Veneza - Talvez agora eu faça uma grande revelação para as novas gerações: existia mundo sem computador. Sim, as pessoas conseguiam escrever, publicar jornais com fotografias, fazer filmes, gravar músicas e tudo mais antes de existir essa tecnologia. E digo mais: as pessoas viajavam sem GPS. Olhando no mapa de papel do Guia Quatro Rodas, observando placas nas esquinas e perguntando para os transeuntes locais quando estavam perdidos. Era mais difícil? É inegável. Mas completamente exequível.
É impressionante o quanto emburrecemos com a tecnologia. Ela nos deixa como grande lesmas preguiçosas, deixando que faça tudo por nós. Pego o exemplo específico do GPS. A placa física na rua indica uma coisa, nosso senso natural de direção aponta a mesma coisa, mas se o maldito aparelhinho diz um outro caminho é o suficiente para nos colocar em xeque. Não raro, abdicamos do nosso instinto e da informação analógica pelas maravilhas do mundo digital. Não raro, damos com os burros n´água.
Lembro de um episódio da lendária série The Office (cabe aqui destacar, se você gosta de humor de constrangimento, não deixe de assistir da primeira à última temporada, os caras vão do começo ao fim da história sem perder o fôlego - fato raro em séries televisivas). O chefe Michael Scoott (interpretado por Steve Carell) compra um GPS e está usando o equipamento que se perde e indica para que ele siga para dentro de um lago. Repetindo que o "GPS nunca erra" tal qual um mantra, ele enfia seu carro na água, mesmo tendo toda a visão do mundo real na sua frente - no caso, uma infinidade de lago.
Vivi situação semelhante agora nas férias. Estamos em Veneza - talvez a cidade do mundo que já conheci em que o GPS seja mais necessário. A coisa mais fácil do mundo é se perder naqueles infinitos becos permeados de córregos e rios. E para agravar, o sinal do aparelho falha com facilidade por conta dos paredões de pedra que o circundam.
O GPS estava mais perdido que um irlandês bêbado no dia de São Patrício. Ele indicava um caminho para o hotel que meu senso de direção acreditava ser equivocado. Mas agi como um Michael Scoot.
Crente no lema de que o GPS nunca erra, peguei o caminho apontado pela máquina e só percebi a burrada que fiz quando, depois de 20 minutos de caminhada, cheguei ao mesmo local onde estava anteriormente, embora o GPS apontasse que estávamos onde nos hospedávamos - "Chegada ao destino", repetia a garota de sotaque luso.
A sensação de ter sido feito de trouxa pela tecnologia é pior que ver seu time tomando gol em jogo dentro de casa. Guardei o aparelho no bolso e saquei meu mapa de papel. Como um Marco Polo, desbravei as vielas e becos venezianos e cheguei ao meu hotel.
E nada mais de fé cega no GPS, agora é só pé atrás.
PS: Estou de férias e os textos por aqui estão menos frequentes. Vou postando conforme o sinal de internet der as caras