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Elisa A. França
Elisa A. França

Jornalista formada pela UFG, especializada em comunicação ambiental, com passagem pelo Greenpeace e pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). / eafranca@gmail.com

Ambiente Urbano

Rua 10: a história vira passado

A mobilidade justifica qualquer projeto? | 03.11.11 - 20:31

A mobilidade está para Goiânia como as calorias estão para a dieta contemporânea. Muitas pessoas, na busca incessante pela magreza, deixam de lado o suco de laranja, a manga, a azeitona e a manteiga porque eles têm muito mais calorias do que a Coca zero, a barrinha de cereal de musse de chocolate, o aspartame e a margarina light. E ainda chamam isso de alimento.

Já a urgência de os centros urbanos (no caso, nossa capital) resolverem seus graves problemas de trânsito, em que se perdem horas e muita paciência para ir e vir, está sendo colocada acima de todas as coisas. Não importa se o projeto da Prefeitura para a rua 10, que liga a Praça Cívica à Praça Universitária, está retirando árvores lindas e saudáveis (não é verdade que as mongubas estavam todas condenadas). Não importa se a ciclovia ficará toda debaixo de sol. Não importa se a ilha de uma avenida histórica, criada na fundação da cidade e protegida pelo Iphan, será desfigurada, seja para abrir mais espaço para os ônibus ou para a instalação de uma pista de circulação para ciclistas. Eles, particularmente, estão super contentes que terão finalmente uma via própria na cidade.

O Padre Luiz Gonzaga Lobo, responsável pela Catedral de Goiânia, localizada na rua 10, diz que se for para melhorar o trânsito, não vê nada de mais nas mudanças. Uma funcionária da fábrica de roupas Anunciação, localizada há 10 anos na avenida, tem suas dúvidas, acha que a região “está ficando feia pra danar”, não recebeu nenhuma comunicação nem participou de qualquer discussão sobre o projeto. Mas se questiona se as melhorias no trânsito não justificariam as modificações. “Acho que tinham que consultar a população”, disse Mônica Mendes, vendedora na Cerrado Alimentos Orgânicos.

O Iphan, que teoricamente precisaria autorizar qualquer mudança na via, não foi comunicado de nada e questionou, hoje, os órgãos responsáveis. A CMTC (Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo), em resposta, pediu uma reunião para esta sexta. A Arquitetura da PUC-GO – que além de ter o curso mais antigo da cidade, está ali, na própria rua 10 – também não estava sabendo de nada, oficialmente. Mas também não perguntou. A professora Maria Eliana Jubé Ribeiro acredita que é uma falha imensa, o fato de os projetos públicos não serem discutidos com a sociedade.

Périplo
A única informação que eu tinha até agora mesmo havia saído nos jornais. Recapitulando: será feito um corredor exclusivo para ônibus na faixa da direita, enquanto as duas da esquerda continuarão sendo dos carros. E no meio da ilha será feita a primeira ciclovia da cidade.

Na assessoria de imprensa da CMTC, órgão responsável pelo projeto, me disseram que não irão se pronunciar enquanto ele não for apresentado, pelo prefeito Paulo Motosserra Garcia. Não entendi essa parte, considerando que as obras já começaram. Quando questionei a falta de discussão do tema com a sociedade, a assessora disse que ele foi, sim, discutido, levado à Engenharia da UFG, ao DCE, aos pit dogs da avenida.

Só consegui saber um pouco mais ao conversar com a ciclista e arquiteta Gabriela Silveira, do grupo Pedal Goiano. Ela foi convidada pela CMTC para conhecer os planos do órgão e ajudá-lo a decidir como resolver as intersecções entre as avenidas e as praças – o projeto todo engloba a rua 10, a Praça Universitária e a avenida Universitária, até chegar à Praça da Bíblia. Na avenida Universitária, vão retirar todas as guarirobas e instalar duas pistas para bicicletas, uma de cada mão. Gabriela sugeriu o plantio de árvores de médio porte, pois acredita que a ilha não comporta das grandes. Na rua 10, a ciclovia terá apenas uma pista, de cerca de 2,5 m de largura. E algumas árvores nativas.

