Goiânia - Eu não sei mais o que fazer. Vejo DDD de outros estados em meu celular e não atendo mais. Só que os caras são insistentes, eles não desistem, não sabem o que significa um não. Se algum empresário quiser montar um curso sobre determinação e foco aos seus funcionários deveria buscar quem orientou essa galera que não para de me ligar. O problema é seu cliente chegar ao grau de estafa que atingi.
Para não dizerem que estou sendo explícito, vou mudar os nomes para evitar identificações. Fiz uma assinatura de gibis para minha filha. Eles são personagens bem populares no Brasil. Vamos dizer que eles são da Turma da Mência. A protagonista tem como amiguinhos o Salsinha, o Sujão e a Migalu, todos criação do genial Marcelo de Soula. Peguei aquele pacote combo, com os almanaques especiais e tudo incluso. Pelas minhas contas, ainda falta um ano para acabar a assinatura. Mas deu um pau no sistema da, digamos, Editora Pinana. E há uns quatro meses eles me ligam diariamente para eu renovar algo que ainda não venceu.
No começo, fui paciente. Peguei minhas faturas de cartão de crédito, fui mostrando os débitos para a vendedora e ela reconheceu que ainda faltavam muitos meses para a renovação da assinatura. Ela concordou e eu achei que se tratava somente de um desencontro de informações. Poucos dias depois, me ligaram de novo para a renovação. Ou seja, não adianta.
Eu gritei, pedi para não me ligarem mais, clamei pelo amor de tudo quanto é santo. Em vão.
Até que no final de semana revolvi dar o perdido geral. Em alguns momentos, assumir a ré é o melhor a fazer. Ligaram e eu falei que não queria mais renovar. Disse que prefiria perder os meses de gibis que tenho direito e comprar as revistinhas na banca de revista mês a mês. Tudo para fugir do estorvo.
Fui ingênuo, para não dizer imbecil. Abri uma caixa de Pandora que agora não tem mais volta. Os caras me ligam três vezes por dia após o pedido de encerramento da assinatura. Não sei mais o que fazer.
Quando a insegurança bate, como homem adulto e maduro que sou, fui chorar no colo de minha mãe. As palavras dela não foram das mais animadoras. Ela também passou pelo mesmo. Tive a ideia de fazer a assinatura dos gibis da Turma da Mência por que ela fez o mesmo quando eu era moleque. Devo meu amor pela leitura àqueles pacotes verdes de plástico que mensalmente chegavam pelo Correio. Fui na boa intenção de fazer o mesmo pela minha caçula. Só que eu não sabia do lado sujo que havia por trás daquela encomenda da alegria.
Como não havia celular naquela época, os caras ligavam em casa e no trabalho de minha mãe até não poder mais. Ela era vencida pelo cansaço e acabava renovando a assinatura. Tem coisas que só mesmo mãe faz por nós. Aguentar o call center de vendedor de gibi é uma delas.
Como as gerações passam e continuamos sempre os mesmos como nossos pais, eu agora enfrento o mesmo problema. Se alguém tiver a solução para que eles entendam que eu não tenho que renovar os gibis, por favor, me dê uma luz. Caso contrário vou acabar mudando o número do meu celular para fugir desse maldito call center.