Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

Sobre o Colunista

Elisa A. França
Elisa A. França

Jornalista formada pela UFG, especializada em comunicação ambiental, com passagem pelo Greenpeace e pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). / eafranca@gmail.com

Ambiente Urbano

Ocupa, Setor Sul

Moradores e "forasteiros" se movimentam | 16.06.14 - 09:50 Ocupa, Setor Sul (Foto: Elisa A. França)Alguma coisa acontece nos corações de Goiânia. Um deles, sem dúvida, é o setor Sul. Um dos bairros mais antigos da cidade, coladinho ao Centro, ele está “do lado esquerdo do peito” de muitos moradores da capital. De uns, que passaram a infância ali, na casa de seus pais ou seus avós. De outros, que têm certa nostalgia de um tempo com atrativos um pouco desaparecidos nos dias de hoje – como as brincadeiras de rua, o bate papo na calçada, as ruas e a vida um tanto mais pacatas.

Mas além de ser um bairro relativamente tranquilo e cheio de memórias, desde sempre o setor Sul esteve abandonado. Em praças perto de grandes avenidas, existem verdadeiros presentes para os olhos e os pulmões, mas que são também locais escuros e absurdamente degradados, com bancos de concreto quebrados, lixo e entulho à mostra, e afins. É o que acontece, por exemplo, na viela da rua 124 (saindo da 84). Em outra praça (na avenida 85-A ou Cora Coralina), uma empresa de telefonia instalou há muitos anos uma antena, em cima de onde antes havia um parquinho com roda-roda e gangorra.

Desejando contornar essa situação, moradores do bairro têm se movimentado. No Bosque dos Pássaros, na rua 118, os próprios vizinhos é que cuidam das áreas públicas. Outro pessoal está se articulando para criar a Amassul (Associação dos Moradores e Amigos do Setor Sul), falando em dar nova vida às praças e restabelecer a segurança do local.

Artistas locais também estão ocupando esses espaços, que a jornalista Natália Garcia, do projeto Cidade para Pessoas, chamou de “jardins invisíveis”. Um projeto em Goiânia quer, inclusive, mapear os numerosos grafites já existentes, com o objetivo de refletir sobre o que a arte urbana diz da cidade. Foi em uma das três caminhadas da Jane’s Walk 2014 que a Hábil Produção, responsável pela ideia, começou a botá-la em prática. Por sua vez, as Jane’s Walk organizadas pela arquiteta Carol Farias em Goiânia, da Sobreurbana, propõem uma nova relação com a cidade, a partir do ponto de vista do pedestre. Muitas coisas legais estão acontecendo por aqui!

Do passado
Do início da ocupação do bairro (nos anos 1940) para cá, o setor Sul não mudou tanto. Mas foi palco de mudanças drásticas como o rasgo feito no meio de vielas e praças pela avenida Cora Coralina, imposição questionável que deu vazão aos carros com rumo a uma universidade instalada no bairro, em 1999. Como também as alterações no trânsito em torno da Praça do Cruzeiro em 2011, mais uma vez com o objetivo de amenizar as agruras do transporte particular, transformando ruas sossegadas em vias de trânsito intenso. “São cicatrizes que desconfiguram partes do bairro”, afirma a arquiteta e urbanista Maria Ester de Souza, professora na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Também vem mudando o perfil das construções, afinal muitas casinhas de vó se transformaram em escritórios ou lojas no decorrer das décadas.

Armando de Godoy, urbanista responsável pelo projeto do setor Sul, se inspirou na “cidade jardim” inglesa do fim do século 19, e criou um bairro com farta área verde – 17% de sua extensão. Sua característica mais singular, no entanto, é o desenho das ruas e quadras, em cujos semicírculos chamados “cul-de-sac” se deveria ver o fundo das casas. A entrada principal é que teria de estar voltada para as áreas livres interligadas, condição número um para que não se transformassem em espaços abandonados desde a sua criação.

Quanto a mim, aprendi a andar de bicicleta com meu avô, em uma viela do setor Sul. E você?

