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Gabriel Chalita

Páscoa, o amanhecer da vida

| 16.04.17 - 21:12
 
Amanheceu.
 
O túmulo está aberto. Os que conseguiram chegar perceberam que a morte já havia sido vencida. A noite demorada não resistiu. A luz chegou.
 
É um novo dia de novos dias que se sucederão. Os esforços dos senhores do poder deram em nada. Nada é mais forte do que o amor.
 
A Páscoa é a celebração do amor. Do amor que vence o ódio. Da vida que vence a morte. Da liberdade que vence a escravidão.
 
Os que odeiam são escravos do próprio ódio. Os que oprimem são escravos da própria opressão. Os que condenam são escravos da própria condenação.
 
Julgaram Jesus. Condenaram-no a deixar este mundo. Primeiro a cruz, depois o túmulo. A cruz persiste como sinal do que houve. O túmulo está vazio. Era pequeno demais para caber tanta vida. A morte nos inquieta. Certamente. Há um mistério entre o que vemos e o que gostaríamos de ver. Se pudéssemos saber o que acontecerá depois...
 
Fiquemos no que está ao nosso alcance. Olhar para o que aconteceu e aprender com o acontecido. E prosseguir.
 
Na Páscoa antiga ,a coragem de Moisés. Nem os exércitos nem as águas foram capazes de deter o seu sonho. Era um povo escravo que merecia a liberdade. Na Páscoa nova, é a vida de Cristo que renova a nossa. Um povo carente de um sinal. Estamos carentes desse sinal. Enquanto celebramos a Páscoa, há crianças aprendendo a serem suicidas, há outras chorando os pais, mortos "em nome de Deus", há outras vitimadas pelas violências tantas. E Jesus ensinou que cuidássemos delas.
 
Estamos carentes desse sinal. Enquanto celebramos a Páscoa, há famílias destroçadas pela violência, há guerras dentro das casas, lares que se transformam em palcos de morte. Apedrejadores em posição de alerta. E Jesus nos olhou com compaixão.
 
Estamos carentes desse sinal. Enquanto celebramos a Páscoa, há alguém ao nosso lado, esperando um gesto de amor, um reconhecimento, um cuidar que alivia o cargo pesado que mora em nosso destino. E Jesus nos deixou o mandamento do amor, do amor a Deus e ao próximo. Quem é o meu próximo? Passo ao longe e tenho pena ou desço de onde estou para cuidar de suas feridas?
 
Mundo ferido o nosso. Feridas abertas que precisam de um poder cicatrizador. Quem há de pegar a essência que ficou no amanhecer daquele túmulo para perfumar os ambientes e aliviar as dores? Os professores? Os médicos? Os artistas? Os pais? Os amigos? O próximo?
 
Quem é o meu próximo? Quem precisa de mim hoje? Se conseguíssemos responder a essa pergunta e encontrássemos esse irmão, celebraríamos uma Páscoa muito mais significativa. Seríamos menos escravos, menos trancafiados em nossos túmulos. Tristes de nós quando nos afeiçoamos aos túmulos e nos negamos a ver que estamos vivos e que o dia já amanheceu.
 
Tristes de nós quando fechamos os olhos fingindo que é bom estar onde estamos, no lugar dos mortos, dos que desistiram. Tristes de nós quando - avarentos de atitudes e de sentimentos - somos incapazes de abraçar a generosidade.
 
Páscoa é alegria. É esperança. Mesmo àqueles que passam ao longe das religiões vale um olhar para a história. Por que um filho de carpinteiro marcou a história da humanidade? Que carpintaria de alma é essa? Que poder é esse que atravessa os tempo e continua a fascinar? O seu fascínio está além das religiões. Está além do que conseguimos ver ou compreender. Seu legado é simples. Amar. Sem barreiras nem fronteiras. Sem muros. Sem nada que impeça de estender as mãos e cuidar. Do próximo. Do distante. De qualquer um cujos olhos se encontram com os nossos.
 
Páscoa é passagem. Barreiras, muros e túmulos tentam interromper o curso das vidas. E há quem defenda isso. Deixemos, por ora, essas escuridões de lado.
 
Amanheceu. E a esperança voltou a nos fazer companhia.

*Gabriel Chalita é escritor, doutor em Filosofia do Direito e em Comunicação e Semiótica.

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