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Pablo Kossa
Pablo Kossa

Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

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O último cliente de bancas de revista

Quando a derradeira banca fechar, lá estarei | 12.08.14 - 10:31

Goiânia - Você, nobre leitor, já deve ter passado por alguma banca de revista na vida. Para comprar um cartão de recarga do celular, cigarro ou qualquer outro badulaque. Você é uma pessoa normal, do século XXI. Não é o meu caso. Eu frequento banca de revista semanalmente. Só para olhar o que chegou de novo, ver as capas das revistas, os gibis e, se algo interessar, levo para casa. Sou basicamente um homo erectus alfabetizado.

Tenho certeza que você não faz isso na banca de revista. Afinal, sou muito mais velho que você – senão de idade, certamente de espírito, disposição, ideias e paciência. Tenho convicção que serei o último cliente da última banca de revista do mundo. Minha certeza para tal afirmação é simples: em toda banca que entro, sou o mais jovem olhando o que pintou de lançamento por ali.

Nessas bancas mais modernosas, os mais novos estão imprimindo algo na lan house. Nas mais tradicionais, estão comprando picolé ou cartão de celular pré-pago. Quem me acompanha olhando as prateleiras, folheando as publicações e levando papel, sim, papel, para casa é só gente grisalha e com a vista cansada – companhias que me orgulho de ter.

Aprendi a frequentar banca de revista com meus pais, na heróica banca da Praça do Avião. Eles iam lá comprar o jornal ou alguma revista e sempre eu saía no lucro, com figurinhas ou gibis nas mãos. Fui crescendo e o hábito não esvaeceu. Depois dessa fase, vieram a Placar, Mad, Bizz, revistinhas de cifras de violão, revistinha de sacanagem, Playboy, Caros Amigos, Bravo, Cult, quadrinhos adultos, Piauí, Rolling Stone... Cada fase de minha vida foi acompanhada de uma revista que eu comprava na banca.

Não vejo meus contemporâneos com os mesmos hábitos, salvo raras exceções. Da minha geração em um dos meus trabalhos, sou o único que ainda lê jornal no papel. Dos amigos que tenho de frequentar a casa, sou o único que tem espaço na sala para as coleções de revistas. Bem-vindo ao meu universo em extinção!

Confesso que me rendi à comodidade de assinar algumas revistas que faço questão de ler mensalmente. As outras, a capa tem que me ganhar. Uma manchete, uma entrevista, uma foto... É a mesma coisa com os gibis. Não acompanho nenhum mensalmente. Mas se a história me pegar pela capa na banca, vou até o fim daquela trama.

Só leio jornal pelo tablet no final de semana, quando estou com preguiça de sair de casa. Só leio gibi no mesmo dispositivo se eu não encontrar nas bancas ou no Estante Virtual. Estou no meio do caminho entre o analógico e o digital, mas com tendências claramente retrógradas.

Sei que estou com os dias contados. Mas o que é minha vida senão sempre nadar contra a corrente só para exercitar? Obrigado, Cazuza. Até a última banca fechar, lá estarei olhando as revistas e gibis. E entulhando minha casa de papel, para alegria dos ácaros e terror dos alérgicos.


Comentários

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  • 14.08.2014 00:10 Juliana Conceição de Oliveira

    Caro Pablo, vc como sempre acertando. Esta nostalgia por papel,revistas pertence a um número cada vez menor de pessoas. Cresci numa casa onde sempre circulou muito papel. Pequena gibis da Disney e mais velha afundei no acervo do meu pai: quadrinhos P&B do Tex,revistas Chiclete com banana do Angeli e Seleções, sobre fotografia (meu pai é fotógrafo) e até mesmo Playboy. E claro minha capricho! Hj assino algumas, compro outras e já avisei aqui em casa: quando aposentar com adquirir uma banquinha.Ler revista o dia todo? Não vejo a hora!!!

  • 13.08.2014 13:51 ANA CRISTINA MARIA DOS SANTOS MENDONÇA

    Transferi para minha irmã caçula o hábito de ler, e ler papel. Gosto do cheiro do livro, da revista. Nós, eu e ela, temos este hábito de passear na banca de revista e nossos 25 anos de diferença de idade não faz nenhuma diferença nesta hora.Alguns lugares permanecem através dos tempos, acho que as bancas de revista são um desses.

  • 13.08.2014 08:48 anderson clayton felix paulino

    parabéns pelo texto, também sou frequentador das bancas de revistas.

  • 12.08.2014 17:20 Anderson Milhomem

    Pablo, não tá nessa sozinho. Gosto tanto de uma banca que a esposa já deu a ideia de ter uma. rs

  • 12.08.2014 15:40 Troglo Dita

    Existe gibis na net?

  • 12.08.2014 13:46 Ricardo Sampaio

    Muito bom seu texto, Pablo! Eu também tenho tendências conservadoras e tradicionalistas. Nada melhor que o velho café com leite. Te admiro e te acompanho pela rádio e por aqui também. Muita paz e sucesso pra você! Um abraço! Ricardo

  • 12.08.2014 12:10 Andre Luis Scalla de Souza

    Você não está sozinho, Pablo. Além de bancas sou rato de sebo e hoje estava em um deles ( Páginas Antigas). Minha esposa, seis anos mais nova, estranhou no começo, mas hoje acha normal. Ia comigo inclusive trocar figurinhas. ..kkk. Abraço.

  • 12.08.2014 11:18 Adriano Lesme

    Terei 80 anos e irei a banca comprar figurinha.

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