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Leticia Borges
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Leticia Borges é especialista em Língua Portuguesa, jornalista, professora e palestrante. / leticia.textos@gmail.com

Língua e letra

O perigo da rádio-peão

É essencial manter uma comunicação interna | 12.01.15 - 20:18 O perigo da rádio-peão .
Goiânia - Dois motoristas conversavam no pátio da empresa e no meio do assunto sobre crise econômica um deles comentou:

 - Do jeito que as coisas estão, daqui a pouco vão começar a mandar gente embora.

O encarregado de estoque, que passava pelo local, ficou apavorado e correu para dar a notícia no seu departamento:

- Pessoal, vão demitir um monte de gente na empresa. A começar pelos motoristas. Mas vai sobrar pra todo mundo, por causa da crise.

A notícia foi se espalhando e no final do expediente todos foram embora para casa se sentindo com a corda no pescoço. O jantar com a família estava sem gosto, o chopinho com os amigos não desceu legal, a pilha de contas para pagar ficou mais ameaçadora.

Nos dias seguintes quem tinha projetos para tocar ficou desanimado, o pessoal de vendas trabalhou de mau humor e os corredores viraram ponto de ti-ti-ti, com o clima cada vez mais sombrio. As chefias não se manifestaram. Nem um aviso, um e-mail, uma reunião. Nada. Concluiu-se que eram todos traidores e que estavam planejando as demissões pelas costas.

Depois de quase uma semana de estresse, a recepcionista se cansou e foi até o RH.

 – Se forem me mandar embora me avisem antes, porque eu preciso arranjar outro emprego.

Diante da surpresa no departamento, ela falou que não se comentava outra coisa pelos corredores: que a empresa estava falindo e todos seriam demitidos.

Atônita com a situação, a chefe do RH tratou de acalmar a funcionária e avisar à diretoria sobre o pânico que atingia os colaboradores. Depois de apurada a história, tratou-se de apagar o incêndio divulgando um memorando circular assinado pelo presidente.

“Senhores funcionários,

Tendo em vista a onda de boatos envolvendo nossa empresa, informamos aos senhores que não serão admitidas reuniões informais em nossas dependências e que quaisquer informações veiculadas, oralmente ou por escrito, que não sejam oficiais, serão consideradas falta grave passível de advertência e outras sanções.

Prezamos pelo bom ambiente de trabalho e não admitimos prejuízos advindos de comentários infundados.

Sem mais para o momento.”

Ao ler o documento, os funcionários, que estavam com medo de perder o emprego, passaram a ficar também indignados com o que chamaram de censura, opressão, ditadura e coisas do gênero. A situação foi saindo do controle, as vendas caindo, as faltas aumentando, os atestados médicos despencando no RH.

Algumas pessoas mais precavidas, sortudas e bem-relacionadas encontraram outra colocação no mercado e abandonaram o barco. Outras continuavam tentando. Em dois meses a empresa se tornou um lugar psicologicamente insalubre, improdutivo e triste.
Tudo por culpa da rádio-peão.

Uma rádio-peão eficiente surge de uma comunicação interna deficiente. Geralmente desprezada por questões de orçamento e falta de conhecimento estratégico, a comunicação de uma empresa é tão importante quanto sua atividade fim.

Em uma empresa onde há canais internos abertos, troca de e-mails, murais, eventos, reuniões e participação dos colaboradores a chance de um boato maldoso causar impacto é bem menor. É muito melhor investir em um departamento de comunicação permanente que procurar um profissional só para divulgar “coisas importantes” e gerenciar crises. Ou tentar fazer isso por conta própria e de forma leiga, incumbindo um profissional de outra área dessa função tão importante.

Lembrando que a comunicação interna é muito mais que divulgar datas de aniversário e funcionário do mês. Ela precisa estabelecer um diálogo sincero com os colaboradores, porque eles são a empresa e carregam a sua imagem. Mesmo em momentos ruins, é preciso haver transparência nas ações, um vínculo de confiança e respeito.

É uma pena que muitas empresas não enxerguem essa necessidade. É aí que a rádio-peão faz a festa.

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