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Declieux Crispim
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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

Cine Qua Non

Beduíno

| 23.04.18 - 09:02 Beduíno (Foto: Divulgação)
Goiânia - É impressionante a vitalidade com que Júlio Bressane, possivelmente o mais importante diretor do cinema brasileiro vivo, erige sua recente obra, Beduíno (2016), após mais de 50 anos dedicados ao cinema. Talvez nenhum outro diretor de nossas terras possua uma vasta quantidade de filmes de uma qualidade tão contundente esboçando um vigor e uma jovialidade singulares. No auge de seus mais de 70 anos, Júlio Bressane parece um garoto descobrindo sua paixão pela sétima arte, uma vez que é notório seus sentimentos, não sendo possível dissociar sua vontade de transgredir.
 
Um expoente do cinema marginal que não se prende a amarras pré-concebidas, a dogmas e conceitos cinematográficos que agradem à maioria, mas, acima se tudo, busca sua própria verdade, o que deve ser o mote primordial que baliza a produção artística. Encontrar seu próprio estilo para desfilar seus adjetivos intrínsecos e subverter padrões aos quais o público está condicionado. Não que muitos padrões e diretores que não os subvertem sejam menos valiosos, mas galgar seu espaço em favor de suas próprias convicções é um mérito admirável deste diretor que é sinônimo de vanguarda, tal qual Godard para o cinema francês, é possível estabelecer um paralelo entre ambos. 
 
Em Beduino, não há uma história propriamente dita, o onírico se faz presente e pode ser representado pelo sonho da personagem Alessandra Negrini, uma atriz que promove uma sinergia e uma força cósmica sobrenatural quando trabalha com Bressane, que se vê atormentada por um sonho que se repete ao longo de suas noites. Cordas e nós a envolvem e a prendem e a sufocam. À medida que o sonho se prolonga, a agonia se intensifica como se tivesse enforcando-a. Posteriormente, as cordas se materializam na sua realidade imiscuindo Negrini tanto no sonho quanto na vida real.
 
Se em Garoto (2015), seu longa anterior, a narrativa é burilada em torno de paisagens abertas, em Beduíno quase toda a narrativa é calcada em um ambiente interno promovendo uma façanha incrível pela química entre Alessandra Negrini e Fernando Eiras, totalmente debruçados na proposta do realizador, demonstram-se grandes atores em interpretações deslumbrantes e inesquecíveis. O lirismo se apregoa por meio de uma composição estética exemplar, com uma potência descomunal na presença da luz e a relação entre os atores numa encenação teatral. 
 
Para adentrar ao universo de Júlio Bressane é preciso se despir e se desarmar, permitindo que se deixe levar pela riqueza de signos e camadas de interpretação proporcionada pela obra aliada a um prazer estético inenarrável de um diretor que, mesmo com o passar dos anos, reinventa-se e se renova, provando que nem mesmo a idade é capaz de acalmá-lo. Seu desejo e sua paixão pelo cinema seguem intactos e esperar pelo próximo filme do diretor é sempre um prazer desmedido.   
 

Comentários

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  • 23.04.2018 17:27 Flávia Carelli

    Que leitura maravilhosa! O cinema brasileiro é maravilhoso! Parabéns!!!!

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