Diante da falta de vegetação, perguntei se é possível andar por aí de bicicleta sob o sol escaldante de Goiânia. Mas Gabriela acha que isso não é obstáculo, não. Ainda é uma questão muito intrigante para mim. Combinamos de conversar em breve para, quem sabe, propor novos projetos de ciclovias arborizadas.

Por ora, quero saber o que sairá da reunião da CMTC com o Iphan.

Se você tem alguma coisa a dizer sobre isso, por favor manifeste-se abaixo ou me escreva: eafranca@gmail.com.


Comentários

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  • 19.12.2011 10:06 Katia Nowak

    Tristeza.....e muita dor.A rua 10 sempre foi o meu caminho e acompanhei o crescimento daquelas arvores,e realmente eram saudaveis.Fico vendo as que restam,parte superior proximo a praÇa Universitaria, e a vontade que da e de gritar por elas.A aridez a claridade estrema a falta de vida que esta se tornando a avenida e uma imagem que espelha um futuro proximo a nossa cidade , que ja foi considerada capital ecologicamente correta. Com certeza a populaÇao nao esta de acordo......mas de que adianta nao somos a palavra final.

  • 29.11.2011 08:12 Maria Tereza

    Nós estamos torcendo para acharem melhores soluções e ninguem ter que sair da sua cidade por falta de sombra. Boa sorte para todos!

  • 28.11.2011 10:23 ana

    Nossa! não sabia que iriam tirar também as árvores da Praça Universitária. Puxa vida, mas isso já é um exagero. Já não bastasse as avenidas 84, 85, Anhanguera, agora a rua 10 e Praça Universitária...e um monte de outras praças sumindo, dando lugar a ruas para carros. Agora só carros. Mas bem que os carros podiam circular por lugares bonitos, arborizados e frescos. Acho que vou embora daqui.

  • 21.11.2011 11:40 Ana

    Gostei muito desse assunto ser tão debatido. Li os comentários aqui e também tenho acompanhado por outro jornal. A sociedade está participando, isso é ótimo.

  • 11.11.2011 12:46 VALDIJAN XAVIER

    ACHO IMPORTANTE A MODERNIDADE E O CONFORTO, ACHO NECESSÁRIO AS MUDANÇAS, MAS DESDE QUE NÃO IGNOREM O QUE TODOS OS POLITICOS APREGOAM QUE É A PROTEÇÃO AOS MAIS FRACOS...E DESSA VEZ OS MAIS FRACOS NÃO TIVERAM VOZES PRA RECLAMAREM OS DIREITOS...A NATUREZA NÃO FALA, MAS EM COMPENSAÇÃO TAMBÉM NÃO PARTICIPA DAS SEQUELAS DE QUEM SE DIZ HUMANO MAS SE COMPORTA COMO ZUMBI...

  • 09.11.2011 08:45 adriano rocha de paula

    Excelente texto.Aproveito para perguntar onde estão todas as árvores da Rua 4 no Centro.Da av.85 e no trecho da rua 9 no setor Oeste entre a Assis e a T-9? Simplismente não existem.

  • 07.11.2011 10:17 Luzia Toledo

    E´um desrespeito muito grande o que estão fazendo com a nossa cidade. Estão acabando com as suas caracteristicas originais sem, nem mesmo, consultar a população que é a principal interessada.

