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Declieux Crispim
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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

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Terror nas Trevas

| 20.11.17 - 08:37 Terror nas Trevas (Foto: Divulgação)
Goiânia - A dissolução de qualquer tentativa de se estabelecer um roteiro cimentado pela lógica, ou pelo real, é levado às últimas consequências em Terror nas Trevas (1981), um corpo estranho na filmografia de Lucio Fulci, mas ao mesmo tempo fulciano ao extremo. A liberdade artística com a qual o diretor italiano tece sua obra é um deslumbre imerso em todo o seu onirismo e corrobora sua faculdade de ser um dos maiores nomes do cinema fantástico italiano das décadas de 1970 e 1980. Qualquer coerência é subitamente dilacerada em prol de sua marca, de sua assinatura, o que demonstra uma destreza impressionante na arte de expandir fronteiras que transitam à beira da loucura.
 
A introdução envolta em uma fotografia belíssima em tons de sépia remete a uma época de um passado longínquo, precisamente na Lousiana no ano de 1927. Em um hotel simples, uma moçoila encontra um livro contendo as profecias de Eibon, escrita há milhares de anos. O conteúdo deste versa sobre os sete portões do inferno, que, após abertos, como uma espécie de caixa de pandora, liberará o mal sobre a Terra.
 
Enquanto a garota se depara com a leitura deste livro, um pintor que trabalha em uma de suas telas, que está presente em uma das profecias de Eibon, recebe uma visita indesejada de aldeões. Enfurecidos com o trabalho do pintor sob a acusação de feitiçaria, eles o torturam, enquanto este brada que o hotel foi construído sobre uma das portas do inferno e que se o matarem não haverá modo de conter o mal que paira naquele ambiente. Esta é a deixa para Fulci demonstrar sua capacidade de utilizar a violência gráfica em um plano impressionante com o pintor sendo emparedado e toda a crueldade dos aldeões que inserem pregos nas mãos e corroem sua face embebida em solução cáustica de cal.
 
Passadas algumas décadas, a jovem Liza Merril (Catriona MacColl) herda o velho hotel e decide por reformá-lo objetivando vender a propriedade, mas uma obra no porão do hotel é suficiente para abrir uma das sete portas do inferno, instalando-se o horror. Enquanto dialoga com o amigo Martin sobre a restauração do local, é surpreendida com um dos trabalhadores caindo do andaime e partindo a cabeça. Isto representa somente o princípio, a falta de coerência é a tônica da película de Fulci, e que acaba por se imiscuir em um roteiro surreal em que ocorrem ataques de animais, como no caso em que aranhas comem o rosto de um dos personagens, um cão que arranca a jugular de uma das personagens, vísceras expostas, olhos sendo arrancados e zumbis para fechar o ciclo de Fulci, o que gera um dos filmes mais horripilantes de que se tem notícia.
 
As sequências regadas a muita violência gráfica comprovam o motivo do diretor ser considerado o pai do gore. O talento e a audácia de seu diretor são uma fonte inesgotável para eclipsar a ausência de lógica do roteiro e ressaltar o vigor da imagem. Não há uma coesão ou lógica, os personagens abrem uma porta e, de repente, encontram-se em outro lugar, explorando ao máximo o sobrenatural. Qualquer amarra é suplantada pelo diretor em um período de rara fertilidade em todo o seu surrealismo, mais ou menos como se fosse um pesadelo de Buñuel, sem explicações ou sem ser didático. Tal qual o Overlook Hotel, de Stanley Kubrick, a atmosfera e a escrita de Fulci ganham vida própria.

Comentários

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  • 20.11.2017 22:42 Siby13

    Boa noite amigo, como sempre um texto empolgante. Eu adoro cinema italiano. Também esses filmes de terror. Este não vi, deve ser terrível mesmo. Obrigada pela dica.

  • 20.11.2017 21:20 Flávia

    Parabéns!!!!! Excelente como sempre!!

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