Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

Sobre o Colunista

Pablo Kossa
Pablo Kossa

Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

O Blog

10 anos de obra-prima do Green Day

American Idiot marcou a maturidade da banda | 19.09.14 - 11:53

No domingo, dia 21, completam 10 anos do lançamento de American Idiot do Green Day. O disco é um marco na carreira da banda californiana. Nesse trabalho, eles mostraram para o mundo que a fase imberbe havia definitivamente ficado para trás.

 

Essa maturidade já estava sendo desenhada nos trabalhos anteriores. Algumas faixas do período que pode ser considerado uma entressafra entre Dookie (1994) e American Idiot (2004) como Minority e Warning mostravam que cervejas, baseados, masturbação e três acordes não eram mais as únicas preocupações de Billie Joe Armstrong, Mike Dirnt e Tré Cool. Eles tinham algo mais a dizer.

 

Formada no final dos anos 1980 entre amigos de infância, o Green Day lançou dois discos que não repercutiram até ganhar extrema notoriedade com o terceiro álbum, o Dookie. Esse disco é tão farto em sucessos que se assemelha a uma coletânea e não a um trabalho de carreira. Impossível passar ileso pelo Dookie para quem teve adolescência nos anos 1990 – ou seja, minha geração. Músicas como She, Basket Case, Welcome to Paradise, Longview e When I Come Around extrapolaram o mundinho rock e ganharam rádios pop mundo afora. Tocaram na MTV até mandar parar.

 

Embalados pelo sucesso, em 1995 eles lançaram Insomniac que teve sucesso por inércia devido ao disco anterior, mas nem de perto teve o impacto de Dookie. A partir daí, parecia que o Green Day caminhava para a irrelevância. Emplacava um hit aqui, outro ali. Teve até um megassucesso com a balada Good Riddance (Time of Your Life), mas parecia fadado a se repetir. A ser um cover de si mesmo.

 

American Idiot muda esse prognóstico e reposiciona o Green Day no cenário artístico. Ninguém no mainstream fez uma crítica tão contundente à paranoia dos anos George W. Bush pós-11 de setembro quanto o trio. É claro que no underground tinha gente com discurso afiado contra a política externa belicista e exterminadora de direitos civis no campo interno imposta pela Casa Branca. Mas ficava restrito ao âmbito do circuito alternativo. O Green Day foi quem levou essa postura para a MTV e FMs.

 

Fora a ousadia das letras, musicalmente a banda também deu um salto impressionante. O adolescente e divertidíssimo one-two-three-four deu lugar à ópera-rock. Onde se via muito Ramones, passou-se a enxergar Tommy do The Who e The Wall do Pink Floyd. A preocupação em amarrar uma história, em encadear uma faixa na outra, em criar climas sonoros para a situações que a letra descrevia marcava o novo Green Day. A inquietude artística se transformava em sua marca registrada. A testosterona cedia espaço aos neurônios.

 

Curiosamente, essa guinada estética que tendia a afastar ainda mais a banda do grande público rejuvenesceu a audiência do Green Day. Uma nova geração passou a se interessar pelo som dos caras, a prestar atenção no trio e lotar shows mundo afora. Eles conseguiram com esse grande disco duas coisas difíceis de conciliar: relevância artística e popularidade. Ou seja, um gol de placa.

 

A prova do sucesso é a comparação da trajetória do Green Day com a do Offspring. Em 1994, as duas bandas rivalizavam em popularidade junto aos adolescentes. As duas se posicionavam no mesmo segmento de renascimento dentro da grande mídia do punk rock. Enquanto o Green Day tinha sua coleção de hits no Dookie, o Offspring não fazia feio com o Smash. O problema é que o Offspring não teve seu American Idiot no meio do caminho. Basta olhar a relevância do Offspring atualmente e compará-la com a do Green Day. Não dá para começar a discussão.

 

American Idiot ainda tem outra virtude. O disco envelheceu bem. É claramente datado, mas isso não impede a fruição do trabalho hoje. Dez anos depois, ainda dá para ficar impressionado com o engendramento das faixas e a concepção por inteiro do disco. E o que é melhor: ainda é divertido. Uma união que só os grandes discos de grandes artistas consegue estabelecer.


Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:

Sobre o Colunista

Pablo Kossa
Pablo Kossa

Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351