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Sarah Mohn
Sarah Mohn

É jornalista graduada pela UFG e especialista em Comunicação Empresarial e Publicidade Estratégica. Nesta coluna, escreve artigos de opinião / sarahmohn@gmail.com

Meias Verdades

Você não é melhor porque não gosta de sertanejo

Reflexão sobre o preconceito que existe em nós | 09.04.15 - 11:41
 

Goiânia - Há mais ou menos cinco anos escrevi um texto com esse mesmo título e enfoque para um blog que mantinha com um grupo de colegas jornalistas – o Blog da Lista, que Deus o tenha. Hoje, muitas luas depois, resolvi voltar ao tema por perceber que o preconceito sociomusical ainda é uma realidade praticamente inalterada.

Acredito que para quem vive em regiões do país onde o sertanejo está enraizado na história local, como Goiás e o interior de São Paulo, por exemplo, respeitar essa vertente é exercício limitado aos apreciadores desse estilo. É como se existisse uma espécie de movimento separatista, uma linha divisória precisamente delimitada que aparta o universo sertanejo de todos os demais.

De todos os demais, sim. Sejamos honestos. A galera do pop respeita a da MPB, que por sua vez tolera a do rock, que suporta até mesmo os adeptos do brega. Inclusive os convidando para festivais alternativos, como já foi o caso do Vaca Amarela, em 2011, com o cantor Falcão entre as atrações principais; ou do Festival Bananada, por tantas vezes promovendo o tecnobrega da Banda Uó. Até mesmo o funk pancadão ganha respeitabilidade do segmento indie, exemplificada na constante presença do grupo Bonde do Rolê em casas noturnas alternativas daqui de Goiânia. Menos o sertanejo. Reparem.

O sertanejo é o filho pródigo da música. É aquele parente renegado pela família, a ovelha negra do pasto. “Baby, baby, não adianta chamar quando alguém está perdido...”. Lixo cultural. Deixem-no lá, bem longe, quietinho naquele canto. Fiquemos aqui, convencendo-nos da vã existência da criança. Inútil fruto concebido pela parcela de intelecto questionável da sociedade.

Pensam assim vários líderes de segmentos musicais. E quando não se declaram abertamente contrários ao estilo destoante, atestam o preconceito em piadas infames e corriqueiras. Reparem (parte 2). É assim que funciona. A questão é que o maior problema não é a opinião isolada dessas pessoas. É o raio de adesão que o julgamento atinge na rede de relacionamento que elas mantêm. A força que a semente ganha para desabrochar no círculo vicioso da intolerância e na difusão desmedida de pensamento discriminatório desses pequenos grandes mundinhos (nem tão) segmentados.

Intolerância gera intolerância e o chavão está mais que correto. Prega-se por aí o combate à homofobia, a igualdade de direitos entre homens e mulheres, almeja-se o tão sonhado fim do racismo, mas por hora nos abstemos de duelar contra os pequenos preconceitos que nos cercam em todo santo lugar desse mundão. E a intolerância musical é também um tipo de preconceito. Que nos entrega a falsa crença de superioridade, quando deveríamos perceber que nada mais fazemos do que vestir a carapuça de nossa pequenez evolutiva.

Não vou generalizar, mas já cansei de ver fiéis convictos da doutrina antisertaneja cantando repertórios inteiros do Leandro e Leonardo, após algumas doses de qualquer desinibidor alcoólico. E olhe lá os que não se emocionam, ajoelham-se e choram inebriados por comoção momentânea. Pois é. Para os mais reprimidos, deixo uma recomendação: cantar sertanejo, às vezes, é libertador. Desarma o espírito e transcende paradigmas. Vá por mim, faça isso de vez em quando. Mas não sempre, que é para não desrespeitar seu equilíbrio mental. Seria o mesmo que obrigar uma concertista a escutar Gaiola das Popozudas toda noite. Deixa de ser saudável.

Pessoalmente, não curto sertanejo. Afora clássicos do Chitãozinho & Xororó ou do Chrystian & Ralf, que me ajudam a atingir o mais alto grau de fossa quando nela preciso estar, não vejo graça ou beleza na nova geração do aclamado sertanejo universitário. Mas nem por isso eu me acho melhor do que quem curte esse estilo musical. Nem por isso eu empino meu nariz, levanto o queixo, solto aquele suspiro depreciativo e me deixo ser invadida pelo sentimento de superioridade intelectual. Eu não ouço, não me aprazo com isso, mas respeito quem gosta.

Por coincidência, ou não, da vida, abri há uns dias um email, desses esotéricos de autoajuda, e entre tantas previsões psicológicas, análises da energia cíclica mensal e pacotes financeiros promocionais, uma frase me chamou a atenção. “A cada um, seu gosto lhe parece o melhor do mundo”. Sábio conselho, que aqui compartilho. Deveríamos todos aproveitar, que é gratuito.



Um adendo: abra o YouTube, procure por: Evidências + Chitãozinho + Xororó + Sinfônico 40 anos. Depois me diga aqui se você não cantou essa música inteira. ;)
 

Comentários

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  • 28.07.2022 05:24 NUBIA

    Não quero ser melhor do que ninguém pour não escutar sertanejo, até gosto de alguns, muito pouco. Mas realmente eu adoraria não ser obrigada a escutar sertanejo em todo lugar quando vou a Goiänia ver minha familia. Para mim, a radio é tão dificil escutar boa musica hoje em dia, a maioria é comercial pouco importa o estilo, que preferiria que nem houvesse musica, mas enfim, não tenho escolha a não ser tolerar, funk, axé, sertanejo, mas para mim o pior é o sertanejo universitario.

