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Leticia Borges
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Leticia Borges é especialista em Língua Portuguesa, jornalista, professora e palestrante. / leticia.textos@gmail.com

Língua e letra

O Sisu e o ninho vazio

Agora mais filhos vão bater asas | 26.02.15 - 19:11 Goiânia - Por mais que corramos atrás de coisas melhores – um curso, um emprego, uma moradia – mudar a rotina e, principalmente, sair da zona de conforto trazem um certo incômodo. Tanto pelas dificuldades da adaptação quanto pela saudade do que já não existe mais.

A estrutura familiar brasileira, assim como de outros povos latinos, cultua a casa cheia, a mesa farta, a parentada se ajudando (e se azucrinando) o tempo todo. Conheço famílias em que os filhos foram crescendo, casaram, tiveram seus próprios filhos, e continuam morando na mesma quadra, no mesmo bairro. Até no mesmo lote.

Uma família conhecida montou uma empresa e construiu um prédio para todos trabalharem e morarem juntos. É essa nossa noção de família, e com base nisso costumamos superproteger os filhos, proteger o ninho e evitar separações.

Os ingleses e os americanos, diferentemente, já criam seus filhos sabendo que aos 18 anos eles partirão para qualquer outro lugar do país para fazer um curso superior, conseguirão um emprego, um casamento e provavelmente, só voltarão de visita.

Um amigo meu, jornalista admirável, um dia me disse que fez assim com os filhos: criou, educou, instruiu, orientou, e quando completaram 18 anos deu a chave de casa e a liberdade incondicional. Tinha certeza de tê-los preparado para tomar suas próprias decisões.

Pois bem. Sempre houve jovens que saíram de casa para estudar, mas esse não é nosso padrão. Há alguns séculos, as famílias abastadas mandavam seus filhos para estudar na Europa, porque aqui não havia meios. Essa prática foi perdendo espaço à medida que surgiam as universidades brasileiras. Aí as famílias do interior mandavam os filhos para estudar na capital.

A descentralização do ensino propiciou a opção de se estudar na própria cidade, ou na cidade vizinha, evitando a separação e a porcentagem de jovens que deixavam sua casa tão cedo. Agora vem o Sisu para mexer um pouco com as nossas vidas.

Desde que a seleção unificada para uma vaga em universidades federais foi implantada, já vi muitos ex-alunos saindo para estudar em outro estado. Afinal, quando se lança a nota do Enem no sistema, têm-se uma noção das instituições em que o estudante pode conseguir entrar. Dentre as possibilidades, pode-se escolher duas e esperar o resultado.

Esse ano foi minha vez. Agora que passou a euforia pela grande conquista, começam a pesar todos os temores de mãe. Minha filha mais velha, de 17 anos, está arrumando as malas para cursar medicina na Bahia. Enquanto ela americanamente está eufórica por começar uma fase da vida a dois mil quilômetros de distância da família, eu estou latinamente de coração partido.

Por mais que a separação seja por um bom motivo, em um momento feliz, é difícil não sentir aquele aperto esquisito.

Desculpem-me por fugir um pouco do assunto da coluna. Mas é que colunista também é gente. Mãe. E quando se divide a angústia, o coração se acalma.

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