Goiânia - Numa entrevista ao programa Roda Viva, em 1997, o então deputado federal Roberto Campos, de quem tive o privilégio de ser colega, afirmava: “A situação brasileira teria sido muito melhor se não tivéssemos seguido a senda da expansão estatal.”
Campos tinha já 80 anos, mas a lucidez era de jovem, e a força argumentativa se equiparava a dos grandes homens. Havia participado de projetos históricos da economia brasileira, do governo Vargas ao governo Castelo Branco, do plano de metas de Juscelino Kubitschek à fundação do BNDES.
Em todo seu percurso de vida manteve firme a luta contra o gigantismo estatal e o obscurantismo do sistema tributário brasileiro. Hoje, quando completaria cem anos, suas palavras parecem não ter envelhecido sequer um instante. Pelo contrário, reforçam a vitalidade e a pertinência nas atuais circunstâncias.
Diante de uma situação político-econômica que exige mudanças concretas de paradigma, é cada vez mais oportuno relembrarmos o pensamento liberal desse grande economista. Atualíssima, por exemplo, é a exortação: “A primeira coisa a fazer no Brasil é abandonarmos a chupeta das utopias em favor da bigorna do realismo.” Como é prudente, e sensato, seu chamado para que todos nós, governantes e cidadãos, recobremos os pés no chão e o senso prático da realidade.
Ainda nos atrasam ideologias que culpam o mercado e a iniciativa privada por uma crise econômica só explicada pela cultura da morosidade e do mal-uso dos recursos públicos. Se em 1997 Roberto Campos já nos avisava disso, em 2017 sofremos os nefastos resultados desse Estado que gasta mais com a própria sustentação do que com suas funções básicas. Para Campos, nenhum país será realmente livre enquanto estiver sob o peso de um Estado inerte.
Roberto Campos foi um filho do Brasil Central. Nasceu em Cuiabá, e posteriormente tornou-se senador pelo Mato Grosso. Carregou consigo a força, a fé e a dedicação típicas dos brasileiros do Centro-Oeste. Mas somou a isso larga experiência como diplomata e uma sólida formação acadêmica em economia nos Estados Unidos.
Seus críticos não gostavam dessa proximidade com o pensamento liberal norte-americano. Às críticas, entretanto, Campos respondia com lucidez e bom humor. Sua inteligência era reconhecida mesmo pelos adversários. Ele a destilava em doses contínuas na imprensa, cunhando artigos afiados, mas a exercitava, principalmente, na reflexão sobre o problema da pobreza, da desigualdade e da injustiça no Brasil. Foi um pensador humanista, acima de tudo, que viu no desenvolvimento do mercado a saída mais eficaz para os problemas socioeconômicos do país. Liberdade e opulência, essas eram suas bandeiras. Liberdade e opulência talvez sejam as bandeiras que agora, em 2017, novamente precisaremos levantar.
*Marconi Perillo é governador de Goiás.