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A decadência moral das redes sociais

Perfis detonam com os bons princípios | 18.08.14 - 19:06 A decadência moral das redes sociais (Foto: Ricardo Moraes)
Goiânia - Peregrinar pelas redes sociais é reconhecer o quanto de entulho acumulado em um só terreno maltrata o nosso intelecto. Entenda-se que “intelecto”, aqui, tem duas dimensões: (1) o caráter, que é a parte moral da nossa alma e (2) a racionalidade, que é a parte calculativa. Sem dúvida, ao usar as redes sociais, me sinto ferida nessas duas matizes.

E até que ponto isso não fere a ética, a moral, os bons juízos do bem viver? A resposta está ao seu alcance, a começar pela sua timeline.
 
As fotos, os vídeos e as palavras que se publicam sobre a morte de Eduardo Campos mostram uma mídia que saliva diante da tragédia. E uma sociedade onde a difamação gratuita, teorias de conspiração, pretensões eleitorais e ibope estão no topo do interesse - e do lucro.
 
Tal qual nas novelas e séries, em que a vingança rende maior audiência, nas redes sociais não basta à disputa política: é preciso sujá-la com a falta de respeito, de verdade, de honestidade, de integridade, de justiça, de amor a vida e de respeito à morte.
 
Se a família de Eduardo Campos vive o luto, e todos sentimos um profundo mal-estar e tristeza com a trágica morte do ser humano por detrás do candidato a presidente, o processo eleitoral, contudo, seguiu adiante nas redes sociais da pior maneira possível.
 
Veja a que ponto chega à mente humana. O país consternado com a perda precoce do presidenciável e já surgiam as primeiras piadas: “naquele jatinho, tinha que estar Aécio ou Dilma.” Ou ainda acusações de que o PT e o PSDB estariam por trás desse trágico acidente aéreo.
 
“Por que a Dilma assinou lei impedindo divulgação de acidentes aéreos há poucos meses? E sim, existe a chance do PT ter sabotado o avião. Veja o que ocorreu com o ex-prefeito Celso Daniel.”
 
Sério, nunca pensei que iria ver tanta ignorância reunida numa única frase. Agora, quando se faz uma acusação séria como esta, tem que ter provas, ou está cometendo os crimes de calúnia e difamação. É o cúmulo do absurdo utilizar uma tragédia como esta para fazer politicagem do pior nível.
 
Falar de política é exercitar a dialética. Existe a política dos políticos e a política de quem pensa sem paixões. Uma é no varejo com discussões inúteis que incomodam e empobrecem, onde o interesse pessoal prevalece sobre o coletivo.
 
Outra é abstrata e densa, e traz em si a busca da razão acima da vontade. Este é meu olhar político, que é totalmente desvinculado de partidos e políticos, mas comprometido com a minha ideologia.
 
Neste momento crítico da vida política brasileira, como cidadãos, deveríamos estar discutindo programas de partidos, plataformas eleitorais, propostas setoriais, debates sobre temas que nos dizem respeito. No entanto, discutem-se migalhas de pensamentos e comportamentos.
 
Como esperar que algo mude nesse país, se as pessoas são as mesmas, as regras são as mesmas, os políticos são os mesmos, as piadas são as mesmas e os métodos de aliciamento, infelizmente, também são os mesmos?
 
Como esperar que algo mude nesse país, se as pessoas acreditam que se uma chefe de Estado que comparece ao velório de um líder político, com a representatividade de Eduardo Campos está sendo uma oportunista?
 
Como esperar que algo mude nesse país, se as pessoas acreditam que um suposto sorriso de Marina Silva no velório representava sua alegria e satisfação por viver aquele momento?
 
Como esperar que algo mude nesse país, se as pessoas ficam felizes de noticiar com leviandade que Lula e Dilma foram vaiados pela família de Campos durante o velório. Desrespeitando e ignorando o que é mais importante, acima da política – o respeito pela dor do outro?
 
De fato a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula foram vaiados, mas após as breves vaias, alguém puxou aplausos e o público acompanhou.
 
Veja aqui o vídeo:
 
 
O próprio irmão do ex-governador, Antônio Campos ressaltou em entrevista à  GloboNews a amizade entre as duas famílias. “Hoje cessam as divergências políticas e hoje estamos aqui em torno de fazer (sic) homenagear este grande brasileiro que foi Eduardo. Tive a oportunidade de conversar com o presidente Lula que nos externou a posição que é recíproca tanto da minha família como a dele. Que à parte de divergências momentâneas políticas eleitorais existe preservada uma amizade entre as duas famílias.”
 
Assista aqui à entrevista.
 
Finalmente, mas não menos importante, precisamos compreender que falar sobre política é atuar numa arena onde as idéias podem ser discutidas sem ofensas e sem mágoas, que cada um tem o direito de pensar diferente, desde que seus propósitos atendam àqueles valores mencionados.
 
Que fazer política é dialogar mais do que discutir, buscar o consenso mais do que vencer por maioria, compreender o outro lado mais do que impor a sua vontade.
 
A arena política pode chegar a "ferver" de emoção e "fervilhar" de idéias contraditórias ou complementares. O que não pode acontecer é a imposição de uma vontade sobre as demais pelo poder político, econômico, religioso ou social.
 
Então falar é prata, calar é ouro e pensar é sabedoria. Pobre humanidade.
 


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