Eu já tive tudo quanto é tipo de corte de cabelo. Nem sei se me lembro de tudo. Algumas vezes, encontro uma fotografia antiga e fico pirando. O tempo passa e aumenta o ridículo. Na infância, gostava de raspar a cabeça com máquina três. Depois, comecei a timbrar um corte dois andares, aquele que fica baixo perto da orelha e mais alto acima. Com uns 12 anos, timbrei um belo mullet que dava até para amarrar. Na adolescência, com o auge do sectarismo rock n' roll, deixei o cabelo crescer. Não era tempo de cremes hidraloe fartos como hoje. Condicionador era o bom Neutrox amarelo. Deixei o cabelo até perto da cintura. Maria Bethânia era amadora perto do volume que minhas madeixas exibiam. Cortei o cabelo curto quando já estava cursando Jornalismo. A partir daí, fiz tudo quanto é sandice: deixei mexas longas e pintei de vermelho, mandei um topetão psychobilly, deixei o black power rolar solto, deixei crescer, cortei de novo, fiz dreadlocks...
Acho impressionante quem não tem vontade de mudar a cara, mudar o cabelo, mudar a barba. Tenho um amigo que está perto dos 50 anos e faz a barba todos os dias desde quando o primeiro fio grosso apareceu na cara. É muita loucura. Mudei de opinião tantas vezes na vida que não conseguiria tamanho estoicismo. Assim como o cabelo, minha barba já foi de tudo quanto é jeito. Em cada época, eu tinha um ídolo visual, alguém que eu admirava o corte de cabelo. Vou listar alguns abaixo.
Arnold Schwarzenegger – ainda menino, quando eu assisti Comando para Matar na Tela Quente, só queria o cabelo arrepiado do ator austríaco.
Branco Mello - eu ficava olhando o encarte do Õ Blésq Blom e pensando: “quando eu crescer, vou deixar o cabelo assim”.
Dave Grohl - na fase que eu tinha cabelo de Bethânia e vendo os vídeos do In Utero do Nirvana, meu sonho era bater cabeça igual o baterista.
Albert Hammond Jr. - quando os Strokes estouraram na virada do século, achei a despretensão cuidadosamente armada dos cabelos do guitarrista bem bolada e achei que aquele era o futuro.
Bruno Kayapy - no momento em que entrei de cabeça na Fósforo Cultural e nos aproximamos dos cuiabanos do Macaco Bong por meio do Circuito Fora do Eixo, vi que o lance era a despretensão de verdade. Mendigo way of life.