Alguém que não esteja há algum tempo envolvido mais de perto com as questões da Venezuela pode mesmo ter convicção do que fala sobre o caos político que sacode o país vizinho? Arrisco uma resposta: não.
Para quem acompanha os casos comodamente instalado há uns 5 mil quilômetros de distância há basicamente duas formas de se informar sobre o que acontece na república de Nicolas Maduro: a chamada mídia tradicional ou a mídia alternativa (essa hospedada basicamente na web).
Quanto à mídia tradicional (aqui como sinônimo de grandes veículos de comunicação) as acusações são velhas (e muitas vezes justas) conhecidas: são veículos manipuladores, movidos por interesses inconfessáveis, muitas vezes alinhados aos interesses “estadunidenses” – e dezenas de chavões parecidos repetidos como mantras.
Sob essa ótima, a mídia alternativa surge como um bálsamo, as plataformas digitais finalmente possibilitaram a circulação da informação verdadeiramente democrática e alinhada aos interesses dos cidadãos. Tal raciocínio pode ser aplicado a casos bem mais próximos, como a Primavera Brasileira desencadeada desde meados do ano passado.
Pena que se trata de uma grande mentira.
Voltando à Venezuela. A “grande imprensa” divulga diariamente imagens dos conflitos que já deixaram vários mortos nas ruas de Caracas, as forças armadas derramam sangue em defesa do governo central. A mídia alternativa mostra imagens de apoio popular a Maduro e dizem que são os líderes de oposição que fomentam a violência em busca de mártires para o golpe antidemocrático.
Ocorre, contudo, que boa parte dessas imagens divulgadas por blogs e portais engajados, tanto de um lado quanto de outro, também passa por filtros ideológicos e, em alguns casos, são apenas manipulação grosseira.
Há acusações de que fotos de mortos e da repressão policial são, na verdade, de conflitos ocorridos em outros países, inclusive no Brasil. Por sua vez, imagens de passeatas populares em apoio a Maduro seriam, na verdade, de celebrações religiosas sem qualquer ligação com o momento político da Venezuela.
Fica difícil decidir em quem acreditar. Cada um tem seus próprios critérios, que passam pela história pessoal, formação, convicções ideológicas...
Fato é que a mídia alternativa padece dos mesmos pecados da mídia tradicional. Afinal, a técnica (ou a tecnologia) não tem vida própria. Ela é utilizada por homens. E homens têm seus próprios interesses.
Então, de que lado está a verdade? Esta é a pergunta de 1 milhão de dólares.