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Renato Conde

Ato heroico de um fotógrafo sírio em reflexão

| 25.04.17 - 11:34
Goiânia - Mohammed Bouazizi, um jovem de apenas 26 anos, vendedor ambulante na região da Tunísia, em um desesperado ato de imolação, desencadeou (mesmo sem saber) uma onda de turbulências e revoltas populares que deram início ao fim de regimes autoritários no Oriente Médio. Começava ali a Primavera Árabe, em 2010. 
 
Em março do ano seguinte, adolescentes que pintavam o muro de uma escola com mensagens revolucionárias, consequentemente presos e torturados pelas forças de segurança do governo Bashar al-Assad, foram o estopim para protestos que eclodiram a guerra civil na Síria.
 
A capital Damasco e a cidade de Aleppo foram tomadas pelo cenário de batalha que ganhava forma de uma guerra sectária entre sunitas do país e xiitas alauítas. Grandes potências internacionais foram “atraídas” para o conflito. Grupos extremistas, como o autointitulado Estado Islâmico e o braço da al-Qaeda, a Al-Nusra, se envolveram e criaram uma verdadeira guerra dentro da guerra. 
 
Nos últimos dias tivemos acesso a uma imagem tão chocante e impressionante da explosão fatal de um ônibus que deixou pelo menos 126 vítimas em Aleppo. Do total de mortos, 68 eram crianças. As fotos circularam em todo o mundo, causando grande revolta. 
 

(Foto: Muhammd Alrageb)
 
Uma cena se destacou diante de tanta crueldade. O fotógrafo Abd Alkader Habak, que trabalhava naquele momento de tensão, deixou a câmera de lado para carregar uma criança ferida até a ambulância que prestava socorro. Como um profissional da área, impossível não mergulhar em uma leitura bastante profunda e reflexiva ao me deparar com a imagem.  
 
Habka com a câmera na mão e a criança nos braços é uma imagem digna de prêmio. Excelente o registro do fotógrafo que captou o momento, mas digo prêmio e reconhecimento a Habka pelo ato de heroísmo. Em uma entrevista à CNN, o fotógrafo herói disse que a primeira coisa que pensou em fazer, logo após a explosão, foi correr para ajudar e que não pensou em fotografar mais nada. Diferente de Muhammd Alrageb, colega de profissão detentor do registro. 
 
Não é a primeira vez que esse conflito na Síria gera imagens chocantes de violência, principalmente contra crianças. O pequeno Aylan Kurdi, encontrado morto em uma praia turca, é outro exemplo. Refugiado, perdeu a vida na expectativa de uma vida nova em outro País. O garoto Omarn Daqneesh, coberto de poeira em uma ambulância após uma explosão em Aleppo, também não pode e nem deve ser esquecido. 
 

(Foto: reprodução/Twitter 
 
Em uma pesquisa mais aprofundada sobre o momento, mais especificamente no vídeo publicado pelo Canal 4 News, vi várias cenas de pessoas ajudando a socorrer as vítimas. Porém, um detalhe me chamou muito a atenção e convido os leitores deste artigo a também refletirem sobre o que escrevo a seguir.   
 
Diante de tamanha crueldade, como podemos analisar o que é certo e o que é errado? É certo que um profissional da imprensa registre tudo e não ofereça socorro às vítimas? E se decidir estender a mão e ajudar o próximo, como nós leitores ficaríamos informados sobre o fato? E se essa informação não chegasse ao conhecimento de pessoas que podem tomar decisões de continuar ou acabar com a guerra? E a vida que possivelmente foi salva pelo fotógrafo? O que você faria? Eu ajudaria.
 

* Renato Conde é fotógrafo e chefe do Núcleo de Imagem do Gabinete de Imprensa do Governador de Goiás
 

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