Goiânia - Ontem fui à escolinha de minha caçula para aquelas típicas apresentações de final de ano. Era da turminha de balé. Minha filhota dançou a música Piruetas, de Chico Buarque, que é trilha sonora do filme Os Saltimbancos Trapalhões de 1981. Um marco da minha infância. Uma delícia ver a baixinha dançando aquele som que me é memória afetiva pura. A apresentação, aquela coisa: cada criança fazendo uma coisa diferente, mas de uma graça sem fim para o pai babão.
Como ela ainda é bem novinha, foi da primeira turma a se apresentar. Ainda teriam mais três das garotas maiores. Aí percebi o quanto somos sem educação e faltosos com o respeito.
Os pais foram pegar os filhos na beira do palco e, a partir daí, virou uma balbúrdia. Começou uma conversação sem fim, gente se levantando, famílias inteiras se juntando no meio da plateia para mais e mais e mais e mais fotos. Enquanto isso, quatro garotinhas dançavam no palco. E quatro famílias se esforçavam para assisti-las. Os demais estavam mais preocupados se o flash estava ligado ou não. Na maior fata de respeito, na maior falta de consideração. Triste.
Isso revela o quanto somos egoístas e só nos importamos conosco. Civilidade é algo mais raro que água em torneira paulistana. Se o filho é do outro, que se dane. É mais importante fazer a milésima foto com meu celular modernoso do que ficar quieto alguns minutinhos, enquanto outra criança passa por aquele momento tão aguardado e ensaiado durante um longo semestre.
Lembrei-me na hora de um episódio antigo dos Simpsons. Em uma dessas apresentações escolares, os filhos de Homer vão ficando para o final da noite. Um pessoal que já viu sua criança no palco se levanta para ir embora. O patriarca da família amarela se altera e diz em alto e bom som algo mais ou menos assim:
- Podem se sentar! Eu assisti o filho de vocês e agora vocês também verão os meus!
Fico imaginando o que faria Homer com aquele espetáculo da falta de educação e de fotos infinitas que presenciei ontem...
Isso é só um reflexo do individualismo geral que reina hoje. Tudo certo se o dinheiro é da Petrobras, desde que vá para minha conta. Tudo certo estacionar no local que é proibido, desde que seja o meu carro. Tudo certo extrapolar o limite de velocidade, desde que seja para que eu chegue mais rápido. Tudo certo conversar e fazer selfies no meio de uma apresentação de dança, desde que seja o filho do outro que esteja no palco.
Se ainda fosse a molecada correndo e fazendo barulho, seria compreensível. Afinal, crianças ainda não têm esse senso de respeito. O problema é quando vêm dos pais, que deveriam dar o exemplo. O mais legal era ver algumas crianças não querendo fazer as fotos em família para assistir os coleguinhas. Mesmo com a péssima educação que os pais transmitem, ainda dá para ter alguma esperança no futuro da humanidade. Ao menos torço por isso.