Goiânia - Não sou macaco, não tenho sobrenome indígena e não caí na pegadinha do Ipea. Nas minhas timelines do Facebook, Twitter e Instagram, a quantidade de gente com essas características é tão grande que é difícil escapar de certo sentimento de peixe fora d'água (ou internauta fora do mundo virtual).
De domingo para cá, a cada atualização de perfil, saltam fotos de gente comendo banana com a hashtag #somostodosmacacos. Claro que você sabe do que estou falando (a não ser que estivesse passando uma temporada no Kleper 62-f).
Nada mais contemporâneo que o ativismo virtual. Trata-se de um movimento natural e válido numa sociedade hiperconectada. Há, inclusive, casos de pressão bem sucedida.
Ocorre que, muitas vezes, as mobilizações virtuais não passam de efeito manada. Surgem e somem como nuvens no céu. Quem não se lembra, por exemplo, a onda de inclusão do sobrenome Guarani-Kaiowá nos perfis do Facebook? Mesmo munidos de boas intenções, a verdade é que boa parte dos que aderiram à campanha tinha pouca ou nenhuma informação sobre o que de fato envolvia a situação.
E ninguém fala mais nada sobre o assunto. Assim como não se tem notícia de diminuição de ataques às mulheres após o #nãomereçoserestuprada e, provavelmente, o racismo não recuará uma vírgula com o #somostodosmacacos (que, aliás, só vincula ainda mais as vítimas desse sentimento odioso à imagem pejorativa do nosso parente primata).
Porém, é quase irresistível a vontade de aderir a esses movimentos. Afinal, bastam alguns cliques para preencher a necessidade de pertencimento, ainda mais a uma causa aparentemente justa.
Mas, nunca é excessivo lembrar: Quando o ativista de Instagram não leva a pauta para o “mundo real”, a indignação continua sendo sempre “uma mosca sem asas”.