se Goiás teve estrutura suficiente para estar onde está, devemos aos asfaltos, estradas, e infra-estruturas conseguidas por Iris Rezende. Iris preparou o estado para alavancar para o futuro e, isso não pode parar.

  • 08.02.2012 07:22 Goes

    Não concordo com Rogério Lucas. Flávio Peixoto esteve no PMDB nas últimas eleições e por tudo que ele fez, não deu certo, não conseguiu ajudar o PMDB a voltar ao Governo do Estado. Parecia moderno, mas de modernidade não tinha nada. Parecia um veículo com muitos cavalos de potência, mas não tinha tração para sair do atoleiro. Quanto mais mexia, mais afundava. Não tinha os ingredientes necessários para o que o PMDB voltar ao governo. Temos que admitir, Flávio Peixoto está mais ultrapassado que o próprio Iris. Iris tem uma capacidade de renovação e adaptação incrível. Experiência não se compra, se adquire, e isso, Iris tem de sobra. Com o que, Flávio Peixoto poderia contribuir no PMDB? Nada! É como um time que quer ficar com o mesmo técnico a vida inteira. Chega um dia, em um ponto que, já era. Isso é renovação, vai com Deus, Flávio Peixoto!!! As injeções que o PMDB deu ultimamente foram bem consideráveis com a vinda do Vanderlan Cardoso, Sandro Mabel, Ernesto Roller, Leonardo Veloso e os Jovens cabeças, inteligentes e progressistas como o Agenor Mariano, Leandro Vilela, Daniel Vilela e Bruno Peixoto, renovam e oxigenam o partido. Quando pensam que o PMDB, maior partido do Brasil já era, é não enxergar nem um palmo diante do próprio nariz. O PMDB, como o próprio Iris Rezende, tem a capacidade e a luz, de ressurgir das próprias cinzas.

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