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Rodrigo  Hirose
Rodrigo Hirose

Jornalista com especialização em Comunicação e Multimídia / rodrigohirose@gmail.com

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O mundo anda tão complicado

| 29.05.15 - 12:00

Goiânia - Quando era menino, minha mãe mandava que eu fosse ao mercadinho da vizinhança comprar Bombril e Q-Boa. Não sei exatamente em qual período da minha existência ocorreu a ruptura, mas deve ter sido lá pelo final dos anos 1980 que percebi que nem todo Bombril era Bombril e nem toda Q-Boa era Q-Boa. Em algum momento ficou claro que havia a palha de aço e a água sanitária. Acho que foi mais ou menos nessa época que percebi que fazer escolhas ia ficando cada vez mais difícil.
 
Creio que a coisa degringolou de vez por causa de um certo “caçador de Marajás”, que botou na cabeça que as coisas por aqui eram muito simples e resolveu escancarar as portas do Brasil para o mundo. De repente, a simples tarefa de comprar uma “pasta de dente” se transformou. Aliás, esse produto tão trivial agora era “creme dental” e definir pelo sabor de menta ou hortelã (que até hoje tenho a impressão de que são as mesmas coisas) não bastava. Era preciso saber se o ideal era o Whitenin, o Clean, o Explosion, o Xtra Mint, o Mentol Impact, o Fesh Ice e mais um montão de coisas... Mais ou menos ao mesmo tempo as escovas de dente começaram a ter cerdas mais longas, mais curtas, mais compactas; o cabo foi ficando mais longo, torto para a esquerda, para a direita, para frente...
 
Dia desses me vi perdido entre as gôndolas da farmácia. Minha mulher pediu que eu comprasse um absorvente para ela. Havia tantas variações (com abas, sem abas, seda sec, noites tranquilas, cobertura seca e o escambau) e embalagens coloridas que, lógico, tive de ligar para ela para perguntar qual deveria levar para casa. Lembrei-me de quando minha mãe me mandava comprar um pacote de Modess e ponto final.
 
Vagando pelo Facebook, sempre ele, vi o post de um amigo confuso entre as duzentas e cinquenta cores berrantes para tênis de corrida. E tem mais: tem com o Cruzader, Resolute, Elevation, Creation... Descobriram até que é preciso saber o “tipo de pisada”. Tente encontrar a chuteira que transformará seu filho no novo Neymar e consiga escapar da nostalgia do Kichute...
 
Até para comprar um carro a coisa está cada vez mais difícil – e não estou falando apenas da questão financeira, que hoje parece ser o menor dos problemas, pois há financiamentos a perder de vista (eita, expressãozinha velha!). Quando era menino, as pessoas que tinham dinheiro para andar de carro tinham um Fusca, uma Brasília ou (sonho, dos sonhos!) um Chevette. Vá até qualquer concessionária, já com o modelo na cabeça, e logo terá a cabeça embaralhada pelo vendedor. São tantas versões, geralmente identificadas por combinações de letras e números, que entre a mais simples e a mais completa haverá o preço de um outro carro da mesma marca.
 
Lojas de produtos eletrônicos são especialmente traumatizantes. Há televisões de LED, plasma, Oled, HD, FullHD, 4K, 3D, tela curva, tela plana... opções avançadíssimas que não mudarão nada a porcaria da programação da TV aberta aos domingos. Chegue ao departamento de telefones celulares e tente entender as diferenças entre um modelo e outro... Depois de um esforço hercúleo para escolher o seu, é hora de deparar-se com as dezenas de opções de planos nas operadoras, explicados naquele linguajar intraduzível cheio de megas, gigas, minutos, franquias, infinities, combos...
 
Há o lado bom nisso. Nunca o consumidor teve tantas alternativas para optar por soluções praticamente personalizadas de tudo. Mas não dá para não ter a sensação de que muito disso não passa de efeito de um raio gourmetizador qualquer.
 
Ah!, saudades do tempo em que a falta de variedade tornava as decisões muito mais descomplicadas. Acho que estou ficando velho.

Comentários

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  • 29.05.2015 13:48 Clarice

    Bom, prefiro um excesso de opções do que uma restrição.Como já estamos na antessala da Venezuela, é bom ficarmos atentos aos riscos. Mas mesmo com um grande mix de produtos à nossa disposição, o poder de compra do brasileiro só cai, diferente dos anos 80, quando a fartura era muita, embora o mix tenha sido muito menor. Todos ficamos velhos.

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