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Coluna Tutti-frutti

Eu precisava desabafar

Mal acordei e já ouvi abobrinha | 22.12.14 - 15:29 Eu precisava desabafar (Foto: divulgação)
Goiânia - Um rapaz de roupas encardidas entrou no avião e sentou ao lado de um senhor, que rapidamente trocou de lugar. Não satisfeito, puxou conversa com a mulher do lado: "Onde já se viu? Não tinha que deixar esse povo entrar no avião. Tudo safado!".
 
As palavras me doeram como se eu estivesse suja e maltrapilha. Quem será "esse povo" e por que ele os considera "safados"?
 
Lembrei de um vizinho e senti os olhos úmidos. Eu nunca soube seu nome, mas me acostumei a vê-lo na esquina do prédio. Nos dávamos bom dia, boa tarde, boa noite.
 
Em um dia de muita chuva, quando a calçada encheu d'água, ele me ajudou a atravessar.
Também houve uma manhã em que me deparei com ele caído, tendo uma convulsão.
 
Gritei pelos funcionários do posto de gasolina em frente e disseram que "era normal, ele sempre tinha aquilo". Chamei o SAMU.
 
Depois soubemos que os ataques constantes eram parte do motivo dele não conseguir emprego. Não que ele não fizesse nada. Todo início de noite ele vestia um colete e ia para o estacionamento de um restaurante próximo.
 
Ele dormia na rua, mas tinha uma cama. Ficamos curiosos quando a vimos pela primeira vez, em plena calçada. De manhã ele a arrumava e cobria com um plástico.
 
Minha mãe brincava que o quarto dele era mais arrumado que o meu.
 
Depois de alguns meses vivendo naquela esquina, ele foi convidado a se retirar, já que abriram um bar e as pessoas ficavam bebendo na calçada. Foi aí que ele mudou para uma rua próxima.
 
Logo nos deram a notícia. Ele levou uma paulada enquanto dormia e demorou para ir ao hospital.
 
Um vizinho do prédio visitou-o por dias, localizou a família. Ele não foi enterrado como indigente.
 
Embora eu nunca tenha perguntado seu nome, me sinto miseravelmente triste quando penso nele. Se por um lado me confortam os sorrisos e acenos que trocamos, por outro me angustia nunca ter puxado uma conversa de verdade, perguntando sua história.
 
E foi assim que o senhor do avião me fez chorar em plena manhã de terça.
 
Vamos esbanjar amor, paz, companheirismo, perdão, compaixão em todos os meses do ano. Não precisamos esperar o Natal para sermos generosos.
 
A receptividade a esse tipo de sentimento está em alta todos os dias.
 
Feliz Natal! 

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