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Tutti-frutti

Rá-Tim-Bum

Da nostalgia à hipocrisia | 28.07.14 - 10:18 Rá-Tim-Bum (Foto: reprodução/internet)
 
Goiânia - As filas que dobram quarteirão em volta do Museu da Imagem e do Som (MIS) em São Paulo, onde está a exposição "20 Anos de Castelo Rá-Tim-Bum", são um caminho que me leva a duas reflexões. Primeira: não é verdade que o brasileiro é avesso à arte e à cultura, como apregoa o senso comum vira-lata. E segunda: trata-se de uma nostalgia que, por um lado, é bela, mas por outro beira à hipocrisia.
 
Explico. 
 
O "Castelo Rá-Tim-Bum" foi um programa infantil educativo de uma TV Cultura que caminhava para ser, guardadas todas as devidas proporções, um tipo de BBC tupiniquim: pública sem ser político-partidária, educativa sem ser chata e criativa, acima de tudo. 
 
Essa Cultura produziu programas brilhantes, como o próprio "Castelo" ou o "Rá-Tim-Bum", que o antecedeu, ou ainda o "Mundo da Lua", também para o universo infantil. Para jovens, havia, por exemplo, o "Matéria Prima", com um Serginho Groismann que fazia coisas muito melhores que apenas lamber globais. 
 
Para adultos, havia telejornais investigativos como o "60 Minutos", programas de debate de alto nível como o "Roda Viva", uma grade cultural diversificada e muito bem trabalhada no "Metropolis", entre outros tantos exemplos.
 
Acontece que essa TV Cultura está morta e o mesmo público que abarrota o MIS para quase chorar de emoção com os figurinos e cenários do "Castelo Rá-Tim-Bum" nada faz no sentido de reivindicar a volta de uma grade de qualidade na telinha mágica de uma emissora bancada com nossos impostos. 
 
Muito pelo contrário: apesar do excelente padrão que tinha, a Cultura nunca esteve nem perto de uma boa audiência (a Xuxa sempre foi muito mais querida no Ibope que a bruxa Morgana).
 
O que temos de programação infantil, hoje, na TV aberta é um esgoto fétido que mistura apelo ao consumismo e à erotização precoce, além da violência banalizada em desenhos animados que muitas vezes se parecem com filmes de terror.

Ou seja, não ficou sequer um legado do "Castelo Rá-Tim-Bum" na TV brasileira e nisso todos temos culpa, afinal, antes de tudo, a Cultura é uma emissora pública e mesmo nas outras (comerciais) temos o direito e a possibilidade de influenciar na programação, desde que nos engajemos.
 
Sintonizar a TV Cultura, hoje, é quase entrar num museu televisivo: reprises, reprises e mais reprises. Quando não, é um palanque político que a emissora se transformou, a serviço do partido que governa o Estado há duas décadas, quase uma dinastia que parece não ter fim. 
 
O "Roda Viva" virou sucursal da revista "Veja" e todos os diretores geniais que criavam coisas como o "Castelo" - e tinham projetos brilhantes para sucedê-lo- nem têm mais cargo na emissora que só corta investimentos e não mantém nenhum projeto de futuro.
 
Nada contra os que estão na fila para ver os personagens do "Castelo" no MIS. Eu mesma quero logo me somar a ela. Mas penso que poderíamos ir além e aproveitar essa nostalgia para refletir e agir sobre qual TV queremos ter em nossas salas, fazendo a cabeça de crianças, jovens e adultos. 
 
A reflexão sobre a “arte imita a vida” – ou seria “a vida imita a arte” – é cabível. Devemos parar e refletir sobre o que estamos permitindo que os nossos filhos assistam. Salvo poucas exceções, a péssima qualidade da programação da televisão aberta no Brasil é aquiescida por nós brasileiros.
 
Na guerra das emissoras pela audiência, tudo que dá audiência se copia e, na maioria das vezes, programas com formatos idênticos passam, exaustivamente, em canais e emissoras diferentes.
 
Em meio a tanta baixaria, programas sensacionalistas, filmes repetidos, humorísticos apelativos, é difícil encontrar algum tipo de programa de qualidade para os olhos do telespectador exigente.
 
Censurar, apenas, não é a solução. Já superamos esta fase. Provavelmente o caminho para a solução esteja na conscientização da população para que sejam exigidos programas mais inteligentes e não apenas novelas em que se tem sempre um final feliz.
 
Se quisermos uma TV aberta de qualidade, precisamos separar o exercício da liberdade de expressão da prática do entretenimento nivelado por baixo. A qualidade dos programas de nossa televisão só mudará à medida em que a educação da população brasileira avançar.
 
 
Serviço:
Castelo Rá-Tim-Bum, A Exposição.
Data: de 16 de julho a 12 de outubro.
Horário de funcionamento: de terça a sexta, das 12h às 21h. Sábados, das 10h às 22h. Domingos e feriados, das 10h às 20h.
Local: MIS.
End.: Avenida Europa, 158 − Jardim Europa − zona Oeste − São Paulo.
Preço: na bilheteria, R$ 10. Antecipado, R$ 30. Estudantes têm 50% de desconto.
Tel.: (11) 2117-4777.
www.mis-sp.org.br

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