Para ler ouvindo:
The Roots | How I got over
O Setor Sul é o bairro que eu gostaria de voltar morar. Morei por pouco tempo quando era criança, mas até hoje sinto falta da bananeira e dos copos de leite que meu pai plantou na porta, bem como dos besouros que vinham nos visitar (colocava todos em um potinho de vidro com tampa furada e ramos de hera. Eram meus insetos de estimação). A atmosfera pacata, as casas de quintais enormes, a localização privilegiada e os becos comunitários contribuem muito para a qualidade de vida dos moradores.
Quando saio desbravando a cidade de bicicleta, não consigo evitar passar pelas ruelas do bairro. Tudo me puxa para lá, especialmente a paisagem. De uns tempos para cá, vejo o Setor Sul virar uma galeria a céu aberto, graças ao trabalho extremamente talentoso, sensível e ousado de alguns artistas, como Morbeck, Decy, Luz e outros, que resolveram se apropriar de becos um pouco esquecidos pelo poder público.
O que antes era espaço abandonado ganhou vida a partir da arte urbana; o que era cinza e sem graça virou uma explosão de cores; o que era uma simples passagem de pedestres virou um lugar de resgate de percepções e sensibilidades através da arte. Dos becos do bairro, talvez o principal seja o Bacião. Cada dia que passo por lá, vejo um desenho novo ganhar forma nos muros. A melhor parte do Setor Sul é que a maioria desses becos são interligados entre si e não há nada melhor do que pedalar por eles, escolhendo trajetos e aproveitando a cidade.
(Fotos: Raisa Ramos)
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