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Cássia Fernandes
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Cássia Fernandes é jornalista e escritora / lcassiaf@gmail.com

Alinhavos

Quando as mulheres se acobertam

Um conto feminino surpresa | 20.06.15 - 15:05 Quando as mulheres se acobertam (Foto: reprodução/prophotos-ru.livejournal.com)
Rebeca e Juliana no WhatsApp.
“Viram Alfredo entrando ontem num motel. Veja a foto. Dá pra ler a placa.”
“kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk”
“E você ri? Está doida? Não vai pedir a separação?”
“Vou não.”
“Vai me dizer que estava com ele, como naquele conto do Luís Fernando Veríssimo?”
“Estava não.”
“Rebeca, você é louca. Ou muito civilizada.”
 
*****
Roberto e Alfredo no WhatsApp.
“Cara, te viram ontem entrando no motel? Tá pegando todas, hem?”
“De que você tá falando?” 
“Ué. Seu carro, placa K... Veja a foto. Tá circulando. Só avisei pra você ficar esperto. Vai que chega até sua mulher.”
“Rebeca me paga!”
“Foi mal, cara. É que eu pensei que... Não vá fazer besteira!”
 
*****
Alfredo e Rebeca no WhatsApp.
“Veja essa foto. O que você tem pra me contar?”
“Emprestei o carro pra Silvana.”
“Acha que sou idiota? Quando voltei de viagem, você estava estranha. Os olhos pintados, batom vermelho. E essa sacola que achei no porta-malas?”
“Tudo dela. Deve ter esquecido lá.”
 
*****
Tocaram a campainha no apartamento de Silvana.  Alfredo esvaziou o conteúdo da sacola no chão da sala.
“É sua essa merda toda?”
“Sim.”
“Você pegou meu carro emprestado com Rebeca ontem pra ir ao motel?”
“Peguei. Não queria ir com o meu. Medo que alguém visse e contasse a Roberto.”
“Alguém é corno nessa história. Ou os dois. Vamos terminar essa conversa lá em casa, Rebeca.”
 
*****
Alfredo e Roberto no WhatsApp.
“Havia uma sacola com lingerie de sua mulher no porta-malas do meu carro. Ela disse que pegou emprestado com Rebeca para ir ao motel.”
“Uma das duas está mentindo, cara.”
“Ou as duas. As mulheres se acobertam. Vão juntas até ao banheiro. Não vou ser corno manso. Estou saindo de casa. Você deveria fazer o mesmo. Mas não faça besteira.”
 
*****
Rebeca e Silvana no WhatsApp.
“Obrigada pelas lingeries.”
“De nada.”
 “Alfredo jogou tudo daquele jeito. Nem deu pra lavar a calcinha fio dental. Desculpe.”
“Relaxa.”
“Adorei o robe de renda vermelha. Foi o melhor look.”
“Aquele arrasa.”
 “Estou com as costas doendo de tanto arrebitar a bunda. Você tinha razão. Nunca imaginei que pudesse ter uma bunda tão grande e tão bonita.”
“Funciona. Mas estou preocupada. Você não deveria ter usado o carro dele para ir ao motel.”
“O meu é amarelo. Qualquer um iria reconhecer. Como ia imaginar que alguém reconheceria a placa do carro dele? É muito azar.”
“Esse tipo de coisa sempre acontece quando a gente faz algo escondido”.
“Alfredo não entendeu. Saiu de casa. Foi pra casa da mãe. Mas obrigada por ser meu álibi.”
“E você não contou a verdade?”
“Não posso. Vai estragar a surpresa.”
“Você está louca? Vai perder o marido.”
“Fica pronto em três dias.”
“Não espere tanto. Ligue pra ela. Peça pra agilizar.”
“Mas e a viagem? A gente vai viajar e eu queria fazer a surpresa, afinal são dez anos de casamento. Posso comprar de você o vudu transparente? Acho que ele vai gostar.”
“Vudu?”
“Vudu, não. Digitei errado. Essa bosta de corretor. Body.”
“kkkkkkkkkkkkk. Fica com o vudu, digo, body. Compro outro e depois você me paga.”
“Valeu.”
“Mas você acredita mesmo que ele vá querer viajar depois de tudo?”
“Não sei.”
“Ligue pra ela agora. Você não conhece os homens? Não dê a eles um minuto pra pensar, que fazem besteira.”
“Mas e se ele contar pra Roberto? Desculpe por te envolver nessa história.”
“Não esquenta. Para isso servem as amigas. Com Roberto me entendo. Vou esperá-lo voltar do trabalho com o robe de renda vermelha, sem nada sob.” 
“Você é louca.”
 
*****
 Rebeca e Alfredo no WhatsApp.
“Venha aqui hoje à noite. Precisamos conversar. Vou te contar toda a verdade.”
“O que quer que seja, Rebeca, acabou pra gente. E não quero discutir com você na frente das crianças. Sua sorte é que sou um homem civilizado.”
“Eu vou deixar os meninos na casa da mamãe.”
“Deixe na casa da sua mãe, não com Silvana, aquela alcoviteira.”
 
*****
Quando Alfredo entrou no apartamento havia velas e vinho na sala.
“Se você pensa que vai me fazer ficar assim com essa sedução barata, está muito enganada.” – falou alto, enquanto se sentava no sofá, esperando Rebeca sair do quarto para a audiência final. Apanhou a revista sobre a mesinha de centro. Havia uma dedicatória na capa. E a capa era ela.
“Eis o que eu estava fazendo no motel. Te amo. Rebeca.”
Devorou avidamente as trinta páginas. Passou a raiva. Foi até o quarto. Rebeca o esperava deitada na cama com o vudu transparente.
“Mulher, você é louca.”
“Vamos ter que mostrar a revista a Roberto. Ele rasgou o robe de Silvana. Saiu de casa. Não acreditou nela. Acha que eu a acoberto.”
 

Comentários

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  • 26.06.2015 09:30 luiz augusto

    Cássia, Mais uma vez você nos surpreende deliciosamente com essa narrativa rica dos segredos e encantos feminimos. A maneira como você trabalha as palavras nos coloca como personagens desses contos empolgantes que nos geram sempre a expectativa de querer mais e mais.Você continua nos devendo uma história maior.Um livro.Um romance recheado dessas sutilezas que você nos revela e que até nos leva a confrontar o machismo que ainda alimentamos.Como sempre,somos vencidos pelo amor que devotamos às mulheres.E você nos ajuda muto nisso.Mas quem mandou eu ser apaixonado pelo que você escreve e por você mesma?

  • 26.06.2015 09:25 luiz augusto

    Querida Cássia; A sutileza do seu texto continua me surpreendendo.Cada vez me convenço mias de que você nos deve uma história mais longa e mais complexa,carregada desses ingredientes fantásticos e deliciosamente desconcertantes com que você nos conta essas histórias.E confesso,me enredei tanto nesses dialógos que me ví personagem do relato.Felizmente,foi só o efeito das palavras.Continue a nos brindar com tanto talento.Te amo.

  • 22.06.2015 07:52 Msamsa

    Sei não, estou desconfiado de que essas duas estão levando os maridos no bico. O que elas querem é armar um swing. Ri muito do corretor automático maluco, pareceu-me familiar. :-)

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