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Leticia Borges
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Leticia Borges é especialista em Língua Portuguesa, jornalista, professora e palestrante. / leticia.textos@gmail.com

Língua e letra

Tire o frufru do e-mail

A objetividade é a dona do texto | 22.05.14 - 15:23

Goiânia - Dia desses solicitei a segunda via do boleto de condomínio. A empresa administradora demonstrou uma agilidade digna de elogios: quando desliguei o telefone, o e-mail já havia chegado. Seria tudo muito fofo se a história terminasse aí.
Mas não terminou. Quando abri o e-mail me deparei com esse texto:
 
“Prezada Senhora,
 
Vimos por meio deste atender ao solicitado em contato telefônico com nossa empresa. Conforme o combinado, foi enviado em anexo junto com este e-mail o boleto requerido com data aprazada para este mesmo dia. Esperando ter prestado um bom atendimento, colocamo-nos à disposição para eventuais necessidades posteriores. 
 
Nossos cordiais agradecimentos.”
 
Eu deveria usar um traje a rigor para ler essa mensagem. 
 
Mas a história ainda não terminou. Agora vem a cereja do bolo.
 
Assinava o e-mail uma funcionária bem criativa, conhecedora das ferramentas de informática e usuária de redes sociais.
 
A assinatura estava em letra desenhada, cor-de-rosa e com direito a uma borboletinha no final.

Fiquei imaginando o que poderia ter resultado naquela reunião de equívocos de naturezas tão diferentes. Provavelmente o texto seja repassado a todos os funcionários como padrão, devendo ser reproduzido tal e qual. Um texto que aparenta ter sido escrito há uns quarenta anos, assinado com características de linguagem jovem de internet.

Então temos nesse singelo exemplo (e bem real) dois problemas da comunicação empresarial de hoje: o arcaísmo – uso de palavras e expressões que estão em desuso – e a informalidade excessiva, que vem da sensação de liberdade que a internet nos proporciona.

Ambos são prejudiciais e interferem na imagem da empresa.

Um texto rebuscado demais, cheio de não me toques, além de ser cansativo e, muitas vezes, chato, contraria as características essenciais da comunicação moderna: clareza, concisão, coerência, coesão e objetividade.

Ninguém tem tempo para se deleitar com correspondências imperiais. A paciência de quem recebe cem, duzentos e-mails por dia se esgota nas primeiras linhas. Por isso é que muitas “fórmulas de boa escrita” não são mais utilizadas. Ou não deveriam ser, já que o hábito perpetuado funciona como lei. E confunde-se bajulação com profissionalismo.

Explicar que o “venho por meio deste” não é mais recomendado desde a década de 80 causa espanto em muita gente, que se desespera e acha que nunca mais vai conseguir escrever um memorando.

Do outro lado, o da borboletinha, a falta de distinção entre a postura necessária a um profissional e o direito de brincar com a tecnologia abala a seriedade de qualquer documento.
 
Entre esses dois extremos há várias coisas que devem ser analisadas na hora de escrever. Algumas vêm dos padrões e das normas.
 
Outras do bom senso. Enquanto não se sabe tudo, é melhor começar tirando os frufrus do seu e-mail.   

Atenciosamente,
                                                                                                                          
 

Comentários

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  • 17.06.2018 13:10 André

    Na verdade você ficou chateada com a situação e resolveu detonar com a pobre funcionária que escreveu um texto bem escrito. Posteriormente, você assinou o texto como jornalista e palestrante para tentar justificar que a sua opinião vale mais que a da moça. Tentou ser superior à ela. Infelizmente, mais uma carteirada de uma pessoa que não gostou de ser cobrada, essa é a realidade.

  • 23.05.2014 18:27 Letícia

    Esta coluna aqui poderia ficar em primeiro plano no site. Interessante saber mais sobre a língua portuguesa. Gosto também da Raísa. Leio sempre!

  • 23.05.2014 08:48 Fabiana

    Muito bom o texto Letícia...Super pertinentes as suas colocações...

  • 22.05.2014 21:21 Solimar

    Muito bom! Amadorismo está em todo lugar, infelizmente.

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