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Tutti-frutti

Marina é Malafaia

Candidata mudou de ideia em menos de 24 horas | 31.08.14 - 09:58


"Apoiar propostas em defesa do casamento civil igualitário, com vistas à aprovação dos projetos de lei e da emenda constitucional em tramitação, que garantem o direito ao casamento igualitário na Constituição e no Código Civil". Tem cara de proposta de Jean Wyllys ou Marta Suplicy, mas é de Marina Silva - mais especificamente do seu programa de governo divulgado na sexta-feira (29/08).
 
Vale lembrar que, na eleição passada, ela dizia outra coisa, alegando que casamento é um sacramento e suas convicções religiosas eram contra. Mas também vale lembrar que os governos FHC, Lula e Dilma pouco fizeram pela população LGBT e tem deputado tucano até querendo anular a decisão do STF que permitiu a união civil gay.
 
Será que a religiosa Marina será a primeira presidente de fato laica do Brasil? Santo Deus!
 
Confesso que fiquei surpresa com esse tema documentado em um programa de governo, coisa que nenhum outro candidato fez. E é preciso admitir uma coisa: o PT tinha historicamente essa bandeira e entrou no armário, rasgando-a ao chegar ao poder, dando até ministério para a bancada evangélica.
 
O PSDB se uniu ao odioso Malafaia, que, aliás, ficou sem rumo com essa proposta, mudando radicalmente seu discurso sempre odioso. Marina ferveu uma campanha que estava em banho-maria.
 
Dilma se acovardou diante deste tema, deixando a comunidade LGBT literalmente na poeira. Aliás, fez isso em relação às mulheres também. Na campanha já mudou de opinião em relação a uma velha bandeira da esquerda, negando-se a discutir a questão do aborto (que é "legalizado" no Brasil para quem tem dinheiro) porque Serra convocou Malafaia para voltar à Inquisição.
 
Depois de eleita, cancelou o kit anti-homofobia nas escolas por medo dos religiosos fanáticos e nada colocou no lugar dele (se o kit era ruim, que fosse substituído, pois o tema é importante). Ou seja, PT e PSDB se igualam na covardia em lidar com o fundamentalismo.
 
E o fenômeno Marina explica muito isso, e não apenas nessa área da sexualidade: os dois partidos se apegaram, um defendendo os mais ricos e outro os mais pobres (e nesse sentido sou muito mais PT), à velha forma de fazer política, com apadrinhamentos, troca de cargos por apoio e esgarçamento de pautas polêmicas e necessárias.
 
Nunca engoli a dobradinha Lula/Sarney. Muitos petistas juntaram-se aos ratos e agora não podem reclamar ao serem confundidos com eles. O PT está colhendo o que plantou e o PSDB, o que sempre foi.
 
Os números de Marina nas pesquisas não são fruto de uma sociedade ignorante, mas de uma descrença na bipolaridade entre tucanos e petistas. O PSDB, por ora, está morto e o PT respira por aparelhos, refletindo o sentimento do eleitor: o elitismo tucano está sendo extinto, mas as mazelas petistas também não estão descendo bem.
 
Soma-se a isso o fato de Dilma ser péssima no diálogo com a sociedade e na utilização dos novos canais de comunicação, tão fáceis na era digital.
 
Usar mídias sociais só nas eleições não pega. O eleitor é muito mais esperto do que imaginam os partidos.
 
Mas o sonho do Estado laico foi pro ralo em menos de 24h. É o Brasil em transe...
 
Explico:
 
Após a publicação do programa de governo de Marina Silva, na noite do dia 29 de agosto de 2014, o pastor Silas Malafaia teve a seguinte reação pelas redes sociais:
 

 
Marina Silva, manhã do dia 30 de agosto de 2014 (em seu site):
 
 
Marina amarelou, vai ter de ajoelhar no milho. O pastor Malafaia deve lhe ter dado uma surra de Bíblia! Coitada!
 
E o texto que se resumiu a:
 
"Garantir os direitos oriundos da união civil entre pessoas do mesmo sexo"
 
Significa:
 
Que a candidata, que prometia avançar nos direitos LGBT no campo da política mudou de ideia em menos de 24 horas e alterou bastante sua posição sobre o assunto, lavando suas mãos diante dele.
 
Trocou a objetividade pelo eufemismo, ou seja, fugiu do tema.
 
Vejamos por quê: o direito ao casamento igualitário hoje é garantido por uma jurisprudência do STF, faltando uma lei a ser aprovada pelo Congresso Nacional, como fazem muitas das mais evoluídas nações do mundo.
 
Ao mudar o texto do projeto de governo, Marina deixa de apoiar uma lei garantindo os direitos aos casais gays e resume seu papel a "garantir" direitos já conquistados, ou seja, fazer nada no campo da política.
 
Este episódio poderá queimá-la tanto diante de evangélicos conservadores quanto dos gays, pois ele enganou a ambos e se mostrou incoerente a ambos. Afinal, ela será fundamentalista ou moderninha? Ou só quer passar uma imagem para angariar votos? Isso é nova política?
 
O mais grave pra mim é tentar enganar eleitores com programa de governo que não dura 24 horas! Não é à toa que andam dizendo com ironia, que o programa de governo de Marina será feito à lápis para facilitar as mudanças.
 
E o Brasil, que foi o último país a abolir a escravidão, está condenado a ser o último a admitir em lei a união civil de pessoas do mesmo sexo.

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