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Cejana  Di Guimarães
Cejana Di Guimarães

Jornalista formada pela UFRJ e pela Universidade de Fribourg, Suíça. Vive há 20 anos em Zurique. / cejanadiguimaraes@gmail.com

Cartas do Exílio

Troca-se amizade por votos

| 25.10.14 - 18:06

(Foto: Ricardo Gama)

Tudo só emoção! Essa é uma eleição atípica, pouca política, só na base do amor e do ódio. Os argumentos lógicos foram substituídos por frases cada vez mais curtas que normalmente começavam ou terminavam com "eu odeio". Fez-se política como quem escreve uma novela para o horário nobre ou ainda pior, um dramalhão mexicano teve espaço para tudo, morte, lágrimas, traições, denúncias, arrependimento.
 
Teve de tudo. O que isso significa? Significa que o processo político foi esvaziado de sua essência, de sua função básica de organizar a vida pública e o equilíbrio de poderes de uma nação. Transformou-se em um jogo de propaganda, uma encenação, que não apenas lembra um folhetim, mas algumas vezes também um pastelão. Demonstra que o debate político foi substituído por um jogo midiático artificial, no qual não valem os argumentos, mas as emoções, e infelizmente não as mais nobres.
 
Assim, ao invés de eleitores conscientes, somos infantilizados, nos transformamos em torcedores apaixonados, gritando o nome do time na final de um campeonato de futebol. Acreditamos que temos a receita ideal de um futuro incólume e promissor, que se decide na incongruência ou acaso de um gol a mais ou a menos, de uma falta apitada ou ignorada.
 
E as redes sociais são o palco perfeito para esse tipo de teatro, teatro do absurdo, muitas vezes grotesco. Famílias se dividem, primos se distanciam, irmãos se estranham, amizades de uma vida toda são jogadas no lixo, por causa de um candidato, um adesivo a menos, uma provocação a mais. Todos pensam ser ilibados defensores da pátria e - graças à memória seletiva - tratam seus candidatos como incólumes guerreiros do bem comum. Agindo assim, assumimos essa catarse coletiva que não admite encontros, nem diálogos.
 
Que não conhece empates e vê no adversário apenas um inimigo a eliminar, um mal absoluto, uma doenca incurável, responsável por todos os males da nação. Será que, agindo assim, demonstramos ser dignos ou capazes de eleger um governo que queira realmente o bem coletivo, que pense além de siglas partidárias, interesses próprios e de castas.
 
Será que esse eleitor maniqueísta quer realmente um governo que una as diferenças e aplaine os extremos? Será que estamos realmente prontos para o discurso que cobramos e louvamos de coletividade, justiça, honestidade, igualdade, em um país marcado pela diversidade de seus mais de 200 milhões de habitantes espalhado por oito milhões de Km2? Não seria arrogância acreditar que existe apenas uma solução? Que não existe necessidade de concordância política e tolerância partidária, social, religiosa? É preciso unir as diferenças e não acirrar pretensos ódios e conflitos.
 
Os únicos interessados em aumentar confitos regionais e sociais no Brasil são potências internacionais que têm suas aspirações hegemônicas ameaçadas por uma possível concorrência financeira e geopolítica do Brasil. Como foi provado por documentos da embaixada Americana de Brasília, publicados por Julian Assange no Wikileaks, sugerindo incentivar conflitos entre o sul e o nordeste do país através de idéias separacionistas.
 
Repito, um país é apenas a soma de seus cidadãos. Sejamos então o retrato do que desejamos como governo. No privado espelha-se o público, o micro define o macro. Que nossos gestos cotidianos sejam cordiais, justos e coerentes como esperamos que sejam nossos representantes. Que não apenas uma visão de mundo se sinta representada e respeitada, mas uma que espelhe a diversidade do Brasil. É pedir demais? Desligar a televisão, ligar a própria reflexão, tentando achar convergências e não apenas divergências, estendendo a mão e não apontando o dedo?
 
Somos um país múltiplo, diverso, e sempre orgulhoso dessa diversidade e solidariedade natural. Que esse privilégio e potencial prevaleça nas urnas e defina nosso futuro. Eu voto Dilma, porque acredito que o Brasil de hoje é melhor que o de ontem.

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Jornalista formada pela UFRJ e pela Universidade de Fribourg, Suíça. Vive há 20 anos em Zurique. / cejanadiguimaraes@gmail.com

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