  • 07.11.2011 09:25 Inês Martins

    Elisa, fiquei muito feliz em ver o "misterio" desvendado. Moro no centro e já a algum tempo andava especulando o que eles estariam tramando dessa vez com a interdição da ilha da rua 10, mas confesso que ja imaginava ser alguma lambança dessas, como alguns aqui já comentaram. A intenção é boa, mas o fato é que prcisamos encontrar uma forma de viabilizar essas ações de forma menos impactante no patrimono que a cidade já tem. Afinal, nao penso que adiante muito implantar a ciclovia - em um pequeno trecho, sendo que assim nao será possivel a diminuição de tanto dioxido de carbono, ja que esta não será usada como transporte, mas como lazer, o que já é interessante claro, mas nao efetiva a troca do transporte poluidor pela bike- e de mais a mais, seria sim interessante uma discussão publica do assunto, afinal só aqui neste espaço já vimos tantas opiniões diversas e todas válidas a serem relevadas na tomada de decisão.

  • 07.11.2011 08:48 ana carolina

    Ah tá......quem foi que disse que Goiânia era a cidade mais ARBORIZADA mesmo??? Uma ciclovia entre as árvores por exemplo, seria bemmmmm mais inteligente, agradável e sensato! O problema realmente é que só ficamos sabendo quando as coisas já estão acontecendo... Como se não bastasse o retalhamento que já fizeram na Tamandaré.....Sinceramente, estou com medo de "derreter" nos verões que virão.....

  • 06.11.2011 09:26 Maria Tereza

    Ah que saudade! Estudei no Educandário Pio XII!!!

  • 06.11.2011 08:40 Cristina

    Elisa, não consigo entender a lógica da motosserra. O que faz (ou fazia) de Goiânia uma cidade bonita e agradável é a quantidade de árvores que, além de embelezarem as ruas, diminuem a voracidade do sol do cerrado. De uns tempos pra cá, tenho assistido, com tristeza, a retirada de árvores saudáveis sem maiores explicações ou debate com a sociedade. Em relação à ciclovia, tenho certeza de que, com um pouco mais de empenho, as autoridades responsáveis são capazes de encontrar uma solução que não implique, necessariamente, em destruição.

  • 06.11.2011 04:03 Lisa França

    Elisa, que bom que você se pronunciou. Esta av. é do coração da minha infância. Durante muitos anos minha mãe teve um colégio ali, Educandário Pio XII. Fiquei indignada com o projeto, mais ainda por esta lógica que não acaba, não muda nem com um prefeito jovem, culto, de esquerda. Só pensam nos carros e carros e mais carros. A av. é tão curta. Porque não se pode passar por ela à pé sob as sombras das árvores? A história da ciclovia é pura desculpa para aumentar o espaço dos veículos. Por que o prefeito não deixa a sua marca modernizando o transporte público de Goiânia?

  • 06.11.2011 12:22 Maria Tereza

    Além de falta de árvores, oxigênio, sombra e muita saúde, faltam estrategistas de visão a longo prazo no comando.

  • 06.11.2011 08:21 Ana Maria

    Também discordo do José Rubens. A construção de ciclovias de maneira nenhuma compensa a retirada de árvores. Além de embelezarem uma cidade e fornecer sombra para os pedestres e veículos, quando em quantidade, as árvores amenizam o calor, umidificam o ar, absorvem o ruído da cidade e absorvem o dióxido de carbono. Como pode haver algo que justifique a sua retirada?

  • 05.11.2011 09:23 WENDEL FRANCO DE SA GUIMARAES

    Excelente matéria, Elisa! O que mais me choca é a apatia da população vizinha à rua 10/Av. Universitária. Para eles, parece que tanto faz. A ausência de discussão ampla com a sociedade e com o IPHAN, revela o autoritarismo da prefeitura, que deveria priorizar o verde, a história, o traçado original da cidade. Não me oponho à construção de uma ciclovia, apesar de ter minhas dúvidas se a ideia vai realmente "pegar". Acho difícil as pessoas, numa sociedade que idolatra o carro, deixarem seus veículos em casa para fazer esse trajeto de bicicleta, debaixo do sol escaldante de Goiânia. Acho que a ciclovia vai acabar servindo mais aos motoqueiros, que hoje fazem zigue-zague entre carros e ônibus para driblar os congestionamentos. Vamos ver no que isso vai dar.

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