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Declieux Crispim
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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

Cine Qua Non

Lição de Amor

| 29.01.18 - 09:08 Lição de Amor (Foto: Divulgação)
Goiânia - De um bate-papo em um grupo de cinéfilos surgiu o tema referente aos melhores diretores brasileiros que ainda estão vivos. Os primeiros que vieram à tona foram Nélson Pereira dos Santos, Júlio Bressane e José Mojica Marins. Para fechar um quinteto a dificuldade foi evidente e reforçada pelas mortes há não muito de Eduardo Coutinho e Paulo César Saraceni, definitivamente dois craques de nosso cinema. Eduardo Escorel e Carlos Alberto Prates Correia foram dois nomes aventados e uma lacuna até então para mim. Posteriormente, recordei-me de Ivan Cardoso.
 
Escorel iniciou sua carreira como assistente de direção em O Padre e a Moça (1965), do essencial Joaquim Pedro de Andrade. Atuou ainda como montador em obras emblemáticas de nosso cinema como Terra em Transe, O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, Macunaíma, São Bernardo, Guerra Conjugal e Cabra Marcado para Morrer, enfim trabalhou com alguns dos nomes mais importantes do cinema brasileiro o que o possibilitou a se aventurar pela direção. Após a conversa, fiquei tentado a conhecer o seu cinema e me deparei com Lição de Amor (1975), após indicação do escritor Filipe Chamy.
 
A escolha não poderia ser mais certeira, e o encantamento em relação à obra foi quase que instantâneo. A atmosfera khouriana permeia a obra que se trata de uma adaptação do romance Amar, Verbo Intransitivo, do escritor Mário de Andrade. A presença da deslumbrante Lílian Lemmertz me remete ainda mais ao grande Walter Hugo Khouri. A trilha sonora de Francis Hime ecoa Khouri também.
 
Escorel dirige com parcimônia esboçando uma crítica social e delineando muito bem os personagens por meio de silêncios, olhares, sorrisos, elementos que traduzem o emocional de cada um, principalmente na relação entre Carlos (Marcos Taquechel) e Elza (Irene Ravache) que representa o cerne da narrativa. A película apresenta Felisberto (Rogério Froes), um pai de uma típica família abastada e burguesa paulista da década de 20. Ele opta por contratar os serviços de Elza Fräulein, uma alemã de trinta e cinco anos e retirante de sua pátria após os estilhaços decorrentes da primeira guerra mundial. 
 
Elza ou simplesmente Fräulein tem a missão de ministrar aulas de alemão e de piano para os seus quatro filhos, incluindo Carlos, o mais velho, cuja obrigação transcende estes requisitos contemplando ainda sua iniciação sexual. A justificativa adotada pelo pai se deve ao seu temor por mulheres aventureiras, exploradoras e viciadas. No princípio, há um distanciamento entre Carlos e Elza, mas à medida que as lições de alemão e piano se tornam frequentes, uma ligação entre ambos se acentua demonstrando o poder de sedução feminino.
 
Laura, a mãe de Carlos, percebe o envolvimento com a governanta e decide por exonerá-lo do cargo. Felisberto havia omitido à esposa o propósito de iniciação sexual do filho. Fräulein esclarece de modo tão espontâneo o escopo de sua atividade posteriormente a uma conversa com o marido, a mãe concorda que as lições sejam mantidas. A composição fílmica com movimentos elegantes de câmera e uma belíssima fotografia promovem momentos inesquecíveis em meio ao bucolismo inerente àquela casa e seu portentoso jardim embalados por uma canção emocionante. Nem mesmo a atuação mediana de Marcos Taquechel arranha o filme e aquele final em que Fräulein parte enquanto ele a observa pela janela é de partir o coração.
  
 

Comentários

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  • 29.01.2018 15:37 Flávia Bosso

    Leitura MARAVILHOSA toda segunda!!! Parabéns, Declieux Crispim, excelente como sempre!!!!!!

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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

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