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Hipocrisia achar que proibição acaba com jogo

| 01.03.12 - 10:43

 

Quando vi ontem o espalhafato envolvendo a prisão de Carlinhos Cachoeira, um tédio gigantesco se avolumou sobre minha existência: agora serão semanas com esse assunto nos entupindo em tudo quanto é canto. E nem foi esse o motivo maior do enfado. Na verdade, o que dá desânimo concreto é a certeza de que o esforço de conter a jogatina é completamente inócuo. Uma força empreendida cujo resultado será tão estéril quanto ao deserto do Saara.

Carlinhos Cachoeira é só um cara que sacou que existia uma demanda reprimida por um serviço que, por circunstância históricas (e completamente anacrônicas), é proibido. Simples assim. E quando tem gente querendo consumir algo que o Estado não regula, é mais que óbvio que as máfias surgirão. É também assim com as drogas. Foi assim na Lei Seca dos EUA. Grana rolando sem controle do Estado gera bandidagem. Simples assim. E todo mundo sabe o modus operandi de uma máfia: extorsão, propina, guerra por mercados, intimidação... Simples assim. Carlinhos Cachoeira está em casa e já existem uns dez se acotovelando (mais puro eufemismo, pois as armas das máfias não são os cotovelos e você sabe quais são) para ocupar seu espaço. Simples assim. Dessa sequência de conclusões simples assim é que surge meu tédio ao ler esse tipo de notícia.

Na real, o grande problema é a hipocrisia generalizada da sociedade. Acredita-se que proibindo irão resolver práticas que envolvem questões muito mais complexas e amplas que uma simples lei no papel. Proibimos o jogo, mas fazemos vista grossa para as barraquinhas do bicho – frequentadas por pobres – e as casas de jogatina de pôquer e apostas – frequentada por barões de alta estirpe. Queira a Igreja ou não, queira a família ou não, queira o Estado ou não, as pessoas vão continuar jogando. Assim como vão continuar usando drogas, praticando o aborto e tendo relações sexuais antes, durante e depois do casamento – muitas vezes não com o parceiro de relacionamento. Negar isso é simplesmente negar a realidade.

O racional é trazer para a legalidade a prática e ter mecanismos de controle para mitigar os efeitos colaterais. Ou seja, devemos estar preparados para lidar e dar suporte para aqueles que venham a delinquir por conta de um descontrole no vício. No caso, o da jogatina. Uma rede de proteção para aqueles que erram na dose.

Pessoalmente, não sinto afeição nenhuma por jogos. Não aposto nenhuma moedinha na sinuca. Se começa papo de aposta, caio fora na hora. Não me emociona, não me seduz, não me interessa aquele risco envolvendo a grana e o jogo. Mas não é por que não gosto que devo negar o direito daqueles que querem torrar seu orçamento com isso. Uns gastam com jogos, outros com chocolate, outros com fé – hábitos que se não forem usados com moderação podem gerar sérios transtornos de toda ordem.

Carlinhos Cachoeira é só uma peça facilmente substituível na engrenagem da máfia do jogo. Enquanto tiver gente disposta a pagar pelo serviço, teremos gente disposta a correr o risco e enfrentar a lei. Não enxergar isso é mais que miopia. Ou é calhordice, ou é burrice.


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