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Dilma, Aécio ou Marina?

Independente da escolha, caminhada é longa | 28.08.14 - 10:08 Dilma, Aécio ou Marina? .
Goiânia - Os principais candidatos à Presidência ignoram criminalização da homofobia e direitos trans em seus programas de governo. Neste tema, todos se locupletam contra um Estado verdadeiramente laico.
 
O debate de terça-feira (26/8) na Band e a campanha eleitoral como um todo mostram algo inegável, tanto à direita quanto à esquerda: o esgarçamento do modelo político brasileiro e a necessidade de novos caminhos que aproximem representantes e representados da nossa jovem democracia.
 
Dos candidatos presentes ontem nos estúdios da Band, os dois cujos partidos já passaram pelo comando da República eram, de alguma forma, vidraça. Dilma, a maior delas, por ocupar o cargo mais importante de um governo que está há três mandatos no poder; Aécio, por representar dois mandatos do governo anterior e seu legado.
 
Metralhada como era esperado, Dilma mostrou que poderia sair mais dos gabinetes nos últimos quatro anos. Aécio, das baladas.
 
Dilma precisa melhorar e muito a sua oratória. Vendo Aécio, tenho de admitir, mesmo com uma réstia de alho pendurada no pescoço, que o mineiro é infinitamente melhor de debate.
 
Uma questão que me chamou a atenção: Aécio disse de forma veemente que se eleito vai acabar com a reeleição. Ora, mas foi seu partido - mais especificamente, seu guru FHC - que a criou.
 
 
Eduardo Jorge se negou a responder uma pergunta indireta e capciosa de Boris Casoy e, assim, lhe ensinou um pouco de jornalismo. Aprendeu, Boris? Não sei por que a Rede Bandeirantes continua com este “jornalista” em sua folha de pagamentos. Ele sim é uma vergonha para o jornalismo!
 
Marina foi até bem, mas chamar Chico Mendes de elite é quase como filiar o "pastor Everaldo" ao Grupo Gay da Bahia. Perdoe, Chico. O coitado deve ter dado uns 10 pulos na cova.
 
Faltou ao Pastor Everaldo propor também a privatização das igrejas, para que elas paguem impostos como todas as instituições (até as ONGs) pagam. Eu achei engraçado como ele citou o "estado mínimo" 70 vezes, mas parece querer estado máximo quando a questão é aborto, drogas e gays.
 
Na tangente desse embate, surge Marina, que, mesmo sem uma proposta bem definida, ganha espaço como um "novo" que ninguém sabe entender direito, mas de qualquer jeito quer parecer "novo".
 
O crescimento de Marina, que defende a fusão entre direita e esquerda e confunde oprimidos com elites; que quase ninguém conhece e cada vez mais gente ama, escancara a necessidade de reformar a política antes que ela se desintegre como alternativa à vida democrática, abrindo caminho aos ditadores sempre de plantão.
 
Na minha visão de observadora, essa eleição mostra que os marqueteiros e publicitários estão distantes da realidade e do povo, quanto os candidatos em si.
 
A questão está além da estabilidade econômica promovida pelo PSDB, a diminuição da desigualdade gerada pelo PT ou a sustentabilidade que não se sustenta adaptada ao PSB.
 
É a política como um todo que precisa ser discutida e isso necessita ser encampado por todos os partidos caso eles não queiram se misturar à geléia geral que levará todos ao mesmo abismo.
 
Não sejamos hipócritas! Vença quem vencer, precisará negociar com o PMDB de Sarney e com outras velhas raposas se quiser governar; precisará trocar cargos por apoios no Congresso se quiser ter projetos aprovados; precisará retribuir o que as empresas privadas e os bancos investiram nas suas campanhas; precisará ceder aos currais religiosos que ameaçam com pautas dogmáticas; e precisará jorrar dinheiro público na mídia para não ser fuzilado por ela.
 
É essa engrenagem enferrujada, que foi utilizada tanto pelo PSDB quanto pelo PT, que precisa ser alterada e isso só será possível com o engajamento de toda a sociedade, hoje muito mais conectada com as teias digitais e, portanto, mais capaz de se engajar.
 
O que está em questão não é a permanência do partido X no poder, a volta do partido Y ou a chegada de um partido Z. A questão é se queremos ou não trilhar e desenvolver o caminho democrático, o único por meio do qual sociedades no mundo todo conquistaram o Estado de Direito, a pluralidade de opiniões, o respeito às diferenças e as leis que permitem a convivência digna entre as pessoas.
 
Se queremos evoluir no sentido da liberdade, é hora de colocar em prática a tão falada (e nada praticada) reforma política. Só ela poderá parametrizar a fidelidade ideológico-partidária, acabando com a orgia de legendas de ocasião, banindo o financiamento privado de campanhas (tema que já está em curso, mas foi barrado no STF pelo mesmo Gilmar Mendes que soltou o médico-monstro-estuprador) e coibindo o fisiologismo parlamentar.
 
É necessário acabar com a reeleição ininterrupta de vereadores, deputados e senadores que fazem da política uma sólida carreira profissional, muitas vezes sem nenhum compromisso com o interesse público. E é fundamental que se levantem as bases verdadeiras de um Estado laico, idealizado no século XVIII pelos iluministas na Revolução Francesa, mas que ainda não é totalmente claro na sociedade brasileira.
 
O advogado Matheus Sathler, candidato a deputado federal do PSDB pelo Distrito Federal, tem me escandalizado. Entre suas propostas caso seja eleito, está a luta pela criação do que ele chama de "Kit Macho" e Kit Fêmea", que seriam cartilhas para serem distribuídas nas escolas para "ensinar homem a gostar de mulher e mulher a gostar de homem".
 
Luciana Genro disse ao Pastor Everaldo: "Me permita te chamar de Everaldo, porque eu não gosto de misturar política com religião, acho isso impróprio". O debate aconteceu logo após o programa de RR Soares, que compra horário fixo na Band (uma emissora que é fruto de concessão pública) para pedir dízimos em boletos bancários, prometendo milagres em troca.
 
Estado laico, rogai por nós!
 
A questão, portanto, vai além de eleger Dilma, Marina ou Aécio. A questão é elegermos a democracia como um bem precioso do povo brasileiro, conquistada com luta e sangue e necessária para a vida com dignidade.
 
E, passo a passo, a gente vai podendo aprender a fazer uma democracia, de fato. É uma longa caminhada.
 
Isso requer responsabilidade não apenas dos políticos-representantes, mas principalmente de todos nós, representados, que os escolhemos.
 
O buraco é mais embaixo, e o problema é nosso.

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