--
eafranca@gmail.com
twitter.com/elisa_franca

Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:
  • 30.06.2014 10:26 Daniel Mendonça

    Eu morei 23 anos no Setor Sul, mais precisamente na 115-F, e lá não somente aprendi a andar de bicicleta, como a soltar pipa, jogar futebol, volei e o famoso bete, como muitas outras brincadeira em um tempo em que não existia computadores e tablets para adultos e muito menos para crianças. Foi um tempo muito feliz, onde fiz amizades que duram até hoje, e uma saudade que bate forte no coração quando ainda passo pelo bairro. Acho muito ruim ver as praças abandonadas e depredadas, lugar de muitas brincadeiras com os vizinhos. Fui feliz no Setor Sul e hoje com 36 anos, recordo o passado e vejo que fui uma criança feliz, e que Graças a Deus fui criado brincando na rua, em um tempo que não era perigoso como hoje, infelizmente esse período não volta, mas torço para a revitalização do bairro que eu amo, que me criou, e que quem sabe um dia posso voltar a viver.

  • 17.06.2014 15:45 Renata Normanha

    Realmente o setor sul poderia ser um dos bairros mais bonitos de Goiânia, sua vielas e praças fazem dele o lugar perfeito para se viver. Mas o que tem acontecido é o contrário... Convido vc para ver o que sobrou da praça ao lado do MARTIN Cerere que depois de 2006 passou a ter o nome de meu pai. É degradante ver o que acontece nos fins de semana e agora como se não bastasse tudo isso, a praça se transformou em abrigo de gente de rua... Tem um sofá velho no meio da grama que já nem mais existe, fazem uma fogueira e ali passam a noite fazendo sei lá o que... o parque construído na época, foi todo destruído, os bancos quebrados e o lixo nem se fala. Moro no setor sul desde que nasci e por uns tempos paguei gente para limpar a praça duas vezes por semana, mas depois percebi que não adiantava... venha conhecer e ver o que sobrou do belo projeto feito para essa área.

  • 16.06.2014 17:42 Maria Bernadete França Jufer

    Muito contente em vê-la de volta, Elisa! Precisamos de gente como vc para defender o nosso ambiente e as belezas da cidade. Passei grande parte de minha vida no Setor Sul. Trago lembranças de pracinhas, vielas e casas com jardins floridos. Não aprendi a andar de bicicleta lá, mas dei grandes voltas pelo bairro. Bati longos papos com amigas no portão de casa. Passeei por suas ruas com meus filhos e sobrinhos.Obrigada por lutar por este setor, que com certeza, está no meu coração e no de toda minha família. No "lado esquerdo do peito" de muitos antigos e atuais moradores.

  • 16.06.2014 14:59 Ana Maria L. A. França

    Vivi a maior parte da minha infância no setor sul, entre um endereço e outro, e brinquei em muitas "vielas", como chamávamos esses espaços abandonados. Era onde praticávamos todas essas brincadeiras de rua, como queimada, amarelinha, finca, bolinha, futebol... Concordo com o dr. Heitor Rosa quanto à incompetência e falta de sensibilidade do poder público.

  • 16.06.2014 14:34 Juliana Costa

    Ótimo texto mesmo! E muito gostoso de ler! Fico feliz em saber que boas ideias e atitudes estão surgindo para esse bairro que podia e ainda pode ser tão único e cheio de qualidade!

  • 16.06.2014 12:54 José Manuel Toledo França

    Eu joguei futebol de golzinho na 102A, cacei passarinhos com estilingue (naqueles tempos era normal para uma criança)e brincava nas ruas poeirentas com meu cachorro. Mas nunca gostei muito do projeto do bairro por causa das calçadas estreitas...

  • 16.06.2014 12:13 heitor rosa

    Ótima análise do S Sul. O setor,em minha visão,tem os seguintes fatores de risco: 1)Desconhecimento da história urbanística da cidade pelas autoridades incompetentes; 2) insensibilidade e agressão urbanística por autoridades sem vínculo ou raízes com a cidades; 3)as empreiteiras que, como tubarões, rondam as áreas desprotegidas.A comunidade deve tomar as praças, a exemplo das ruas 125(s.bueno) e a 109 (s.sul)

  • 16.06.2014 11:48 maria ester de souza

    òtimo texto Elisa, fácil e completo de informações para iniciar uma cultura de pensar na cidade como lugar de conviver e não apenas de passagem.

Sobre o Colunista

Elisa A. França
Elisa A. França

Jornalista formada pela UFG, especializada em comunicação ambiental, com passagem pelo Greenpeace e pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). / eafranca@gmail.com

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351
Ver todas