  • 15.04.2015 17:49 Gabriela Essado Cardoso

    Costumo dizer que todos os tipos de musica sempre falam de amor ou sexo.... Seja cada um expressando da sua maneira..... O importante é com cada turma escutar aquela musica e se divertir com isso, respeitando o gosto de cada um!!!! Sim gosto sertanejo e acho que está ridicularizando mesmo, mais amo dançar um forró! Sim amo um samba, um pagode .... Reggae etc... Mais tb gosto de rock..classica...... Só n gosto de metalica... Mais respeito todos os gosto pq?! N me acho melhor do que ninguém....

  • 15.04.2015 12:55 Carlos Stuart

    Você não é melhor porque não gosta de sertanejo, assim como você não seria melhor porque gosta de berinjela...não há preconceito possível em se ter uma preferência... Particularmente, eu detesto seranejo...

  • 14.04.2015 22:38 Joao

    E quando seus amigos de outros Estados contam a piada que termina com dois goianos cornos montando uma dupla sertaneja?

  • 14.04.2015 11:48 Rodrigo Arantes

    Lundu...é donde vem nossa música sertaneja goiana, da roda de dança negra às cordas da rabeca e ao fole do 8 baixos, a fusão que originou estilos como, modão, catíra, etc. Sugiro p/ quem não gosta das sertanejas, ouvir: "Expresso Boiadeiro" com Trio da Vitória, o ápice, totalmente analógica,tem que ter gogó, dedilhado e um sanfoneiro louco como Voninho, hoje, uma banda e o visual... falar o quê, pergunto eu p/ eu mesmo? gostei do seu ponto de vista.

  • 13.04.2015 16:57 Henrique

    Ed Motta não curtiu o texto.

  • 13.04.2015 12:08 Gustavo

    Ta dificil de escrever alguma coisa legal???

  • 11.04.2015 00:20 José Ricardo Eterno

    Ao que parece, no Brasil, chamar os outros de preconceituosos se tornou um argumento.

  • 10.04.2015 10:34 Duílio Jr

    Não gostar de sertanejo é diferente de não gostar de axé ou rock. O sertanejo não é apenas um gênero musical, é hegemonia cultural. Hoje o sertanejo representa a massificação imposta pela indústria. Deve ser combatido, não pela música em si, mas pelo massacre devastador que está matando a possibilidade de aparecer outro tipo de música no país. Qual é o único gênero musical que tem relevância cultural e comercial hoje no Brasil? Quem se habilita a trabalhar com rock? Só se for pra morrer de fome. MPB? Tem uma coisinha aqui e outra ali. Axé? Morreu! (menos na Bahia). Funk? Ainda se ouve no Rio, mas até o Rio, a última barreira contra o sertanejo, não aguentou a pressão da indústria e sucumbiu. Quando o sertanejo voltar a ser apenas mais um gênero musical, igual a tantos outros, poderemos até aprecia-lo, mas por enquanto devemos combatê-lo.

  • 09.04.2015 21:39 João Sorye'l

    Ahhh JURA? Pois essa imagem aqui diz o contrário: https://tj-permalink.static.twijournal.com/2013/05/29/600/564428.jpg

  • 09.04.2015 21:21 Leonor

    Ter opinião é crime? Não gostar de um tipo de música ou um tipo de roupa agora é preconceito ou se sentir melhor do que outro ou intolerância? De onde vocês tiram isso? FAzer um artigo criticando quem critica uma música ridícula? Não podemos ter nossas próprias opiniões? Somos intolerantes por isso? Será que não gostar de sertanejo me faz uma assassina de amantes de sertanejo? Claro que não.

  • 09.04.2015 21:04 Cássia Fernandes

    Sarah,sou de origem rural e gosto do sertanejo de raiz ou do chamado caipira. Cresci ouvindo essas canções e que me trazem muitas recordações. Há belas letras, com rimas ricas que contam lindas histórias . No entanto, não gosto do sertanejo universitário, do que predomina no mercado e procuro sim difundir, não um preconceito, mas um conceito já formado a respeito desse tipo de música. Trata-se, portanto, não de uma simples questão de gosto, mas de reflexão. São melodias pobres, são letras que fazem apologia ao que há de pior na sociedade: ao machismo, à deslealde (leia-se maior do que infidelidade), ao alcoolismo e até mesmo à difusão de vídeos íntimos particulares, como fez recentemente mais uma dessas duplas que querem obter fama a qualquer custo. Não se trata, portanto, de julgar melhor o próprio gosto, mas de refletir criticamente. Além do mais, se alguém sofre preconceito nesse país,não , não são os sertanejos universitários e seus apreciadores. São sim os que gostam de outras músicas que não os gêneros que tocam nas rádios e que prevalecem no mercado. Nós somos a minoria discriminada. :) A música alternativa, a literatura, as artes, essas sim sofrem preconceito. Até a figura do intelectual é vista pejorativamente em um país em que não se valorizam a educação e a cultura. Qualquer um que se proponha a refletir é chamado de pseudo-intelectual.Por isso, acho que combater o que é hegemônico, produto da indústria do entretenimento, e massacra as outras formas de expressão é sim "combater o bom combate". De resto, acrescento que seus textos que sempre tocam em pontos polêmicos contribuem para uma boa discussão.

  • 09.04.2015 19:56 Wanessa

    Preconceito esse que para muitos é o de menos, mas mostra o quanto o mundo ainda precisa aprender sobre respeito. Como bem disse Tião Carreiro, no bom sertanejo, "a coisa tá preta".

  • 09.04.2015 16:29 ana

    onde vc vive minha santa? Antes de um texto desse, argumente-se sobre a raiz sertaneja neném e o cenário de nossa cidade criatura. Tá com pouco argumento

  • 09.04.2015 13:46 Leopoldina

    Acho que você anda com muitos alcoólatras.

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