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Pablo Kossa
Pablo Kossa

Jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG / pablokossa@bol.com.br

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Como animar um jantar entre amigos

Receita para acabar com tédio na reuniãozinha | 11.03.15 - 13:38

Goiânia - Na última sexta-feira (6/3), estava em um jantar com dois casais de amigos, no apartamento de um deles. Crianças na sala assistindo desenho depois da mamadeira e esperando o sono bater, adultos à mesa com petiscos e bebidas. O clima não estava dos mais animados. Os papos de sempre entre jovens adultos com filhos pequenos. Mães reclamando das escolas, pais comentando sobre qualidades de cervejas e vinhos. Sim, reuniãozinha de varandinha gourmet. Tudo na conformidade. Tudo para terminar antes da meia-noite. Tudo para o cidadão de bem.
 
O problema é o espírito de porco que habita em mim. Tal qual um talibã, resolvi explodir o conforto. Minha mulher não pode alegar que foi pega desprevenida. No carro, ainda a caminho, eu havia avisado que não iria aguentar uma noite inteira de papo groselha. Noite de sexta é algo muito especial para perdermos com o que não gostamos. Já que o compromisso social me impelia estar ali, ao menos me divertiria. E ela também conhece a pessoa com quem casou há tempos. Sabe no campo minado que está pisando ao meu lado. Joga o jogo de forma consciente. 
 
Ao abrir a terceira garrafa de vinho e com aquele torpor etílico gostoso, ouvi um deles maldizer Dilma Rousseff pegando como gancho a alta do dólar. Era a deixa. Fiz um eloquente discurso defendendo o valor mínimo de R$ 4 para a moeda americana. Tudo no intuito de defender o exportador brasileiro. Disse que Miami é o câncer do consumo tupiniquim. Decretei o fim da "viagem outlet". Falando baixo e de forma comedida, como é meu usual, é claro. Ainda mais quando estou levemente alcoolizado. Os queixos deles caíram. Estupefato geral. Minha mulher baixou de cabeça de vergonha.
 
Na sequência, uma delas citou o petrolão e começou a desancar a Petrobras. Fiz uma defesa da estatal que deixaria Leonel Brizola orgulhoso. Senti-me um legítimo trabalhista de lencinho vermelho no pescoço. A noite agora pegava um caminho divertido. Minha mulher foi para sala assistir Peppa com as crianças. 
 
Eles mal balbuciavam argumentos. Não acreditavam no que ouviam. Um deles virou-se e foi para a cozinha meneando a cabeça de forma negativa. Trouxe outra cerveja especial e disse que vivíamos o pior governo da história do Brasil. Levantei-me da cadeira e disse que ele não conhecia nossa história. Com dedo em riste, pedi o nome de dez ex-presidentes. Ele começou de trás para frente e lembrou-se de Lula, FHC, Collor (esqueceu-se de Itamar Franco), Sarney, JK e Vargas. Parou por aí. Nadei de braçada. Falei que ele não tinha fundamentos para tal crítica. A boca do pessoal espumava. Minha mulher começou a juntar as coisas para ir embora.
 
Peguei uma cerveja na geladeira e me despedi da galera com um sorriso que ligava as orelhas. Educados como são, falaram para marcarmos outro jantar em breve. Para conversarmos mais sobre política, eles tinham esperança de mudar minha opinião. Falei que era só agendar. Eu queria muito ouvir mais. 
 
Desci no elevador com a gostosa sensação de dever cumprido. Temperei a noite com o que melhor sei fazer: causar a discórdia. E trazer animação. O tédio foi para as cucuias. Falei um monte de coisas que nem concordava e me diverti horrores. Sinto pena de quem leva uma noite de sexta tão a sério. Deve ser uma vida chata demais. Azar de quem é assim.

Comentários

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  • 16.03.2015 18:58 Fernando

    Boa...kkkkk

  • 15.03.2015 11:10 Paulo Mulumba

    Vc recebe pra escrever isso?? É por "isso" e tantas outras M... Que a profissão de jornalista (se é que este sabe tudo) não é reconhecida mais.

  • 11.03.2015 21:01 Leandro Mendes

    Pablo, Vamos marcar um jantar em maio. Estarei aí em Goiânia

  • 11.03.2015 20:59 Leandro Mendes

    Pablo, Lembranças de almoços na pamonharia do Campus. Bora discutir a política em maio, quando estarei por aí!

  • 11.03.2015 14:29 Epaminondas

    In vino veritas: Tem gente que basta beber para trazer à tona o babaca que esconde dentro de si.

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