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Pablo Kossa
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Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

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Gabriel Medina é o novo Gustavo Kuerten

Carência de ídolos é culpa da política | 24.12.14 - 10:37


Goiânia - É oficial: o Brasil é o país de parafina, roupa pregada no corpo e que pega altos tubos. A pátria de chuteiras agora também é a pátria de prancha de surfe. Já fomos a pátria de raquete com Gustavo Kuerten. Já fomos a pátria de quimono com Aurélio Miguel. Já fomos a pátria no ringue com Maguila. Já fomos a pátria no tabuleiro com Mequinho. Agora é a vez de Gabriel Medina.

O surgimento desses ídolos de esportes pouco comuns são fruto de muito esforço individual e talentos que vencem todas as barreiras. O cara se impõe contra tudo e todos. Não criamos uma política consistente para que novos talentos floresçam, mesmo com a mídia que esses grandes campeões conquistaram para esportes que não costuma ter destaque. Cadê nosso novo Mequinho no xadrez? Cadê nosso novo Guga nas quadras?

E o pior é que o cenário para o esporte não é dos melhores para os próximos quatro anos. Você se atentou ao nome que Dilma Rousseff indicou para o Ministério do Esporte ou está mais ligado na ceia de Natal? Vou lhe poupar o trabalho de ir ao Google. Trata-se de George Hilton. Nunca ouviu falar? Pois é, eu também não havia. Mas, cá entre nós, seu histórico pessoal não é aquele que possa ser considerado de perfil técnico para tal função.

Sua descrição no site da Câmara dos Deputados informa que ele é “radialista, apresentador de televisão, teólogo e animador”. Indicação do bispo Marcelo Crivella, George é também pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. E o blog de Juca Kfouri lembrou de algo que compromete em seu currículo: o novo ministro foi expulso do PFL em 2007 por ter sido pego pela Polícia Federal no aeroporto de Belo Horizonte com 11 caixas de papelão, que continham dinheiro e cheques que totalizavam cerca de R$ 600 mil. Segundo George, a grana era proveniente de cultos da Igreja Universal.

E aí? Você acha que o cara acima tem currículo para encabeçar a formação de novos ídolos no esporte brasileiro?

Com isso em mãos, é previsível que o sucesso de Medina não seja suficiente para que nós revelemos novos talentos no surfe. A tendência é que sua grande conquista não reverbere positivamente para esse esporte no Brasil.

Tudo bem que para nós, de Goiás, surfe é tão exótico quanto esqui. Tão distante quanto um vulcão em erupção. Tão cotidiano quanto urso panda passeando pelas cachoeiras de Pirenópolis. Mas a realidade de Goiás não pode ser encarada como a do Brasil. Das 27 unidades da federação, 17 são banhadas pelo Oceano Atlântico. Nossa costa litorânea tem mais de 9 mil quilômetros de extensão. É óbvio que temos todo potencial para produzir um talento atrás do outro no surfe. Não é o que acontece. E o problema não é de falta de talento, é político.

Não sou esperançoso de que Dilma deseje mudar esse cenário. Se essa fosse prioridade da presidente, certamente não teria aceitado a indicação de George Hilton. Ou seja, os talentos no Brasil surgirão por que são verdadeiras forças na natureza e não frutos de uma política estruturante do setor. Por isso que o caminho de Medina tem tudo para ser o mesmo de Kuerten – respeitadíssimo mas que seu talento não propiciou que outros nomes brasileiros de sua modalidade surgissem.

PS: Estou de férias e os textos por aqui estão menos frequentes. Vou postando conforme o sinal de internet der as caras.


Comentários

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  • 24.12.2014 12:08 Gustavo

    Um dos melhores do ano. Texto que diz exatamente o que o esporte brasileiro passa, alias, sofre.

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